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“Um ambiente e uma economia saudáveis são indissociáveis”

Martin Bäumle é o presidente dos verdes liberais desde a criação do partido. Keystone

Para os Verdes liberais, a economia também pode se beneficiar da grande transição energética, que deve levar a um abandono gradual da energia nuclear e fóssil. O jovem partido de centro quer construir uma sociedade sustentável com receitas liberais. swissinfo.ch entrevista seu presidente, Martin Bäumle.

Nas eleições federais em outubro, os verdes liberais esperam consolidar seu resultado surpreendente de 5,4% de votos obtidos quatro anos atrás. Mas essa força emergente deve primeiro recuperar do forte revés vivido através do plebiscito de 8 de março de 2015, quando sua primeira iniciativa popular – a proposta de substituição do imposto de circulação de mercadorias por um imposto sobre a energia não renovável – foi então rejeitado por…92% dos eleitores.

swissinfo.ch: Herr Bäumle, quais são as duas prioridades do Partido Verde Liberal Suíço para o próximo período legislativo, que inicia depois das eleições deste ano?

Martin Bäumle: Em primeiro lugar, queremos implementar a virada energética de uma forma liberal. Estamos empenhados em implementar um modelo de energia eficiente e econômico, que reduza os danos ao meio ambiente e construa uma sociedade sustentável. Em segundo lugar, queremos manter e reforçar a Suíça como um local com bom padrão econômico e de qualidade de vida. Por isso apoiamos o surgimento e a ampliação do Parque de Inovação.

swissinfo.ch: O Partido Verde Liberal Suíço quer conciliar o desenvolvimento sustentável com interesses econômicos liberais. Não seriam dois caminhos antagônicos?

M.B.: Não, muito pelo contrário. Um meio ambiente saudável e uma economia saudável são muito compatíveis. Sem um meio ambiente equilibrado, a população sofre, e a economia não consegue funcionar. Por outro lado, os setores econômicos também conseguem ganhar dinheiro com políticas ecológicas.

As soluções liberais são decisivas. Se os setores econômicos conseguirem ganhar dinheiro com o meio ambiente – por exemplo com tecnologia limpa –, eles terão interesse em fazê-lo. Se obrigamos estes setores a fazer negócios sustentáveis ou se estabelecemos regras, fica mais difícil. Eles ficam com a sensação de que têm que fazer algo que não lhes traz lucro. E se algo não lhes trouxer lucro, eles serão contra.

A entrevista foi realizada em março.

swissinfo.ch: Em março a população rejeitou com uma boa margem a iniciativa popular “Imposto sobre energia em vez de imposto sobre valor agregado”, do partido verde liberal. Quais são as propostas do seu partido para acelerar a virada energética apesar desta derrota?

M.B.: Continuamos convencidos de que, para implementar a virada energética da melhor maneira possível, direcionar é melhor do que exigir. Isto significa reduzir o uso de energias fósseis, abandonar a energia nuclear e ampliar a proporção de energias renováveis. Vamos trabalhar construtivamente e desenvolver nossas propostas a fim de encontrar soluções que sejam boas para a maioria da população. Soluções que funcionem realmente como norteadoras e que possam conduzir à diminuição das subvenções atuais.

swissinfo.ch: Quatro anos depois do desastre de Fukushima, a resistência contra a virada energética aumentou. O senhor acredita que a estratégia energética 2050 do Conselho Federal, que conduziria ao abandono da energia nuclear e a uma melhor proteção climática, ainda é consenso entre a maioria?

M.B.: Há tempos que a direita tenta frear esta tendência. Qualquer episódio – como por exemplo a alta do franco suíço –, é usado para opor resistência e combater a virada energética. Espero, porém, que os partidos de centro não sigam esta tendência e prossigam no curso que nós traçamos, ou seja, de implementar a primeira parte da estratégia energética e decidir e introduzir o mais rápido possível um sistema de tributação ambiental.

swissinfo.ch: A implementação da “iniciativa contra a imigração de massa” tem causado calorosas discussões desde 9 de fevereiro de 2014. Para a União Europeia, estabelecer contingentes de imigração é incompatível com o Acordo de Livre Circulação de Pessoas. Até onde vocês estão dispostos a ir para salvar os acordos bilaterais?

