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Rousseau 300 anos depois

Rousseau retratado pelo pintor Edouard Lacretelle (1817-1900). Arquivo do Museu do Castelo de Versalhes/ Gianni Dagli Orti AFP

Cidadão de Genebra e não apenas um suíço ilustre, o pensador Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) será mais do que lembrado. O Tricentenário de Rousseau reúne, durante o ano, vários eventos que retomam as discussões do filósofo, pedagogo, músico e viajante, inclusive no Brasil.

O Departamento de Cultura de Genebra com  o apoio de diversas instituições, entre as quais  Sociedade Jean-Jacques Rousseau, presidida pelo francês Alain Grosrichard, coordena as comemorações do Tricentenário de Rousseau, este ano, em diversas partes do mundo.

Em São Paulo o evento “Comemorações no Brasil do Tricentenário de Nascimento de Jean- Jacques Rousseau” é dirigido por professores da Pontifícia Universidade de São Paulo, PUC-SP e Universidade de São Paulo, USP. A Universidade de Campinas, Unicamp realiza ainda o evento “Rousseau e as Artes”, em conjunto com a Pinacoteca.

Cinema

Em Genebra, o cineasta Pierre Maillard coordena, durante este ano, um projeto que une o Departamento de Cinema/cinema real da Escola Superior de Arte e Design de Genebra, a RITA Produções e a RTS (Rádio e Televisão Suíça em Genebra). Clique no link à direita.  

A ideia é reunir curtas metragens que suscitem os temas desenvolvidos por Rousseau, ao longo de sua carreira. O resultado desse trabalho poderá ser visto em São Paulo, em dez de setembro, quando será feita a projeção dos filmes. Na sequência, os filmes serão comentados em uma mesa redonda com a participação de Lorette Coen, Yvette Jaggi e Pierre Maillard. Antes disso, em agosto, um workshop será realizado no Cinesesc em São Paulo para a produção de pequenos vídeos nos moldes dos filmes produzidos durante o projeto coordenado por Pierre Maillard.

Os ideais republicanos de Rousseau, que alimentaram a revolução francesa, suas contribuições para a literatura mundial como a Nova Heloísa, reflexões sobre a sociedade de sua época como as do Contrato Social, são temas recorrentes aos artistas e estudiosos da filosofia e áreas afins.

Na PUC-SP, a professora do Departamento de Filosofia, Maria Constança Peres Pissarra, especialista na obra de Rousseau fala aspectos abordados pelo filósofo e sobre os eventos programados no decorrer deste ano.

swissinfo.ch: Por que as universidades se uniram para as comemorações?

Maria Constança Peres Pissarra:  Chegamos a conclusão de que era melhor agregar do que separar. Os eventos estão previstos na PUC de 17 a 19 de setembro e na USP, nos dias 20 e 21 de setembro. A semana de programações inclui um colóquio internacional, espetáculos teatrais e um concerto musical com obras do século XVIII. (Confira a programação no link aolado). 

swissinfo.ch: Como surgiu no Brasil o interesse pela obra de Rousseau? É um autor muito estudado?

M.C.P-S.: Rousseau é estudado de forma geral nas faculdades de Filosofia. Nos anos 50 e 60 surgiu um interesse maior pelo pensamento dele, que pode ser observado por exemplo, nas Letras, no Direito e na Filosofia Política. Na obras literárias do século XIX e XX como as José de Alencar, aparecem os conceitos do bom selvagem, além de princípios e valores difundidos por Rousseau. O poeta Souza Caldas também foi influenciado pelo pensamento do autor.  O crítico Lourival Gomes Machado foi o primeiro a escrever uma tese sobre obras de Rousseau como o contrato (O Contrato Social) e os discursos do pensador.

No início dos anos 60, o professor de filosofia, da USP, Bento Prado Júnior trabalhou a questão da origem da línguas, educação e a discussão entre natureza e cultura. Pouco depois o professor de filosofia da USP, escritor, tradutor e jornalista,Luís Roberto Salinas Fortes foi um defensor das ideias de igualdade e desigualdade de Rousseau. A partir daí surge uma segunda fase de estudos sobre a obra de Rousseau.

swissinfo.ch: E por que festejar o Tricentenário de Rousseau?

M.C.P-S.: Há quem culpe Rousseau pela terrorismo e o totalitarismo decorrente da Revolução Francesa e uma série de outras coisas. Mas por que retomar um autor? No caso de Rousseau é a crítica que ele faz à questão da desigualdade. As democracias estão em um momento de crítica. Há uma grande confusão entre o que é democrático e republicano e Rousseau trabalha o conceito de soberania e dos modelos de representação de “como se exerce?” E “sobre quem exerce?”.  Ele viveu em Genebra em uma época em que as cidades tinham muito mais força que a monarquia francesa. Rousseau tratou do tema da participação, da ideia associativa e outros temas que continuam atuais.

Rousseau e as Artes

Na Unicamp, em Campinas, no estado de São Paulo, as comemorações do Tricentenário de Rousseau vão privilegiar as artes. A programação da universidade foi montada em conjunto com a Pinacoteca, em São Paulo. O coordenador do evento, Paulo Kühl, professor do Instituto de Artes da Unicamp está acertando os últimos detalhes do Colóquio Internacional Rousseau e as Artes previsto para os dias 16, 17 e 18 de outubro.

Segundo Kühl, a obra de Rousseau tem facetas voltadas para a política e para as artes. “É sem dúvida um autor muito importante para a Filosofia Política, Educação e Antropologia”, explica o professor. “Nesse evento queremos mostrar mais a relação de Rousseau com as Artes, que por sinal é muito ambígua”, completa. Rousseau foi um grande crítico da arte francesa e buscava o que fosse mais autêntico e ligado à natureza. Ele viveu o início da ruptura de um sistema e para Kühl esse é dos momentos mais interessantes da obra de Rousseau. “Ele passa por um longo momento de crise”, acrescenta.

Na Pinacoteca Rousseau será a inspiração para a exposição Artes com a Natureza, que será montada com parte do acervo da instituição.

Jean-Jacques Rousseaus (Genebra, 28 de Junho  1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778).

Obras essenciais de Rousseau e ano de publicação:

Discurso sobre as Ciências e as Artes (1750)

Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens (1755)

Carta a d´Alembert sobre os espetáculos (1758)

Julie ou a Nova Heloísa (1761)

O Contrato Social (1762)

Emílio ou da educação (1762)

Ensaio sobre a origem das línguas (1781)

Confissões (1782-1789)

Rousseau, juiz de Jean-Jacques (1772-1776)

Os devaneios de um passeante solitário

(1782

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