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Um desfibrilador hi-tech fabricado e testado na Suíça

Um novo desfibrilador promete melhorar a vida dos pacientes. Keystone

A unidade de cirurgia cardíaca do Hospital de Lugano, sul da Suíça, é a única clínica suíça a participar de um estudo mundial na área de cardiologia.

Trata-se de implantar e testar um desfibrilador capaz de diagnosticar antecipadamente as arritmias cardíacas.

A calma tranquilizadora que reina nos corredores inundados de uma luz suave do Cardiocentro de Lugano, o centro de cirurgia cardíaca nessa cidade do Ticino (o cantão de língua italiana ao sul da Suíça), é enganadora.

Essa unidade – a única no país – faz parte de uma série de clinicas espalhadas nos quatro cantos do mundo e selecionadas para participar de um estudo com cerca de 1.500 pacientes. Há alguns dias, uma equipe de cirurgia cardíaca de ponta se concentra sobre esse projeto inédito.

O programa, que começou há algumas semanas, deve permitir avaliar a eficácia de um mini-desfibrilador cardíaco, denominado ICD (Implantable Cardiac Defibrillator), sobre pacientes que sofrem de arritmia e participam do estudo.

Do tamanho de um relógio

Em Lugano, 18 voluntários devem se beneficiar desse novo implante. Cinco deles já foram submetidos com sucesso ao procedimento.

Embora os desfibriladores implantáveis já existam desde os anos 1980, o modelo utilizado nesse estudo é visto como um marco na área da tecnologia médica. Do tamanho de um relógio, ele é capaz de distinguir alertas cardíacos falsos dos verdadeiros. Graças a um dispositivo sofisticado, esse desfibrilador pode emitir choques elétricos somente quando é necessário.

De fato, estudos mostraram que cerca de 20% dos pacientes portadores de um desfibrilador implantável sofrem de choques inúteis, desencadeados em momentos onde o paciente não tinha necessidade. Esses episódios podem ser provocados por uma má interpretação do desfibrilador no momento em que o ritmo cardíaco do enfermo se acelera.

Esses distúrbios podem ser extremamente perturbadores para alguns pacientes como mostrou há pouco um programa do canal televisivo alemão ARD. Ele exibe testemunhos de pessoas doentes portadoras de um desfibrilador e que já passaram pela experiência de viver choques inúteis repetidos.

Foi o caso de uma jovem, cujo desfibrilador se desencadeava sem razões sempre que ela praticava seu esporte preferido: a natação. Também existe a possibilidade de que os modelos atualmente utilizados na cardiologia reajam por vezes a arritmias benignas e até mesmo a interferências elétricas parasitas.

Um anjo da guarda

“Esse novo desfibrilador vai melhorar consideravelmente a vida dos pacientes”, explica o professor Angelo Auricchio, responsável pelo programa em Lugano, cardiologista conhecido no país, professor na Universidade de Magdebourg (Alemanha) e também presidente da Associação Europeia do Ritmo Cardíaco e da Sociedade Europeia de Cardiologia.

“Para o enfermo, esse implante representa um grande alívio e a possibilidade de retomar a uma vida normal, sem o temor que seu coração se acelere e depois pare. É mais ou menos como estar acompanhado permanentemente por uma ambulância, ou ser seguido por um anjo da guarda e saber, ao final das contas, que nada pode lhe acontecer. Isso pelo menos no plano cardíaco”, ressalta Auricchio, com um sorriso no rosto.

Custos desproporcionados?

A operação, cujo preço ainda não foi revelado, dura entre 20 e 30 minutos. Geralmente os pacientes podem retornar às suas casas após dois dias de convalescência. O cirurgião faz uma pequena incisão abaixo da clavícula para introduzir no local o desfibrilador. Este será, por seu lado, ligado a pequenos cabos elétricos instalados no sistema venoso.

Os enfermos aos quais está destinado o novo desfibrilador têm entre 65 e 85 anos, em alguns casos até mais. Essa é a faixa etária dos voluntários que participam do programa em Lugano ou em outras unidades clínicas do estudo. Uma idade avançada que pode levantar questões sobre os custos possíveis desse tipo de operação, sobretudo em um contexto de debate sobre os custos crescentes do sistema de saúde na Suíça e em outros países, cada vez mais sob pressão.

“Sociedade e paciente ganham”

“Antes de tudo, estamos tratando aqui de salvar vidas”, lembra o professor Angelo Auricchio. “Para os pacientes ainda ativos no plano profissional, uma recuperação rápida não representa apenas um ganho econômico para eles próprios, mas também para a sociedade.”

“Quanto aos enfermos com idades mais avançadas, o desfibrilador pode oferecer uma autonomia e que, em outras circunstâncias, obrigariam a pessoa a receber cuidados permanentes”, ressalta Eric Gasser, assessor de imprensa na Suíça da Medtronic, em Tolochenaz, a empresa que desenvolveu e fabrica essa nova geração de implantes.

“Já outras pessoas, que ainda estão em plena posse das suas capacidades, apesar da idade avançada, verão melhora na sua qualidade de vida e poderão, dessa forma, ajudar suas famílias em tarefas como, por exemplo, cuidar dos netos”, acrescenta Gasser. “Em inúmeros caos, o desfibrilador permite também evitar a uma série de tratamentos medicamentosos e de um acompanhamento médico demasiadamente custoso.”

Finalmente, as conclusões do estudo – cuja data para terminar ainda não foi determinada – serão apresentadas às autoridades sanitárias dos países onde o mini-desfibrilador será distribuído, para que eles autorizem então sua comercialização.

Nicole della Pietra, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Mortalidade – Anualmente, a morte súbita de origem cardíaca provoca mais mortes do que o câncer do pulmão, câncer dos seios e a AIDS juntas. Esse distúrbio do ritmo cardíaco grave é conhecido como arritmia ventricular.

Usuários – Segundo as estimativas, cerca de 70 mil vidas foram salvas nos últimos cinco anos, em escala mundial, graças à utilização de desfibriladores implantáveis. Entre 850 mil e um milhão de pacientes no mundo vivem com um desfibrilador cardíaco implantável.

Medtronic, que foi fundada há mais de cinquenta anos em Minneapolis, Estados Unidos, é líder mundial na área de tecnologia cirúrgica. Mas é na Suíça que o minidesfibrilador foi desenvolvido e fabricado.

Atualmente a empresa emprega 1.200 colaboradores na Suíça e mais de 38 mil pessoas em 120 países.

O faturamento anual da Medtronic ultrapassa os seis bilhões de dólares.

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