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Índio diz que é preciso conscientizar

Carlos Miguel Baniwa, na Amazônia Brasil, em Lausanne. swissinfo.ch

Carlos Miguel Baniwa sabe o que diz quando fala dos perigos da devastação da floresta amazônica, para os índios mas também para o mundo inteiro.

Ele é da tribo Baniwa e suas aldeias ficam a mais de mil km a oeste de Manaus mas também na Colômbia e na Venezuela.

Carlos Miguel Baniwa, como sempre ocorre, tem o sobrenome de sua tribo, que vive no meio da floresta amazônica, muito longe de tudo. Ele esteve na exposição Amazônia Brasil, em Lausanne, oeste da Suíça, para testemunhar dos perigos do desmatamento.

Em debate durante a exposição, Carlos explicou que as pinturas que trazia no rosto eram sagradas porque simbolizavam a fartura da época em que as frutas estão maduras. Disse ainda saber que a devastação da floresta prejudica primeiramente os índios mas o mundo inteiro também é prejudicado.

swissinfo: você acha que está aumentando a preocupação das pessoas com os problemas da Amazônia?

CMB: Essa preocupação está sendo manifestada pela segunda vez na Europa e pela primeira vez na Suíça. Mas eu acho que ainda é muito pouco porque fizemos um debate aqui e compareceram poucas pessoas e geralmente as que já informadas e que fazem questão de participar. Mas a cada vez que derem espaço, nós procuraremos mostrar que há uma preocupação muito grande com a realidade da Amazônia. E não é só se preocupar com a Amazônia indígena … mas também com os caboclos das regiões ribeirinhas.

Mas vocês sentem alguma mudança ou a situação só piora?

CMB: Há algumas mudanças positivas. Tem uma luz no fim do túnel que ainda está longe mas eu tenho certeza que, pouco a pouco, nós conseguiremos conscientizar parte da população

Onde estão e quantos são os Baniwa?

CMB: No noroeste do Amazonas, a mais de mil kms de Manaus. No Rio Sana, são 42 aldeias Baniwa com 7.500 pessoas. No estado do Amazonas, somos 12.800. Incluindo Colômbia e Veneuela, são 17.800 Baniwa.

Com as terras já demarcadas mas quais os principais problemas que vocês enfrentam?

CMB: Temos pouquíssima ajuda do governo. Nós conseguimos viver sem dinheiro e objetos de consumo, mas não podemos ficar lá isolados. Temos de sair para estudar, sair em busca da informação para depois ajudar o nosso povo, mas há muito pouca ajuda. Há Ongs que ajudam mas o que os órgãos do governo fazem com a gente é dificultar o acesso aos projetos, com muita burocracia. Na aldeia, nos fazemos nossas canoas sem depender de muita papelada mas, sair para estudar já é muito difícil.

Você diz que o trabalho de conscientização é importante mas viver na floresta não é melhor?

CMB: A vida com certeza é melhor. Não há dinheiro que pague! Mas o que será de nós se não sairmos para divulgar como nós e a floresta estamos sendo massacrados? Se ficarmos só lá, não teremos futuro. Temos que explicar que não pode ser assim e encontrar uma solução para defender a floresta.

Mas você não tem vontade de voltar correndo pra lá?

CMB: É, tem essa saudade muito grande né? Saudade de voltar para a aldeia, ver meus familiares. Acho que todo mundo tem saudade de onde veio. Ainda mais lá que não corro perigo de assalto nem nada. Lá eu tenho paz e alegria. Lá eu sou feliz.

Entrevista swissinfo: Claudinê Gonçalves

12.800 índios Baniwa vivem no estado do Amazonas.
7.500 estão no região do rio Sana, mil kms a oeste de Manaus, em 42 aldeias.
Incluindo os da Colômbia e da Venezuela, são 17.800 Baniwa.

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