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Temer diz na ONU que impeachment de Dilma foi vitória da democracia

O presidente Michel Temer discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no dia 20 de setembro de 2016 afp_tickers

O presidente Michel Temer fez, nesta terça-feira (20), o discurso de abertura da 71ª Assembleia Geral das Nações Unidas, cumprindo a tradição de o Brasil sempre abrir o evento.

Em sua primeira fala no plenário da ONU, Temer começou destacando a “vocação do Brasil de abertura ao mundo” e os valores de “paz, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos”, defendidos pelo país.

Não demorou para abordar sua polêmica chegada ao poder, que, segundo ele, foi uma vitória da democracia.

Temer tomou posse em 31 de agosto, depois do sofrido por Dilma Rousseff, acusada de maquiar as contas públicas. Os simpatizantes da ex-presidente afirmam que se tratou, na verdade, de um golpe de Estado.

Em seu discurso, o peemedebista defendeu, porém, que o processo de “transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional”.

“O Brasil acaba de atravessar um processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional. Não há democracia sem Estado de direito – sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo”, enfatizou.

“Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre”, insistiu.

Temer garantiu que está comprometido com “o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social” para o Brasil, atingido por uma grave crise econômica.

“Nossa tarefa, agora, é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social. A confiança já começa a se restabelecer, e um horizonte mais próspero já começa a se desenhar. Nosso projeto de desenvolvimento passa, principalmente, por parcerias em investimentos, em comércio, em ciência e tecnologia. Nossas relações com países de todos os continentes serão, aqui, decisivas”, completou.

Como era esperado, Temer informou que o país se tornará na quarta-feira (21) a última das grandes economias a ratificar o acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

“O apoio aos países em desenvolvimento será decisivo para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A prosperidade e o bem-estar no presente não podem penhorar o futuro da humanidade. Mais do que possível, é necessário crescer de forma socialmente equilibrada com respeito ao meio ambiente. O planeta é um só. Não há plano B. Devemos tomar medidas ambiciosas, sob o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, expôs.

O Brasil, um dos países do mundo com mais biodiversidade, “é uma potência ambiental que tem compromisso inequívoco com o meio ambiente”, ressaltou.

Temer também dedicou parte de seu discurso a saudar a paz na vizinha Colômbia, felicitando seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, por alcançar um acordo com a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“Com os acordos entre o governo colombiano e as Farc, vislumbramos o fim do derradeiro conflito armado do nosso continente. Cumprimento o presidente Juan Manuel Santos e todos os colombianos”, disse Temer.

“O Brasil continua disposto a contribuir para a paz na Colômbia”, acrescentou.

Nesta quarta (21), Temer se reunirá com investidores e empresários para apresentar as oportunidades de negócios do Brasil.

Protesto

Durante o discurso de Temer, o presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís, e integrantes de outras delegações de países latino-americanos abandonaram o plenário da Assembleia Geral da ONU.

O gesto de Solís foi registrado em vídeo, onde é possível ver o presidente saindo do plenário acompanhado de seu ministro das Relações Exteriores, Manuel González.

No Twitter, o chanceler do Equador, Guillaume Long, informou que várias delegações fizeram o mesmo e que foi um gesto espontâneo.

“O presidente Temer ia falar, e vários países, de forma espontânea, decidiram não ouvir as palavras do presidente. É uma prática comum quando se quer mandar um sinal contundente de rejeição”, explicou Long.

“Equador, Costa Rica, Bolívia, Venezuela, Cuba, Nicarágua saem do debate da Assembleia Geral da ONU quando Michel Temer toma a palavra”, postou Long.

O ministro Long disse à AFP que o governo do Equador considera que a destituição de Dilma foi “uma espécie de golpe de Estado solapado com argumentos pseudoconstitucionalistas”.

“O uso de argumentos administrativos contra o sufrágio universal é algo que nos parece muito grave, e estabelece um precedente muito ruim para toda a região”, alegou.

O que aconteceu no Brasil – acrescentou o chanceler equatoriano – “nos parece impossível de se apresentar em um contexto latino-americano, marcado por tantos anos pelo autoritarismo e por ditaduras militares. Acreditamos que não se pode brincar com a democracia”.

O Equador – lembrou – já “sofreu com esse tipo de prática durante muitos anos” e, por isso, “levamos essas coisas muito a sério”.

A Chancelaria da Costa Rica emitiu uma nota oficial, onde confirmou a decisão de não ouvir a mensagem de Temer.

“Nossa decisão, soberana e individual, de não ouvir a mensagem do senhor Michel Temer na Assembleia Geral, obedece à nossa dúvida de que, ante certas atitudes e atuações, se queira dar lições sobre práticas democráticas”, expressou o Ministério das Relações Exteriores.

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