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Schaffhausen é a capital dos plebiscitos

As "Quedas do Reno", localizada no cantão de Schaffhausen, são uma das maiores atrações da Suíça Keystone

Schaffhausen é o campeão suíço da democracia direta, pelo menos em termos de participação eleitoral. O que leva as pessoas desse cantão ao nordeste da Suíça a participar? 

Depois de plebiscitos e eleições a Suíça costuma olhar com inveja para os compatriotas nordestinos. Lá está o pequeno cantão de Schaffhausen, que na competição da democracia direta sempre conquista a medalha de ouro. Explicação: 65% dos eleitores em média participam sempre dos plebiscitos e eleições. Uma contradição ao restante da Suíça, onde a participação nas urnas se definha há décadas na marca de 45%.

O artigo é parte do #DearDemocracy, a plataforma de democracia direta da swissinfo.ch.

O que é o artigo:  os eleitores de Schaffhausen são os campeões da participação eleitoral na Suíça. E isso não tem a ver com o voto obrigatório.

Lamentavelmente, pois assim a minorias toma decisões para a maioria – e assim a democracia direta acaba sendo minada.

O que explica essa diferença de comportamento dos cidadãos de Schauffhausen em relação aos seus concidadãos? À primeira vista, deve-se a uma razão: o cantão mais ao norte do país a obrigatoriedade do voto existe há 140 anos. Quem não vota, paga multa. Até os anos 1970 está se limitava a um franco. Depois passou para três e, há um ano, acompanhou a inflação e aumentou para seis francos. É uma multa mais de caráter simbólico. Quem não quiser pagar, pode retornar a cédula eleitoral ainda não preenchida até três dias após o plebiscito. Então a multa é anulada.

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“Cada um deveria estar orgulhoso”

Não podemos falar, então, de uma obrigação opressora de participação política em Schaffhausen. O que então leva o eleitor às urnas? Teria se formado por lá uma compreensão política mais ressaltada? Thomas Minder, senador sem partido e representante do cantão no Conselho dos Estados (Senado suíço), diz: “Sim, estamos orgulhosos aqui em Schaffhausen de ter essa elevada participação eleitoral.”

A senhora de 83 anos e sua amiga de 79 compartilham da opinião. Com bonitos penteados, elas estão sentadas em um banco na parte antiga da cidade. A mais idosa diz: “Sim, tenho orgulho. Cada habitante daqui deveria também estar orgulhoso”. Sua amiga concorda com a cabeça.

Alguns metros distantes, em uma loja de móveis, a proprietária de 51 anos afasta a franja do rosto e afirma: “Orgulho? Não posso dizer isso. Eu acredito que a obrigatoriedade é que leva as pessoas às urnas”. No caso dela não foi necessariamente as multas, mas sim o hábito familiar de sempre participar dos plebiscitos. “Para nós é algo normal.”

O mesmo diz um aprendiz de marceneiro de 17 anos. Ele está em um ponto esperando o ônibus passar. Enquanto isso enrola o seu cigarro. Também na sua casa é costume falar de política na mesa da cozinha. No ano que vem completa 18 anos e passa, dessa forma, a ter direito de voto. “Estarei feliz de poder votar. E por que? Assim me pronunciar”, afirma. Mas confessa que poderá também esquecer, uma vez ou outra, o dia de votações.  

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Um homem de bigode, 45 anos, dá o mesmo depoimento. Ao lado, seu sanduíche. “Não, não participo sempre das eleições e plebiscitos. É cansativo fazê-lo. Temos de ir demasiadamente às urnas”. Depois de refletir alguns minutos, esse funcionário de depósito afirma considerar positiva a participação eleitoral elevada, o que o torna também orgulhoso. “Faz parte das nossas tradições.”

“Estamos quase vacinados para participar”

O cansaço de participar de tantas votações e plebiscitos também ocorre em Schaffhausen. Segundo um estudo da Universidade de Zurique de 2012, essa é uma das principais razões para explicar o baixo nível de participação eleitoral em toda Suíça, comparando-se a outros países.

Outra questão é a transferência de hábitos entre as gerações: se os pais negligenciam, ou recusam a participar politicamente, os filhos têm a tendência de fazê-lo. Depois transmitem esse comportamento aos seus próprios filhos. Um mecanismo que também funciona em Schaffhausen e, diferentemente, a principal razão para a participação eleitoral elevada do seu eleitorado.

Para o vice-prefeito Christian Ritzmann, os habitantes de Schaffhausen têm orgulho de participar da política. swissinfo.ch

Christian Ritzmann, vice-prefeito de Schaffhausen, está convencido. “Por várias gerações essa obrigatoriedade de voto tornou-se um dever cívico. Estamos quase vacinados para participar”. O ex-deputado Hans-Jürg Fehr (do próprio cantão) é ainda mais veemente. “A participação elevada se tornou ao longo dos anos a própria identidade de Schaffhausen, um marco do cantão – como o Munot ou as Quedas do Reno.”

Senso de obrigação através da proximidade

Segundo Christian Ritzmann, essa característica foi possibilitada pelas dimensões reduzidas do cantão: aqui os representantes políticos são mais acessíveis do que nos outros cantões, mais extensos. Com seus 80 mil habitantes, é mais fácil encontrá-los na rua, no ônibus ou ao lado, no restaurante. “Aqui os laços são de proximidade e, dessa forma, existe um sentimento de compromisso de participar politicamente”, afirma Ritzmann.

Mas até chegar às urnas esse sentimento não basta. “Como em outras comunas na Suíça, temos também dificuldade de encontrar novos talentos políticos em nível comunal”, reclama o senador Thomas Minder. Também o ex-deputado Hans-Jürg Fehr observa: “Apesar da participação eleitoral elevada, não sinto aqui mais engajamento político do que em outros lugares.”

Cultura de discussão

Robin Blanck, redator-chefe do jornal Schaffhauser Nachrichten, o único jornal diário do cantão, concorda, mas com ressalvas. “Eu acredito que ter aqui um debate mais intenso sobre questões políticas”. Duas vezes por semana o jornal publica na prestigiosa página 2, com exclusividade, as cartas de leitores. “Recebemos até cem cartas quando os temas são controversos”, conta Blanck.

Também as duas senhoras participam das discussões, não apenas através de cartas de leitores, mas também em discussões com políticos. “Quando estou chateada com alguma decisão política, sento na frente do computador”, diz a senhora de 79 anos. “Por vezes envio uma carta diretamente ao membro do governo ou a um ministro. Isso pode não dar em nada. Mas acho que devo dizer o que penso, já que a gente pode fazê-lo.” 

A participação política pode ser aumentada através da democracia direta? Dê sua opinião.

Adaptação: Alexander Thoele

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