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Banco Central Suíço perdeu sua credibilidade

Sede do Banco Central Suíço (BNS), em Berna. Keystone

Instituição prosseguiu durante tempo demais sua política pouco judiciosa de taxa de câmbio. Decisão é muito comentada no Fórum Econômico Mundial de Davos.

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Por Nuno Fernandes

Apesar da falta de neve em muitas estações de inverno na Suíça, uma avalanche maior começou quinta-feira passada em Zurique. O Banco Central Suíço (BNS)Link externo abandonou a estabilização do franco suíço em relação ao euro, que havia começado em 2011.

Essa decisão era muito inesperada e provocou pânico na bolsa suíça. Há menos de um mês, o presidente do BNS, Thomas Jordan, tinha declarado que as medidas de controle da taxa de câmbio da Suíça mantendo o franco suíço a 1,20 franco em relação ao euro eram “absolutamente necessárias”. Thomas Jordan havia então indicado que ele ia aplicar a política com “a maior determinação”.

Como eu havia previsto no Financial Times quando o BNS começou sua política em 2011, a taxa de câmbio mínima acabou ficando extremamente custosa para o país alpino.

Nuno Fernandes é professor de Finanças no IMD Business School, em Lausanne, onde dirige o programa de Finança Estratégica. IMD

O BNS prosseguiu durante demasiado tempo sua política de estabilização do franco suíço em relação ao euro e, ao fazê-lo, perdeu sua credibilidade. O banco cessou tarde demais de aplicar a taxa mínima. A política não era viável e quanto mais era durava, mais altos eram os custos para a economia suíça. O BNS só reagiu quando a distensão quantitativa na zona euro tornou-se muito provável e iminente. Ele deveria ter percebido mais cedo que sua política não era viável.


O balanço do BNS está agora superexposto em razão do aumento massivo das divisas estrangeiras que ele comprou para manter o franco suíço a 1,20 franco. O balanço do BNS dobrou nos últimos três anos, depois da introdução da taxa de câmbio mínima, para atingir um montante incrível de 500 bilhões de francos suíços, equivalente a 100% do PIB da Suíça.

Ponto de vista

A nova série da swissinfo.ch acolhe doravante contribuições exteriores escolhidas. Tratam-se de textos de especialistas, observadores privilegiados, a fim de apresentar pontos de vista originais sobre a Suíça ou sobre uma problemática que interessa à Suíça. A intenção é enriquecer o debate de ideias.

As opiniões expressas nesses artigos são da exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessáriamente a opinião de swissinfo.ch.

Em porcentagem do PIB, é o triplo da média dos bancos centrais, como o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu, a Reserva Federal americana e o Banco do Japão. Isso quer dizer que o BNS é vulnerável e extremamente exposto.


Na taxa de câmbio atual de 1:1 em relação ao euro, o BNS estaria em falência se fosse um banco normal. Hoje, com uma reavaliação do franco de 20%, o banco perdeu quase 100 bilhões de euros. Seus capitais próprios caíram de quase 70 bilhões de francos a um valor de mercado de aproximadamente 20 bilhões de francos. É claro que se pode imprimir dinheiro, mas quais seriam as consequências para a inflação?


É também uma avalanche massiva para as empresas suíças. O faturamento das empresas com atividades internacionais vai diminuir. As empresas que produzem na Suíça para exportação terão dificuldade em evitar perdas.

A taxa mínima do BNS teve um efeito importante para as empresas suíças. Os gestionários se esqueceram de pensar no risco da taxa de câmbio. O risco parecia ter desaparecido e a Suíça parecia estar na União Europeia, com uma taxa de câmbio 1,20 franco por 1 euro.


Isso criou um falso sentimento de segurança e as empresas cessaram de efetuar operações de cobertura e de tentar melhorar sua rede de abastecimento internacional para reduzir os riscos. A taxa de câmbio deveria continuar para sempre,  conforme as últimas declarações do BNS. Mas o risco estava sempre presente e as empresas suíças foram enganadas pela cobertura de segurança. Agora, elas são confrontas a perdas massivas e mesmo a falências.


A taxa de juros negativa também anunciada quinta-feira passada pelo BNS, a meu ver também não é pertinente. A considerar as grandes flutuações, ela para nada serve.

Em 2011, eu havia previsto no Financial Times que ”o Banco Central Suíço vai provavelmente dobrar ou triplicar a quantidade divisas estrangeiras em seu balanço e terá provavelmente perdas massivas”. Infelizmente, eu tinha razão.

Decisão da BCE não altera câmbio do franco suíço

Compras das obrigações dos Estados membros serão feitas de acordo com o peso de cada país no capital do BCE e parte do risco será assumido pelos bancos centrais nacionais. O  franco suíço manteve a paridade com o euro .

Mario Draghi não decepcionou os mercados e anunciou esta quinta-feira o lançamento de um programa agressivo de compra de dívida pública na zona euro. O objetivo é combater os riscos crescentes de deflação.

O Banco Central Europeu (BCE) vai realizar, a partir do próximo dia 1° de março, compras de  ativos do setor público e privado num montante total de 60 bilhões de euros por mês, totalizando € 1,14 trilhão.  O programa, revelou o presidente da autoridade monetária, irá durar pelo menos até setembro de 2016, podendo continuar em funcionamento até que se produza um ajustamento do ritmo da inflação consistente com o objetivo de uma variação de preços abaixo mas próxima de 2%..

Atualmente, o BCE já realiza compras de ativos do sector privado. A novidade é o início da compra de títulos de dívida pública. Mario Draghi explicou que as obrigações compradas serão aquelas que tenham um rating acima do nível “lixo”. Haverá outros critérios de elegibilidade para os países em grau lixo, mas sob um programa da troika, (formada pelo BCE, FMI e Comissão Europeia). As compras serão feitas de acordo com a quota de cada país no capital do BCE.

Naquilo que é visto como uma concessão à Alemanha, uma parte dos riscos será assumida pelos bancos centrais nacionais.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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