M.B.: Teremos que buscar uma implementação pragmática da iniciativa que respeite basicamente o artigo da Constituição e mesmo assim mantenha os acordos bilaterais. Esta tarefa não é nada fácil, mas existem várias soluções, como o modelo sugerido pelo ex-secretário de Estado Michael Ambühl. Segundo este modelo, a Suíça poderia introduzir uma cláusula de proteção a partir de um determinado número de imigrantes. Este seria um modelo que outros países da União Europeia com problemas semelhantes poderiam adotar.

Na minha opinião, podemos alcançar os dois objetivos de forma pragmática. Mas há a remota possibilidade de não encontrarmos uma solução e o povo ter que decidir. Neste caso, nosso partido defende os acordos bilaterais e não a implementação legal e restrita da iniciativa. Para o nosso partido, os acordos bilaterais são claramente prioritários.

swissinfo.ch: Qual a receita do Partido Verde Liberal Suíço para amenizar os efeitos da alta cotação do franco suíço?

M.B.: Na nossa opinião, a alta cotação do franco suíço não é um problema real. Consideramos esta discussão totalmente exagerada. Em comparação, a implementação da iniciativa contra a imigração de massa sobrecarrega muito mais a economia, pois pode levar muitas empresas a sofrerem com falta de mão de obra e gerar insegurança.

Alguns setores da indústria de exportação são afetados pela alta do franco suíço, mas as empresas que fizeram a lição de casa estão sob controle. Eles tiveram quatro anos de prazo para amenizar os riscos desta alta na cotação. Certamente o turismo também está sendo afetado, mas neste setor também há problemas estruturais acumulados há anos.

Seria um equívoco interferir agora com medidas de apoio e reagir com decisões erradas. É importante continuar a desenvolver positivamente as condições gerais do sistema econômico suíço e permanecer com espírito inovador. Este é o nosso foco.

swissinfo.ch: Nos últimos anos, o islamismo tem gerado polêmicas como o debate sobre o uso do véu, radicalismo, atos terroristas. Que lugar o Islã deve ocupar na sociedade suíça?

M.B.: Como um partido secularista, a liberdade religiosa é um bem valioso para nós. Em sua esfera privada, cada um pode professar a religião que quiser. A maioria dos cidadãos muçulmanos na Suíça vivem como eu e você, normalmente. Não devemos fazer drama. Mas claro que existem radicais, e aí temos alguns problemas que precisam ser tratados. Precisamos agir em relação a pessoas que não se comportam corretamente. Mas isso independe da religião.

Acho que o radicalismo é antes um problema global. Por sorte a Suíça é menos atingida, talvez porque tenhamos proporcionalmente uma boa política de integração. Não vejo uma situação ameaçadora na Suíça. A população tem alguns medos que temos que levar a sério. Mas isso não significa ser contra muçulmanos em geral, mas combater claramente a radicalização.

Verdes liberais

O Partido Verde Liberal foi fundado em 2004 em Zurique como uma dissensão da seção cantonal do Partido Verde Suíço (Verdes), agrupando um grupo de políticos mais liberais.

Primeiramente ativos somente nos cantões de Zurique e St. Gallen, os verdes liberais criaram uma estrutura nacional em 2007 e obtiveram 2,1% dos votos nas eleições federais. Quatro anos mais arde, esse partido obteve 5,4% dos votos. Hoje, os verdes liberais estão presentes em vinte cantões.

O partido é presidido pelo deputado-federal Martin Bäumle Zurique. Formado em química pela Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH), ele é o chefe de uma empresa de consultoria.


Adaptação: Fabiana Macchi

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