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Zurique – Uma aula a céu aberto

Zurique é a única verdadeira metrópole na Suíça. ST/swiss-image.ch

Zurique é a maior cidade da Suíça e, ao mesmo tempo, capital financeira do país.

Com 337 mil habitantes, Zurique é também o principal polo de atração para os turistas estrangeiros. E isso deve-se não somente ao aeroporto, mas também às belezas da cidade.

Ao descer na estação central de trens de Zurique, dificilmente o turista morrerá de amores pela cidade. Em meio a uma confluência de avenidas onde carros, bicicletas (elas são muitas!) e bondes cruzam alucinados, o visitante conhece a face mais cruel da metrópole: a sensação de superpopulação, de pressa, de compromissos com hora marcada – uma especialidade suíça. Mas como nas grandes conquistas do coração, a dificuldade imposta à primeira vista acaba dando sabor especial quando se descobre os encantos de Zurique. E eles não são poucos.

Basta atirar-se num destes cruzamentos que a cidade já ganha alguns pontos com seu visitante: assim como em outros cantos do país, os motoristas param sempre para que os pedestres atravessem, independente dos sinais de trânsito. Não há como não se encantar com tamanha civilidade. Mas é na Cidade Antiga que o gelo começa a quebrar e, invariavelmente, se inicia o caso de amor com o lugar. Dos 12 bairros de Zurique, é lá que se mergulha em sua história. Antigo centro comercial, sofreu com a migração de moradores para outras partes após a chegada da estação de trens, há cerca de 150 anos. Foi ali que houve a primeira grande ação de revitalização da cidade, transformando os antigos sobrados em restaurantes e barzinhos que até hoje fervem à noite. Num deles, trabalha uma brasileira chamada Maria, há muitos anos na Suíça. Um papo furado, em bom português, mata a saudade de casa e dá mais simpatia ao cenário.

Percorrendo as estreitas ruas a pé, o visitante se encanta com a diversidade de casas dos séculos 11 e 12 transformadas em galerias de arte, lojas ou ateliês de design. Mais ainda quando se depara, na Rua Spiegelgasse, com a casa onde Lênin morou nos anos de 1916 e 1917. Poucos passos adiante, na mesma rua, ergue-se o Cabaret Voltaire, onde refugiados de vários países se abrigaram no início do século passado e fundaram, em 1916, o movimento dadaísta, para chamar a atenção para o non-sense da Primeira Guerra Mundial.

Reforma Protestante

Na Cidade Antiga também estão as raízes da história dos judeus – vivem cerca de 6 mil em Zurique. Na Idade Média, quando os cristãos foram proibidos de emprestar dinheiro e cobrar juros, era comum a formação de bairros judeus. Impedidos de trabalhar e circular pela cidade, eles eram limitados a andar por aquela área demarcada e não podiam ter nenhuma outra profissão, a não ser a de emprestar dinheiro. Em Zurique não foi diferente e a Cidade Antiga ainda tem sua rua judia, onde foi fundada a primeira sinagoga da cidade. No século 14, entretanto, eles foram expulsos dali: com muitas pessoas morrendo devido à peste, os judeus foram acusados de terem envenenado a água bebida pela população.

A aula prática de história não pára por aí: na Zwingliplatz o visitante aprende as particularidades da Reforma religiosa ocorrida na Suíça e encabeçada pelo líder que hoje dá nome à praça. Mais do que o introdutor do protestantismo na sociedade suíça, Ulrich Zwingli foi uma liderança política. Integrante do Exército, ele não queria que os cidadãos suíços se oferecessem para atuar em guerras em troca de dinheiro, já que acabavam lutando uns contra os outros. Estimulou-os a ficar em Zurique e a formar cooperativas, o que contribuiu em muito para o desenvolvimento da cidade. Foi na praça, diante da igreja que teve os vitrais quebrados durante a Reforma, que Zwingli morreu, no século 16.

Poetas em Zurique

Depois de cruzar o Rio Limmat, o caminho até a Igreja de São Pedro chama a atenção. O turista passeia sobre as ruínas de uma terma romana do século 3, descoberta pelos arqueólogos há 16 anos. No topo da igreja, construída no século 9 mas cuja torre foi refeita no século 13, está o relógio símbolo da cidade, com 8,7 metros de diâmetro. Depois da Reforma, no século 16, e principalmente no século 18, quando soavam os sinos da igreja, era dado o toque de recolher (às 20h no inverno e 21h no verão). Fechavam-se então os portões da cidade e o comércio e os moradores iam todos para suas casas. Hoje, não raro o visitante ao entrar numa destas igrejas depara-se com uma aula de música clássica. Uma surpresa a mais no caminho.

No século 18, muitos poetas foram para Zurique, como Goethe, Casanova e Thomas Mann, entre outros. A maioria ficava hospedada num charmoso hotel sobre o rio que corta a cidade. Outros, como James Joyce, acabaram alongando sua estada. Foi em Zurique que Joyce publicou algumas de suas mais importantes obras, como Retrato do artista quando jovem. Na Augustiner-Gasse está a sede da sociedade voltada ao autor, num recanto que ganhou o nome de James Joyce Corner (esquina do James Joyce). Ali, pelo menos uma vez por semana, seus arquivos são abertos e há leituras dos textos de Joyce. Imperdível.

swissinfo, Florença Mazza

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