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Davos: Porto Alegre é aqui

Homem falando em público
Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, durante a coletiva de imprensa em Genebra. Keystone / Valentin Flauraud

A sustentabilidade do planeta, a responsabilidade de multinacionais, a urgência em criar empregos e o drama da concentração de renda. Se há duas décadas esse era o centro dos debates no Fórum Social de Porto Alegre, em 2020 essa é a agenda do Fórum Econômico Mundial. 

Neste ano, o evento em Davos ocorre entre 21 e 24 de janeiro. Mas o 50° aniversário do maior encontro da elite política e financeira internacional será marcado por uma busca por parte dos organizadores para reconstruir um sistema que, para muitos, está se esgotando rapidamente. 

O resultado desse esgotamento foi traduzido em fumaça, violência e sangue pelas ruas de Santiago, La Paz, Quito, Porto Príncipe e tantas outras capitais latino-americanas que, em 2019, foram tomadas por protestos. 

Davos sabe muito bem disso e, entre seus debates organizados para o final do mês, inclui uma sessão exclusivamente dedicada à necessidade de “responder às expectativas” das massas na América Latina.

“A América Latina viu um aumento de protestos em resposta ao incremento de desafios sociais e demandas não atendidas”, diz o Fórum ao explicar a sessão. Davos coloca aos participantes uma questão: “como essa onda de turbulência civil vai transformar o cenário político e econômico?”

Como resposta, os organizadores convidaram o co-criador do movimento Occupy (EUA), Micah White. Mas também o brasileiro Luciano Huck que, em 2019, mandou a mensagem em Davos sobre a necessidade de uma “renovação para valer” da elite no poder político.

Num outro evento, o próprio título aponta para o passo seguinte da convulsão social: “Como transformar protestos em progresso”. A questão em debate é como transformar a onda de críticas contra governos em mudanças políticas efetivas.

Davos em 2020 não deixa de tocar na questão da desigualdade social. Para Saadia Zahidi, chefe das agendas sociais e econômicas do Fórum, a falta de mobilidade social, a concentração de renda e o sentimento de estagnação estão alimentando os protestos. Segundo ela, dar uma resposta a isso “não é apenas uma questão moral, mas também econômica”.

Klaus Schwab, fundador do evento e que nos anos 70 já apontava para a necessidade de uma ação conjunta entre empresas, governos e sociedade civil, faz um diagnóstico alarmante da sociedade. 

“O mundo está em um estado de emergência e temos pouco tempo para agir”, disse. “Não quisemos enfrentar a desintegração política e econômica contínua. Não queremos chegar ao momento em que as mudanças climáticas são irreversíveis. E não queremos que a próxima geração herde um mundo que é cada vez menos habitável”, alertou.  

Receita 

A receita de Davos é a de voltar a criar um mundo coeso e sustentável. Para isso, todos terão de estar comprometidos com uma agenda comum e assumir suas responsabilidades respectivas. 

Nessa perspectiva, Schwab acredita que a questão ambiental é “imperativa” e, em Davos, um plano será anunciado para plantar em uma década um trilhão de árvores. Entre os “astros” neste ano no evento, o Fórum trocou nomes de Hollywood por dez adolescentes que, em seus respectivos países, se transformaram em vozes ativas de uma mudança na sociedade. Greta Thunberg é só um deles, e a única adolescente ativista europeia – os demais vêm da Nova Zelândia, Porto Rico, África do Sul, e Indonésia, entre outros países. 

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Outra dimensão da reconstrução do sistema é a questão do emprego para um bilhão de jovens que, nas próximas décadas, entrarão no mercado de trabalho. Assim, preparar a juventude para novos empregos também é outro desafio diante do que os organizadores chamam de 4ª Revolução Industrial. 

No final do mês, o governador de São Paulo, João Doria, usará Davos para anunciar a criação de um desses centros, na capital paulista. 

Sem reconstruir um sistema com base em uma ação coordenada, Schwab alerta que o risco é de uma enorme instabilidade para os próximos anos. “Quando olhamos pelo mundo, não podemos negar que existe uma perda generalizada de confiança das pessoas”, disse. “Isso vem junto com um profundo pessimismo e cinismo”, alertou.

“Mas não podemos ficar paralisados por esses sentimentos. Precisamos agir e essa é a nossa mensagem em Davos”, declarou.

Sua avaliação é de que, para reconquistar a confiança das gerações mais jovens, aqueles no poder terão de provar que estão agindo e Davos seria o endereço certo para tal empreitada. Neste ano, 51 sessões serão organizadas nos quatro dias para buscar novos caminhos para o meio ambiente. Para assuntos econômicos, serão apenas 27 sessões. 

Questionado pela swissinfo.ch se considerava, agora, que o Fórum Social de Porto Alegre no início do século 21 não estava tão errado em suas demandas de uma transformação, Schwab apenas respondeu: “a distinção entre o social e econômico não tem sentido”. “Todos precisamos adotar posturas econômicas, sociais e ambientais”, completou. 

Presença brasileira

Em Davos, em 2020, a presença latino-americana contará com Ivan Duque, presidente da Colômbia, Lenin Moreno (Equador) e Laurentino Cohen (Panamá). Já o governo brasileiro será representado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

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