Perspectivas suíças em 10 idiomas

Suíça tem papel na nova revolução russa

Os dois ministros suíços (centro) com o presidente russo Dmitri Medwedew (esq.) Keystone

A Suíça colabora estreitamente no esforço da Rússia de melhorar sua infraestrutura econômica, mas desmantelar a pesada burocracia do país pode levar um bom tempo.

O ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, assinou na última quarta-feira (13/07) um acordo com seu homólogo russo, Elvira Nabiullina, prometendo a cooperação helvética ao programa de modernização.

A declaração reforça um plano de ação já existente, que no ano passado foi prorrogado até 2013. Ele oferece técnica e experiência suíça nas áreas industriais e de pesquisa para apoiar o processo de modernização da infraestrutura e da economia da Rússia.

“Estou seguro que a Suíça, com sua moderna estrutura econômica, seu potencial de know-how inovador e produtos de alta tecnologia, podem ser um interessante parceiro para a Rússia no processo de realização dos seus ambiciosos esforços de modernização”, declarou Schneider-Ammann na Câmara de Comércio de Moscou durante a visita oficial de quatro dias à Rússia.

Após a cerimônia de assinatura, ele ainda afirmou que cabe agora às empresas encontrar parceiros e conseguir entrar no mercado russo. O ministro ressaltou também que essa cooperação irá ajudar a preservar empregos na Suíça. 

Objetivos 

A Suíça está concentrada nos esforços em prol das reformas econômicas, evitando ao mesmo tempo qualquer forma de interferência política. Em termos concretos, eles serão realizados através de visitas de delegações comerciais e a participação do parque tecnológico de Zurique “Technopark” e do Instituto Federal de Tecnologia em Skolkovo no parque industrial de alta tecnologia a ser construído nas cercanias de Moscou.

Mas também é evidente que os esforços internacionais, coordenados pela Suíça, para conseguir a adesão da Rússia à Organização Internacional do Comercio (OMC), em Genegra, é importante para Rússia. As negociações do governo russo com a organização começaram há vinte anos sem uma conclusão imediata à vista.

Schneider-Ammann descreve a estratégia econômica helvética no exterior como a inclusão de mandatos para encorajar internacionalmente o reconhecimento das regras comerciais e de “integrar o maior numero possível de países à economia global.”

A adesão da Rússia à OMC depende parcialmente da rejeição de medidas protecionistas que favorecem as indústrias domésticas, uma reforma que iria ajudar companhias suíças a entrar no seu mercado.

Tal medida também iria colaborar a selar um acordo de livre comércio (FTA, na sigla em inglês), que está sendo atualmente negociado entre os países da Associação Europeia de Livre Comércio — AELC (em inglês: European Free Trade Association, abreviado EFTA), entre eles a Suíça, e a União Alfandegária entre a Rússia, Bielorrússia e o Cazaquistão.

O acordo de livre comércio e a adesão da Rússia à OMC estão, portanto, intimamente ligadas entre si, apesar de um não depender da outra.

Apoio russo 

A Suíça também solicita o apoio russo ao seu desejo de continuar como membro permanente da diretoria executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI). Através da sua cadeira, a Suíça representa os interesses de países da Ásia Central que faziam parte da antiga União Soviética.

Schneider-Ammann também solicitou adicionalmente à Rússia de incluir a Suíça nas deliberações tomadas durante os encontros do G20, o grupo que une as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia.

A Rússia presidirá o G20 em 2013, o ministro suíço deseja uma maior presença da Suíça nas suas decisões. 

“Se não podemos estar presentes à mesa de negociações durante o encontro, pelo menos a Suíça poderia ter alguma influência durante a fase de preparação”, declarou aos jornalistas.

As questões são de tal importância para a Suíça, que a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey – a presidente da Confederação Helvética em 2011 – juntou-se a Schneider-Ammann durante a semana para participar do encontro com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev.

Os dois presidentes estavam presentes na cerimônia de assinatura do acordo de cooperação.

Calmy-Rey declarou que as relações entre a Suíça e a Rússia eram “excelentes” e elogiou os progressos alcançados na cooperação mútua. Há potencial para um maior desenvolvimento nos setores de finanças, tecnologia e energia, afirmou.

As conversações também abordaram a situação no sul da região do Cáucaso, onde a Suíça detém um mandato especial de representar os interesses da Rússia e da Geórgia, em conflito.

Programa de reformas 

Sob a presidência de Medvedev, a Rússia embarcou em um massivo programa de reformas para modernizar a infraestrutura energética, remodelar sua economia para ser menos dependente de óleo e gás e introduzir reformas políticas para reforçar a democracia, através da redução da intervenção do Estado na economia.

Mas o plano é visto com certa desconfiança, tanto dentro da Rússia como fora das suas fronteiras, pois exige das elites políticas de abdicar sua parte no poder e, consequentemente, das riquezas que esse poder gera.

“A influência do governo aumentou dramaticamente nos últimos dez anos em todos os setores”, afirmou Vladimir Kuznetsov, uma figura-chave no conglomerado russo Renova e membro do conselho administrativo da empresa suíça Sulzer.

“Neste momento existe um entendimento no topo do sistema político russo em que esse seria um processo que está se tornando contraprodutivo para a eficiência, abertura da economia e na luta contra a corrupção.”

“A realidade é que diminuir o papel do governo na economia não pode ocorrer de um dia para o outro, pois estamos falando de uma grande máquina com vida própria.”

Após o encontro com ministros do governo russo durante sua visita à Moscou, Schneider-Ammann também reconheceu que as reformas não serão fáceis de serem realizadas.

“Os ministros que encontrei estão bem cientes desses problemas”, afirmou aos jornalistas durante a visita oficial que terminou na quarta-feira. “Mas a solução desses problemas irão envolver um longo processo.”

O ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, viajou à Rússia com uma delegação formada por vinte representantes do empresariado helvético. O programa durou quatro dias (10 a 13 de julho).

Dentre outros, Schneider-Ammann teve encontros com o primeiro-ministro russo, Alexander Zhukov, e o ministro russo da Indústria e Comércio, Viktor Khristenko.

As trocas comerciais entre a Suíça e a Rússia aumentaram depois da crise econômica.

Em 2010, as importações da Rússia (1 bilhão de francos, +41% em relação ao ano anterior) e as exportações para a Rússia (2,6 bilhões de francos, +26% comparadas ao ano anterior) vem crescendo constantemente.

O volume de investimentos diretos suíços na Rússia totalizam 6,2 bilhões de francos no final de 2009 (2008: 5,3 bilhões)

As empresas suíças empregam cerca de 75 mil pessoas na Rússia.

Adaptação: Alexander Thoele

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR