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“A Suíça discriminou refugiados judeus”

Estudo publicado na Suíça sobre atitude do país quanto a refugiados no período nazista constata uma política discriminatória em relação aos judeus decorrente de um "antisemitismo cultural". E revela que a Suíça acolheu 20 mil judeus e rejeitou 24 mil.

A Suíça “neutra” discriminou refugiados judeus desde 1938 e endureceu sua política em relação a eles desde meados de 1942, fechando as fronteiras, quando já dispunha de informações sobre as práticas nazistas de exterminação dos cidadãos de origem judaica. É o que firma o chamado “Relatório Bergier” – do nome do historiador que chefia uma comissão internacional independente de investigadores encarregada pelo Parlamento suíço de vasculhar o passado da Suíça no período da Segunda Guerra Mundial. O estudo de 800 páginas explica a atitude suíça como sendo um “antisemitismo cultural” resultante de uma antiga tradição cristã de rejeição dos judeus. Constata que no período da Segunda Guerra, a Suíça acolheu 51 mil refugiados, dos quais 20 mil judeus. Mas realça dispor de “prova que 24500 refugiados foram rejeitados na fronteira” de janeiro de 1940 a maio de 1945 (fim da guerra).
O estudo lembra que já em 1938, para conter o afluxo de refugiados judeus da Austria – imediatamente depois da invasão do país pela Alemanha – a Suíça favoreceu a introdução do carimbo J nos passaportes de candidatos à imigração de origem judaica. Essa iniciativa é denunciada no estudo: “sem o J teria sido possível a grande número de vítimas do nacional-socialismo (alemão) escapar da perseguição transitando pela Suíça ou por outros países. Distinguindo “arianos” e “não-arianos”, o governo suíço “reconheceu implicitamente as leis raciais alemãs e entrou na lógica do nacional-socialismo”.
O estudo detalha as conseqüências do fechamento das fronteiras da Suíça aos refugiados, quando a Suíça estava praticamente cercada pelas tropas do Eixo e o país era a única esperança de salvação para milhares de judeus. Realça que a Suíça estava consciente de que eles sofriam perseguição racial e que portanto “as autoridades suíças contribuíram – intencionalmente ou não – a que os regime nazista atingisse seus objetivos”. A Suíça sabia que destino era reservado aos refugiados: deportação e extermínio. Fechando as fronteiras, a Suíça invocou problemas de abastecimento, o que o estudo contesta, estimando que abertura das fronteiras não teria acarretado ofensiva alemã nem insuperáveis dificuldades econômicas.
O estudo ressalva porém não ter havido “responsabilidade coletiva” dos suíços. Houve organizações e diferentes meios da opinião pública que criticaram a atitude oficial. E houve quem a interpretasse as diretrizes de modo liberal. Enfatiza também que o antisemitismo na Suíça não tinha caráter ideológico como na Alemanha. Era mais de cunho social, político e cultural. Realça ainda o receio da “super-população estrangeira” existente desde a Primeira Guerra que englobava o medo de um “enjudeusamento” do país.
Resta que o “Relatório Bergier” apresenta balanço sem complacência das medidas restritivas tomadas de 1938 a 1945 no domínio do asilo político. E com diz um observador da política nacional, “vem confirmar um dos capítulos mais sombrios da história da Suíça moderna”. (gb)


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