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Vitória da profundidade

Retorno ao jornalismo puro: muitas pessoas querem contribuir para o surgimento de uma nova mídia na Suíça. Jan Bolomey

Em breve surgirá na Suíça uma nova mídia: o portal de informações batizado com o nome de "República". Trata-se da maior ação de crowdfunding (financiamento coletivo) já realizada na Suíça. Seus autores estão decepcionados com a mídia nacional. O sucesso do intento mostra que os leitores também. 

O objetivo era encontrar pelo menos três mil doadores. No final, mais de nove mil se mostraram dispostos, já na primeira semana, a apoiar o projeto “República”. A plataforma pretende oferecer, a partir de 2018, jornalismo na sua mais pura forma: sem comerciais, alianças ou mesmo consideração aos cliques. O projeto vai direto ao ponto. Seus autores explicam a sua necessidade com as seguintes palavras: “As grandes editoras abandonam o jornalismo. Essa é uma má notícia para a democracia. Pois sem informações adequadas, você pode tomar más decisões.”

Venda da imprensa livre

Não existem mais “informações adequadas” na Suíça? A democracia está à venda? De fato, muitos jornalistas acreditam hoje que está havendo uma liquidação geral da imprensa livre. Para muitos é sinal vermelho. Ao mesmo tempo, a ONG Repórter Sem Fronteiras classifica a Suíça em 7° lugar entre 180 países: ou seja, sinal verde. Ambos são verdadeiros.

Alguns fatores deixam os jornalistas suíços tão pessimistas:

Econômico: a transformação digital está mudando todo o setor da mídia. As rendas de publicidade vão para outros meios. Jornais, rádios e TV perdem para a Google, pois o popular motor de procura é capaz de veicular publicidade à medida para os leitores. Então as editoras tentam novos modelos de negócios para salvar a sua pele. As maiores empresas suíças do setor, as editoras Ringier e Tamedia mostraram ser criativas para enfrentar esse período de transição e investem, sobretudo, nas plataformas de comércio eletrônico. Já as redações procuram utilizar melhor suas sinergias, fazem cortes de emprego e reforçam as cooperações. O modelo tradicional de negócio está ultrapassado: informações para os leitores – leitores para a publicidade.

Política: adeptos das chamadas “notícias alternativas” se uniram na Suíça em enxames ágeis, capazes de agitar nas redes sociais para criticar as chamadas “mídias dominantes”. A Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão (SRG SSR), a empresa pública de televisão e rádio da Suíça responsável, dentre outros, pelo portal de informação swissinfo.ch, não está imune a esses ataques. Futuramente irá enfrentar uma iniciativa popular (n.r.: projeto de reforma constitucional levado às urnas em plebiscito), cujo principal objetivo é a supressão da taxa anual de recepção de rádio e TV (atualmente na ordem de 450 francos). Todos os partidos são contra, mas a proposta encontra simpatia em alguns setores do eleitorado. Quem gosta de pagar essas taxas? E quem nunca ficou chateado com algum programa?

Social: os suíços são um povo de viajantes diários. Aproximadamente 1,1 milhões de pessoas utilizam os transportes públicos. Dois jornais gratuitos são distribuídos nas estações de trem e pontos de ônibus. Essas publicações contribuíram para o sentimento de que notícias se tornaram um produto básico. Eles aproveitaram do fato de que muitos passageiros gostam de ler os jornais para se distrair durante o trajeto. Os leitores acabam recebendo apenas o que lhes interessa: informações sobre a guerra na Síria ao lado de reportagens sobre as últimas tendências de corte de pelos pubianos.

Disso vem a afirmação: “informações ruins para a democracia”.

A frase funciona como um grito de guerra para uma ação de coleta de dinheiro. Porém ignora o fato de que a razão do problema é outra: ela é o próprio leitor. Nosso cérebro está cada vez mais preguiçoso e o mundo nunca esteve tão complexo. Essa é a novidade e a partir dela chegamos à seguinte conclusão: obviamente muitos suíços têm a necessidade de se distrair. Isso mostra o desenvolvimento da mídia. Ao lado disso existem milhares que querem estar despertos e que estão dispostos a pagar por isso. Isso demonstra o sucesso do projeto “República”. Os dois pontos são verdadeiros. 

Adaptação: Alexander Thoele

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