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Disparo das taxas de manutenção leva expatriados a fecharem contas na Suíça

As taxas de serviço subiram muito e suíços de Portugal fecham suas contas na Suíça. Keystone

Os expatriados suíços que vivem em Portugal queixam-se das taxas de manutenção que os bancos lhes estão a cobrar pelas contas que possuem no país natal. Os aumentos verificados nos últimos anos levaram muitos a encerrarem as contas, perdendo o que consideravam um vínculo à Confederação Helvética.

Apesar de todos se queixarem deste problema, poucos são os que aceitam dar uma entrevista sobre este tema. Na Área Metropolitana do Porto, swissinfo.ch falou com duas cidadãs suíças, que há dezenas de anos vivem em Portugal, mas nenhuma quis dar a cara. Uma delas já encerrou a conta na Suíça, bem como as dos três filhos. A outra mantém uma conta, para não perder uma ligação simbólica com o seu país.

É com “muito desgosto” e revolta que Silvia T. nos conta que, há dois anos, encerrou a sua conta bancária na Suíça, que tinha aberto muito antes de pensar em emigrar. “Fechei quando subiram muito as taxas. Estava a pagar quase 400 francos suíços por ano e os juros eram praticamente zero. Só tinha prejuízo e não valia a pena pela verba que tinha depositada fazer este esforço”, diz, acrescentando que transferiu o dinheiro para Portugal, onde “os juros até são mais altos”.

Mas para Silvia, encerrar a conta não é apenas uma questão de números: “É uma tristeza que não tem bem a ver com o dinheiro que se ganha ou que se perde… Tem a ver com a tristeza de que nós não temos mais uma conta no nosso país. É isso que dói!”

Doeu-lhe ainda mais fechar as contas dos três filhos, que tinham sido abertas pelos “avós suíços” quando eles nasceram: “Há uma certa tradição de abrir contas para as crianças, para as ensinar a poupar. Isso faz parte da nossa cultura. Os meus pais abriram-lhes as contas e foram depositando lá dinheiro para o futuro deles”. O valor sentimental não resistiu às elevadas taxas de manutenção: “As contas dos meus filhos foram fechadas, porque eles não tinham dinheiro suficiente para sustentar durante muito tempo essas taxas”.

Transtornos

O encerramento da sua conta pessoal mudou a rotina das muitas viagens de Silvia à Suíça. Agora, tem de fazer como qualquer cidadão estrangeiro e cambiar a moeda. Mas o que mais a preocupa é como vai fazer para receber a sua reforma da Suíça, quando deixar de trabalhar: “Vou ter de arranjar uma solução se entretanto não voltar para a Suíça”.

Esta professora chegou a queixar-se das altas taxas de manutenção ao banco, cujo nome prefere não revelar, que lhe explicou a razão dos aumentos: “Disseram-me que as coisas se complicaram imenso com os escândalos que tinha havido nos Estados Unidos e que realmente não lhes compensava ter contas de suíços no estrangeiro, porque elas têm pouco dinheiro e poucos movimentos. Só davam trabalho.” Silvia compreendeu então que “o aumento sucessivo das taxas foi a forma que encontraram para se livrar dos clientes”, porque “não querem mais dinheiro estrangeiro, devido a estas confusões todas: fugas de capitais, fugas ao fisco…” 

Muitos bancos suíços ainda estão envolvidos em questões legais relacionadas com a evasão fiscal nos Estados Unidos. Vários estão a ser investigados criminalmente, enquanto mais de cem estão a braços com sanções financeiras que resultaram de um programa de não-acusação acertado entre as autoridades suíças e norte-americanas, que lhes permitiu evitar processos judiciais em troca de informação sobre as suas actividades nos Estados Unidos.

Apesar das explicações, a emigrante suíça não se conforma: “Acho que devia ser possível arranjar uma excepção para quem quer continuar a ter uma conta no seu país, até porque as pessoas podem voltar, mas eles não mostram muita abertura. Neste momento não estão mesmo interessados.”

Silvia lembra que o governo, “que não tem nada a ver com os bancos”, tentou arranjar uma alternativa para os expatriados suíços através do banco dos correios, o PostFinance, mas recorda também que para abrir uma conta nesta instituição há que ir lá pessoalmente: “Há pessoas que vivem na América do Sul ou na China e outras que são idosas, pelo que não podem ir à Suíça abrir uma conta”.

 “É algo simbólico”

Ao contrário de Silvia, Maria, que também reside em Portugal há muitos anos, continua a ter uma conta na Suíça, no Zürcher Kantonalbank, que lhe custa 240 francos suíços por ano. Explica-nos que só ainda não a fechou porque “é algo simbólico, uma ligação com a Suíça”, mas também “por preguiça”.

“Não me faria falta. Não tenho contas para pagar na Suíça”, realça, embora admita que a conta lhe faz jeito para poder efectuar levantamentos em francos quando visita o país natal.

“Se tivéssemos cem mil francos na conta seria diferente, mas com dois ou três mil não somos interessantes como clientes”, atira, embora compreenda que os bancos têm cada vez mais trabalho e consequentemente mais custos.

Tal como muitos outros expatriados suíços descontentes com o aumento acentuado das taxas de manutenção, Maria e uma amiga chegaram a escrever uma carta ao banco, queixando-se da situação. E o governo suíço não deveria intervir? “É uma coisa entre cliente e banco”, conclui. 

Os bancos dizem que os requisitos administrativos para expatriados têm vindo a aumentar, elevando, por isso, as taxas de manutenção. Desde os atentados de 11 de Setembro, foram introduzidas novas leis para combater o terrorismo e a lavagem de dinheiro, o que veio aumentar a burocracia necessária para cada conta.

O conflito com os EUA agravou o problema.

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