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Via Ferrata: escalada para iniciantes

Via Ferrata De Tière em Champery, no cantão do Tessin. ViaFerrata.Org

Para os aficionados, elas são apenas para amadores. Porém as "via ferratas", trilhas tornadas mais seguras através do uso de cabos de aço, degraus, mosquetões e até mesmo escadas atraem cada vez mais montanhistas.

Ao tornar a aventura acessível, os promotores também provocam críticas daqueles que não vêem com bons olhos a expansão dos caminhos “de ferro” pelas montanhas suíças.

Vias ferratas não são uma novidade: as primeiras trilhas teriam sido construídas na Áustria em meados do século XIX. Durante a I. Guerra Mundial, o exército expandiu-as aos Alpes italianos para melhorar a distribuição de suprimentos e o deslocamento de unidades armadas.

Na Suíça a moda chegou um pouco mais tarde. Apenas nos anos 90, as primeiras trilhas de montanha com equipamentos de segurança eram abertas.

Agora elas estão em expansão no país dos Alpes. Das originalmente quarenta em uso, em poucos anos elas podem passar para cem. O desenvolvimento mostra a popularização contínua de mais um esporte de aventura: o montanhismo para iniciantes.

“Existe uma clara tendência – eu diria de dois até quatro novos projetos por ano – mas seria exagerado de falar em boom”, declara Jürg Meyer, coordenador no Clube Alpino Suíço (SAC, na sigla em alemão).

A corda curta fixada através de um mosquetão no cabo de aço, que acompanha toda a extensão da trilha, é a porta de entrada no mundo do vertical. Com a segurança que os equipamentos promovem, qualquer um pode ter a mesma experiência que antes era reservada aos alpinistas.

Críticas

Porém nem todos os fãs do esporte estão satisfeito com o crescimento das trilhas seguras.

“Eu vejo um certo problema nessa popularização. Nossa posição oficial é de apoiar a construção das vias ferratas com certos cuidados, mas não em todos os lugares. Não acho que seja uma boa idéia de ter essas trilhas nas grandes montanhas ou em áreas remotas, sobretudo aquelas que são pouco conhecidas”, diz Meyer.

O Clube Alpino Suíço é a organização que está por traz da “Carta da Via Ferrata de Engelberg”, um conjunto de regras de aplicação voluntária firmado entre a indústria do turismo, a comunidade de montanhistas, autoridades locais e de organizações do meio-ambiente para promover trilhas ecológicas.

“A idéia é de que as trilhas façam parte de um conceito turístico mais amplo, em locais aonde a prática do esporte já chegou a um certo nível de desenvolvimento”, explica Meyer.

Jan Gürke, consultor da agência ecológica Mountain Wilderness, é muito mais crítico e recusou de assinar a carta. “Meu principal objetivo é ter uma moratória. Precisamos de uma pausa e repensar na evolução do montanhismo turístico”, explica.

Na sua opinião, o aumento para 100 trilhas é um exagero. “O crescimento da extensão das vias ferratas já está incontrolável”.

Para o consultor da Mountain Wilderness, o maior problema está nos distúrbios provocado pelos turistas para a vida selvagem nas montanhas como falcões, águias, cabras, cabritos e viados.

“Precisamos ter desenvolvimento da qualidade dessas trilhas e não da sua quantidade. Nós queremos vias ferratas que estão bem integradas ao seu ambiente, seguras e oferecendo realmente um sentimento de aventura para os montanhistas”, defende.

Puristas contra turistas

O aumento de vias ferratas, sobretudo daquelas construídas próximas as trilhas para os escaladores de montanha, também provocou um aumento da disputa entre os tradicionais alpinistas e os aventureiros de final de semana.

“Eu imagino que exista uma insatisfação geral dos grupos de montanhistas em relação ao crescimento das vias ferratas”, diz Gürke.

“Graças a elas, hoje é muito mais fácil e seguro de ter experiências de esportes radicais ao ar livre. Você não precisa mais estar preparado. Só precisa pagar o guia e fazer o percurso. Muitas dessas pessoas não têm experiência de escalada e também vêem o meio-ambiente com outros olhos do que alguém que sempre está na natureza”.

Meye confirma a existência dos conflitos, mas prefere relativizar. “Como é comum na Suíça, nós obviamente não discutimos abertamente sobre esses problemas. Na Grã-Bretanha essa situação já é diferente: lá o conflito entre montanhistas e turistas de final de semana ocorre sem pudor”, conta.

Disputas à parte, as vias ferratas já fazem parte do programa oficial de várias seções regionais do Clube Alpino Suíço. Seus representantes não escondem que os passeios oferecidos estão entre os mais requisitados nos últimos tempos.

Alguns verdadeiros alpinistas não se incomodam com o desenvolvimento. “Eu pessoalmente não me incomodo com os turistas que gostam de utilizar as vias ferratas. Se cruzo com eles nas montanhas e fico incomodado, posso sempre apressar o passo e encontrar uma grande quantidade de lugares maravilhosos. Existe espaço para todos”, conclui o experimentado alpinista britânico Rob Muirhead.

swissinfo, Simon Bradley

“Via Ferrata”, expressão do italiano que significa algo como “caminho de ferro” – são trilhas de montanha tornadas mais seguras através da utilização de equipamento especial como cabos de aço, mosquetões, cintos de segurança, degraus e, às vezes, até mesmo escadas ou pontes.

A primeira geração das vias ferratas teria sido construída nos Alpes austríacos em meados do século XIX. Uma rede de vias ferradas foi construída posteriormente nas montanhas dos Dolomitas, porção sul dos Alpes italianos, durante a I. Guerra Mundial para ajudar as manobras do exército.

Vias ferratas podem ser encontradas atualmente em vários países europeus como Áustria, Alemanha, França, Eslovênia e Espanha. Também nos EUA e no Canadá existem algumas dessas trilhas preparadas.

Vias ferratas são um fenômeno relativamente recente na Suíça, datando mais do início dos anos 90. De 20 trilhas que já existiam em 1999, hoje são 40 que podem ser encontradas em todo o país. Promotores turísticos acreditam que elas podem ser aumentadas para cem.

Segundo o montanhista Eugen Hüsler, na parte oeste do país são encontradas as vias ferratas no estilo “francês”, que usualmente são mais difíceis e orientadas para semanas de aventura. Elas são equipadas com uma grande quantidade de escadas, pontes, cabos, corrimões e outros instrumentos para tornar a caminhada mais segura. Em outras regiões do país, as vias ferratas são menos equipadas e estão em alturas mais elevadas.

O montanhista que quer atravessar uma via ferrata necessita apenas de um capacete de proteção contra pedras que podem cair do alto e um cinto de segurança para ser preso no cabo de aço através do mosquetão.

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