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“A Suíça deve reconhecer suas crianças”

Ada Marra, deputada-federal pelo Partido Socialista. Andrea Tognina

Filha de imigrantes italianos na Suíça, a socialista Ada Marra se elegeu em outubro passado na Câmara dos Deputados. Leia aqui o retrato de uma jovem parlamentar apaixonada por política e que não faz mistério da sua fé católica.

“Sou uma combatente, uma militante”. É assim que se define Ada Marra, 35 anos, que há pouco tempo exerce seu mandato no Conselho Nacional (Câmara dos Deputados na Suíça), após passar quatro anos nos bancos do parlamento cantonal de Vaud e uma longa experiência de sete como secretária-geral da seção cantonal do Partido Socialista.

Nascida na Suíça de uma família operária de migrantes italianos e crescida em um vilarejo “relativamente opulento” nas proximidades de Lausanne, a parlamentar descobriu cedo a diferença entre ricos e pobres. “Sempre me senti mal frente à desigualdade. Logo compreendi que nem todos têm as mesmas chances na vida. Existem aqueles que podem escolher e outros que têm de aceitar o seu destino”, declara.

Polícia a 100%

O fato de ter escolhido tão cedo o seu campo, levou-a a dedicar-se integralmente à política, ao contrário da maior parte dos seus colegas parlamentares. Estes mantêm geralmente um pé no mundo do trabalho ou completam seus rendimentos através de diversos mandatos como conselheiros administrativos de empresas.

“Com seis mil francos líquidos por mês (n.r: US$ 5.800) por mês posso viver sem problemas”, ressalta Ada. O importante para ela é ter tempo suficiente para estudar todos os projetos de leis e outros documentos que recebe. “Para fazer bem esse trabalho”. E com relação a sua saúde, ela evita todo o estresse excessivo.

Apesar de ser uma profissional da política, Ada Marra reconhece que nessa profissão – que lhe dá “um grande prazer” – ainda tem muito a aprender. Porém ela evita cair nos costumes freqüentes da classe política: “Que pensam muito em aparecer ou correr atrás dos jornalistas”.

No fundo, ela guarda um perfil de militante. “Eu creio que a única alternativa ao sistema atual não passa pelos partidos, mas através das associações”, afirma. “Os partidos são uma garantia de democracia”.

Três temas prioritários

O início da sua atuação no Parlamento helvético foi marcado pela não-reeleição do ministro Christoph Blocher ao governo federal em 12 de dezembro de 2007. “Não poderia ter começado melhor”, ressalta com um grande sorriso. Porém suas prioridades são outras.

“Ao entrar no congresso, descobri o número de iniciativas parlamentares, de moções e outros postulados que se acumulavam. Eu não quero produzir tanto papel. Eu quero sim concentrar-me sobre dois ou três temas importantes e trabalhar com outros partidos. Só assim podemos ter sucesso”, analisa.

Dentre os temas preferidos estão, sobretudo devido à própria história familiar, o da integração. Outra prioridade: a luta contra o analfabetismo – Ada Marra é presidente da Associação Ler e Escrever. Além disso, ela se interessa por questões ligadas à formação e ajuda social. “Este é um tema que eu ainda não conheço muito bem, mas que pretendo estudar nos próximos anos”.

Os naturalizados do Parlamento

Graças à iniciativa de Ada Marra, um grupo de parlamentares naturalizados foi constituído no Congresso com representantes de todos os grandes partidos, menos da União Democrática do Centro (UDC/direita nacionalista). “Constatamos no Parlamento um aumento do número de pessoas que têm uma história pessoal mais ou menos ligada à questão da imigração”.

Ela estima que essas pessoas possam estar mais bem habilitadas a reagir aos ataques repetidos da direita nacionalista contra as naturalizações. E isso não apenas através da iniciativa popular, que será submetida à votação nas urnas em 1° de junho, do qual Ada Marra tem uma posição extremamente favorável.

“A iniciativa da UDC é muito perigosa, pois ela tem por fim transformar o povo soberano em um tribunal popular. Isso é o problema. Se a UDC quisesse realmente diminuir o número de naturalizações, ela só precisaria reivindicar critérios de admissão mais severos”, conclui.

Porém a jovem socialista vê muito mais longe. “Se essa iniciativa for rejeitada, haverá uma réplica. Nesse caso, eu apresentaria pessoalmente em dois de junho uma proposta em favor da naturalização automática para a terceira geração de estrangeiros. A Suíça deve reconhecer suas crianças! É impossível considerar como estrangeiro uma pessoa nascida na Suíça, de pais nascidos na Suíça e que vivem aqui há décadas”.

“Jesus era de esquerda”

Combativa, com um perfil claro de esquerda, Ada Marra escapa dos estereótipos de uma parlamentar socialista. Sobretudo sua fé religiosa, que se explica pela forte educação católica recebida em casa, se desenvolveu de uma forma autônoma, alimentada pelo engajamento social da parlamentar.

“Para mim Jesus era socialista”, afirma com um tom seguro na voz. “Quando a religião fala de irmãos e irmãs, estamos falando de camaradas. Eu vejo, às vezes, que existe uma certa incompreensão entre os católicos, mas também entre os socialistas. Isso ocorre quando estou em uma posição difícil ao debater questões sensíveis como o aborto”.

“A lei deve permitir a liberdade de escolha. A escolha que fiz de ser contra o aborto diz respeito somente a mim. A Igreja não deve fazer campanhas por uma lei contra. Por outro lado, ela deve ter o direito de exprimir sua opinião frente à sociedade”.

swissinfo, Andrea Tognina

Nascida em Lausanne, em 1973, de pais italiano, Ada Marra estudou ciências políticas. Aos vinte e cinco anos tornou-se membro do Partido Socialista e, em pouco tempo, secretária-geral da seção do cantão de Vaud.

Em 1998, ela se naturalizou suíça. Depois atuou sete anos no Parlamento do cantão de Vaud. Durante um ano e meio, ela trabalhou também como secretária-geral da União Suíça dos Estudantes Universitários.

Ela é ainda presidente da Associação Ler e Escrever. Em outubro de 2007, substituiu a deputada Géraldine Savary no Conselho Nacional (Câmara dos Deputados), que havia sido eleita para o Conselho de Estados (Senado Federal).

Se a Suíça jogar contra a Itália durante a Eurocopa, ela irá torcer provavelmente para a Itália. “De todas as maneiras, eu estarei ganhando”, diz.

O Parlamento se reúne de 26 de maio a 13 de junho, ou seja, uma semana mais cedo, para que os parlamentares suíços possam acompanhar a Eurocopa.

Temas principais na pauta de debates:
– financiamento do seguro por invalidez e a iniciativa para uma aposentadoria flexível (Conselho de Estados, 27 de maio).
– renovação do acordo sobre a livre circulação de pessoas com a União Européia e sua extensão à Romênia e Bulgária (Conselho Nacional, 28 de maio).
– financiamento da infra-estrutura ferroviária e das novas transversais ferroviárias alpinas (Conselho de Estados, 3 de junho).
– abolição da Lei Koller, que regulamenta a aquisição de imóveis por cidadãos estrangeiros (Conselho de Estados, 4 de junho).
– artigo constitucional sobre a pesquisa sobre seres humanos (Conselho Nacional, de 4 a 5 de junho).
– Lei federal sobre patentes (Conselho Nacional, 5 de junho)
– cooperação técnica e ajuda financeira aos países em desenvolvimento (Conselho Nacional, 9 a 10 de junho).

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