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“A consulta popular foi um sucesso”

Toni Brunner, presidente da UDC, segura o questionário enviado a 3,9 milhões de lares suíços. swissinfo.ch

A União Democrática do Centro (UDC/SVP - partido majoritário no país) apresenta os resultados de um questionário enviado em 1° de agosto a 3,9 milhões de lares suíços com temas ligados a política de estrangeiros e asilo na Suíça.

Apesar do baixo retorno da população, a direção do partido vê confirmado o apoio às suas propostas. Dentre elas, a de expulsar estrangeiros criminosos ou clandestinos da Suíça.

Três semanas antes da realização de vários plebiscitos na Suíça (28 de novembro), a UDC apresentou ontem (09/11) os resultados de uma pesquisa de opinião não representativa apoiando suas teses em questões de política de asilo e de estrangeiros. A demonstração foi contestada por representantes do Partido Verde através de diversas ações organizadas durante o dia.

“A consulta popular, lançada em 1° de agosto, foi um sucesso”, assegurou o presidente da UDC, Toni Brunner, durante uma coletiva de imprensa. Dos questionários enviados a 3,9 milhões de lares na Suíça, o partido recebeu 70 mil respostas (1,8%). “É um número considerável, sobretudo ao vermos que não se tratava de uma competição”, avaliou o político. No entanto foi impossível para ele de determinar a tipologia das pessoas que participaram da consulta.

À título de comparação, os questionários do Departamento Federal de Estatísticas (OFS, órgão responsável pelo levantamento de estatísticas na Suíça) obtém pelo menos 60% de respostas. Se a participação é mais fraca, os técnicos partem do princípio que apenas as pessoas interessadas participaram, explica a seção Métodos estatísticos do OFS. Dessa forma não houve representatividade.

Acabar com o asilo

O questionário da UDC apresentava diversas teses caras ao partido e que foram bem recebidas pelos participantes da consulta. Segundo Toni Brunner, 67,2% aprovam uma expulsão sistemática de estrangeiros criminosos e um número pouco abaixo também de clandestinos. O presidente do partido, que é majoritário no Parlamento, se alegrou com os resultados, sobretudo frente ao próximo plebiscito no qual os eleitores irão decidir o destino de uma proposta de lei (iniciativa popular) apresentada pela UDC.

Ainda na consulta, dois terços dos participantes apoiam a introdução da naturalização em estágio comprobatório ou a supressão do visto de residência em casos de longa dependência de assistência social.

Junto com as propostas apresentadas no questionário, os participantes também tinham a liberdade de apresentar suas próprias propostas. Nelas, 370 pessoas declararam querer uma suspensão das naturalizações e 98 reclamaram a supressão do direito de asilo político. Houve os que propuseram também a proibição da dupla-nacionalidade. O presidente da UDC relativizou algumas dessas propostas. “Não são todas as ideias que consideramos boas”, disse Brunner.

Uma das teses levantadas pela UDC no questionário recebeu pouco apoio dos participantes: a proposta de cancelar o Acordo de livre circulação de mão de obra firmado entre a União Europeia e a Suíça. “Com isso vemos que nossos resultados não lembram os da ex-República Democrática da Alemanha”, declarou Brunner, citando as tradicionais maiorias absolutas comuns durante as eleições nesse antigo país comunista.

Toni Brunner se absteve de revelar os custos da operação executada pelo partido. Um grupo interno de trabalho irá verificar a oportunidade de traduzir os resultados em uma iniciativa popular, indicou ainda o deputado-federal Guy Parmelin.

Protestos

O artista zuriquense Aloïs B.Stocher tentou interromper a coletiva de imprensa ao desenrolar um cartaz, mas foi expulso pelos organizadores.

Durante a manhã de ontem (09/11), representantes do Partido Verde também organizaram uma coletiva satírica pra denunciar o “disparate” da consulta. “De quatro milhões de formulários enviados, nós recebemos 13 milhões de respostas, o que prova a importância do tema”, declarou uma ativista. Seu grupo apresentou gráficos bizarros mostrando, por exemplo, que “aproximadamente 120% dos participantes querem a naturalização em estágio comprobatório”.

Um site na internet foi criado (www.cequeludcvouscache.ch) para contrapor as afirmações da UDC, anunciou o deputado-federal do Partido Verde, Antonio Hodgers. “Nós descobrimos 52 manipulações, ou seja, 14 falsificações, 19 mentiras e 19 omissões no documento” da UDC, segundo ele.

A realidade dos estrangeiros na Suíça é muito mais complexa do que afirma a UDC, estima o parlamentar genebrino. O site oferece também “vídeos humorísticos sobre as técnicas de manipulação da UDC”.

Às críticas feitas pelos ecologistas, Toni Brunner responde lembrando que a consulta não é representativa, mas que seu principal objetivo era descobrir “onde o sapato mais aperta o pé” no país.

No questionário enviado em 1° de agosto pela UDC, a população era convidada a responder as seguintes questões.

Os questionários foram enviados a 3,9 milhões de lares. Desses, 70.123 foram preenchidos e reenviados.

As questões e os resultados (entre parênteses).

Eu apoio as seguintes medidas (cruzar as respostar que lhe convém)

– Anulação do Acordo de livre circulação de pessoas com abertura imediata de novas negociações. (58,3%)

– Anulação do Acordo de livre circulação de pessoas sem abrir novas negociações. (29,6%)

– Supressão do direito de recurso durante processos de naturalização. (59,9%)

– Naturalização em estágio comprobatório. (63,8%)

– Cancelamento do visto de residência no caso de dependência à longo prazo prazo de assistência social. (61,4%)

– Reagrupamento familiar reservado às pessoas que têm conhecimentos linguísticos suficientes (das línguas nacionais). (60,6%)

– Expulsão sistemática de criminosos estrangeiros. (67,2%)

– Declaração de lealdade dos imigrantes. (63,6%)

– Expulsão sistemática de clandestinos. (63,9%)

– Instalação de um hotline nacional para anunciar casos de abusos. (55,0%)

– Eu não posso apoiar nenhuma dessas medidas, pois elas não me parecem aptas a solucionar os problemas visados. (13,2%)

– Eu não vejo problemas na questão dos estrangeiros. (10,6%)

– Minhas próprias propostas:

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