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“Diferenças não impedem que cheguemos a um acordo”

Johann Schneider-Ammann durante a visita ao Maracanã. swissinfo.ch

A Suíça está mais otimista em negociar um tratado de livre comércio com o Brasil. Essa foi a impressão declarada pelo ministro suíço da Economia ao concluir no sábado (5.04) uma viagem oficial de três dias ao país em companhia de uma delegação de empresários e cientistas. Antes de retornar, Johann Schneider-Ammann inaugurou também um consulado "cientifico" e assinou um tratado de previdência social entre os dois países, sem esquecer também de visitar o estádio do "Maracanã", a dois meses da Copa.

Ao convidar na ensolarada manhã de sábado (5.04) os jornalistas para tomar um café no restaurante do hotel Windsor Atlântica, em Copacabana, Johann Schneider-Ammann estava bem humorado e perguntou aos presentes se não teria sido uma melhor ideia fazer uma caminhada na praia logo ao lado. Porém ele preferiu logo dizer que a viagem oficial de três dias ao Brasil, acompanhado por uma delegação de 42 altos funcionários, empresários e representantes da comunidade acadêmica havia sido “um pleno sucesso”.

Já no primeiro dia, o encontro com dois ministros e dois ministros interinos (Agricultura, Indústria e Comercio, Relações Exteriores e Ciência e Tecnologia) brasileiros tinha trazido os frutos esperados. “O primeiro objetivo da missão era levar a cada um deles os pontos da politica externa econômica suíça, especialmente com base em um acordo de livre comércio, a convenção preventiva da dupla tributação proteção dos investimentos e a proteção dos investimentos”, declarou Schneider-Ammann.

As discussões giraram em torno do desejo da Suíça de costurar um acordo entre Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na abreviação em inglês), da qual faz parte, e o Mercosur. “Quando estive no Brasil há dois anos já como ministro abordei nosso interesse em dar um impulso a um tratado de livre comércio entre os dois blocos. No momento a resposta foi que isso não seria a prioridade para o Brasil. Porém senti hoje uma abertura muito maior e reações mais positivas. Estou seguro de que nos próximos meses poderemos ter conversações preliminares mais concretas”, respondeu Schneider-Ammann durante uma conversa com os jornalistas em meio à viagem.

Na negociação existem interesses distintos entre o Brasil e a Suíça. Enquanto a Suíça está mais focada no acesso ao mercado brasileiro para produtos industrializados e serviços, o Brasil defende a redução das tarifas alfandegárias para produtos agrícolas. Essa barreira é uma das mais difíceis de transpor. Todavia Schneider-Amman não se deixa desanimar. “Os interesses dos dois países não são absolutamente complementares, mas isso não impede que cheguemos a um acordo.“

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Reforço para a cooperação científica entre Suíça e Brasil

Este conteúdo foi publicado em “Uma antena propagadora de educação, ciência e inovação”. Criada pelo governo suíço com o objetivo de incrementar a cooperação internacional entre a Suíça e os governos, empresas e universidades de todo o mundo para o desenvolvimento de pesquisas e a implementação de projetos de cunho científico e tecnológico, a rede global Swissnex é assim definida…

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Acordo de aposentadoria

Os encontros em Brasília permitiram também a Schneider-Ammann assinar um acordo de previdência social entre o Brasil e a Suíça. Depois que for ratificado pelos dois países, após aprovação dos respectivos parlamentos, ele beneficiará os brasileiros (oficialmente: 18.863 – estimativa: 44 mil) que vivem na Suíça, assim como os suíços residentes no Brasil (oficialmente: 15.299). Dentre os benefícios contemplados: aposentadoria por idade, pensão por morte e aposentadoria por invalidez. Acordos semelhantes já foram assinados pela Suíça com 44 países.

Como em outras viagens do gênero, o ministro, que é responsável pelas pastas de Economia, Educação e Pesquisa da Suíça, também ressaltou que outro objetivo importante desse tipo de viagem é de abrir portas para empresários e cientistas e conhecer pessoalmente os representantes dos governos com quem a Suíça relaciona. “O representante brasileiro do ministério da Economia chegou a nos receber por pouco mais de uma hora para conversar com os empresários suíços, o que não é de modo algum evidente”, disse.

Boa notícia

Todavia o começo da viagem foi marcado por um revés. Foi quando Clélio Campolina, o recém-empossado ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, explicou que o governo brasileiro não estaria renovando, por questões orçamentárias, os fundos para o programa bilateral de ciência com a Suíça, um país que já vive atualmente tensões com a União Europeia no setor. A justificativa e que ele não poderia se engajar antes das eleições no Brasil em outubro.

A dúvida que pairava no ar após esse momento foi dissipada com um acordo inesperado. Ao encontrar os representantes da Faperj, o órgão estadual de amparo à pesquisa no Rio de Janeiro, o governo suíço conseguiu assinar um acordo de intenções. “Eles garantiram fundos para um programa de cooperação cientifica que, concretamente, possibilitara a realização conjunta de dez a doze projetos, em que a área medica terá uma boa presença”, explicou o embaixador Mauro Moruzzi, responsável pelas relações internacionais na Secretaria de Educação e Pesquisa.

A assinatura do acordo foi o ponto alto da inauguração na sexta-feira de mais uma filial da sua rede de consulados científicos Swissnex no Rio de Janeiro, cujo principal objetivo é apoiar o intercâmbio entre universidades, centros de pesquisa e a iniciativa privada entre os dois países. No evento estavam presentes os participantes da delegação suíça, membros da comunidade helvética e convidados brasileiros.

A economia brasileira, a sétima no ranking mundial, é um mercado cuja importância é crescente para as empresas suíças. O Brasil é o principal parceiro comercial da suíça na América Latina, antes do México e da Argentina.

O volume de intercambio entre a Suíça e o Brasil chegou a 3,1 bilhões de francos em 2013.

Quanto ao estoque de investimentos suíços no Brasil, ele estava na base de 22,7 bilhões de francos em 2012. As empresas suíças empregam aproximadamente 130 mil pessoas no Brasil.

O Brasil, que também é um parceiro estratégico no setor de formação, pesquisa e inovação, viu os seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento progredirem na base de 75% em termos reais desde o ano 2000.

No contexto do programa bilateral de pesquisa, os dois países financiaram até então 22 projetos de pesquisa e as universidades dos dois países concluíram 35 acordos institucionais.

Fonte: Ministériol da Economia, Formação e Pesquisa (DEFR)  

Ciência e futebol

O programa de Schneider-Ammann no Brasil incluiu também uma visita no Rio de Janeiro à Fundação Oswaldo Cruz. Juntamente com o ministro, pesquisadores suíços aproveitaram a ocasião para conversar com os parceiros brasileiros sobre as possibilidades de intercâmbio cientifico entre os dois países e também visitar as instalações e laboratórios dessa instituição que é considerada uma das mais importantes instituições de ciência e tecnologia em saúde da América Latina.

No Museu de Arte do Rio (MAR), Schneider-Ammann participou de um seminário sobre urbanismo, onde se abordou um projeto conjunto entre a Escola Politécnica de Zurique (ETH) e pesquisadores brasileiros sobre as favelas e a investigação do potencial transformador desses chamados “ambientes informais”, lembrando que nas próximas décadas a grande maioria da população estará vivendo em megalópoles. 

Ao final do programa, o ministro suíço foi conhecer o Maracanã. Ao lado do gramado no estádio de maior capacidade do Brasil, Schneider-Ammann lembrou-se dos tempos em que jogava futebol em um time de terceira divisão do seu vilarejo natal, Sumiswald, no interior do cantão de Berna.

Bem-humorado, chegou a posar para um fotógrafo com o pé levantado como se estivesse chutado para o gol. Todavia o olhar do representante do governo também estava voltado para um exemplo concreto da cooperação entre os dois países: os cabos de sustentação do teto do estádio foram construídos e instalados pela Geobrugg, uma empresa suíça.

Antes de pegar o avião, Schneider-Ammann anunciou para outubro uma viagem oficial com delegação ao Japão, em julho, e em outubro, à Rússia.

Durante a visita oficial de três dias ao Brasil, o ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, assinou um acordo de previdência social entre o Brasil e a Suíça.

Do lado brasileiro estavam presentes na cerimonia realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília, na quinta-feira (03.04) o ministro interino da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas e o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado.

“A economia tem lógica por si só bastante dinâmica. As empresas se instalam nos diversos países e, tendo em vista os critérios de disponibilidade de emprego e de mão de obra, os trabalhadores se deslocam para essas nações. Isto é, a globalização econômica é movimento que naturalmente atravessa fronteiras”, esclareceu Gabas.

Ao ser indagado sobre a importância do acordo, o ministro interino da Previdência Social declarou que “a proteção social precisa da intervenção do Estado, pois não se realiza por vontade pura do mercado. Assim, é necessária a forte participação dos Estados nacionais para que essa proteção ocorra.”

Para o acordo entrar em vigor, ele precisa ser ratificado nos dois países pelo governo após aprovação dos respectivos parlamentos.

O acordo corresponde a outros já assinados pela Suíça e orienta-se nos padrões internacionais relacionados à coordenação dos sistemas de previdência social.

Ele apoia também o intercambio econômico entre os dois países já que facilita o envio de pessoal especializado assim como a oferta de serviços ao outro país.

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