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“Como chegamos ao universo?”

Robert Aymar, cem metros abaixo da terra, em um túnel do LHC. Keystone Archive

As questões que serão analisadas pelo LHC, o novo acelerador do CERN (sigla em francês para Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear) dizem respeito à criação da matéria, "os primeiros passos da nossa existência".

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Elas não são nada menos do que essenciais, ressaltou Robert Aymar, diretor-geral da instituição, no Clube Suíço da Imprensa.

Saber o que aconteceu na fração de segundos após o Big BangLink externo, ou o que é feito a matéria escuraLink externo ou se os bósons de HiggsLink externo existem ou se são apenas uma teoria escrita no papel, e como tudo isso irá mudar a minha vida?

“A humanidade sempre procurou compreender o meio que a cerca”, responde Robert Aymar. “As questões mais essenciais são saber como o universo foi criado, como nos chegamos nesse universo ou como a matéria-vida foi criada a partir da matéria inerte”, completa o diretor-geral do CERN.

Difícil de responder, desde que não há um acordo: estas questões são bem essenciais e devem interessar a todo o mundo.

Como no início dos tempos

Para tentar respondê-las, o CERN conta, há mais de meio século, com a ajuda de talentos de quase metade de toda a comunidade mundial de físicos de partículas, e também de máquinas que só o centro possui.

A mais recente é o LHC, letras enigmáticas para denominar o grande acelerador de partículas sem alvo fixo de hádronsLink externo. Em algumas semanas ele estará em funcionamento. Contrariamente ao seu predecessor, o LEP, que jogava elétrons uns contra os outros, a nova máquina colocará em colisão feixes de prótons, que são muito mais pesados e energéticos.

“Essas colisões criam condições de energia muito próximas às da que existiam no momento da criação do mundo”, revela Robert Aymar. Elas geram partículas do mesmo tipo das que nasceram com o Big Bang, e cujo estudo permite melhor compreender o que deve ter acontecido no início dos tempos, a treze bilhões de meio de anos atrás.

Higgs, onde está você?

Nessa época, se acreditamos na teoria geralmente admitida, as partículas não tinham massa. E ao se resfriar é que o universo primordial teria criado um campo de força, denominado “campo de Higgs”. Para simplificar, a história apenas reteve o nome do primeiro dos três cientistas que postularam sua existência: Peter Higgs, Robert Brout e François Englert.

A partícula associada a esse campo, o bóson de Higgs, será aquela que dá sua massa às outras, segundo um processo que o físico britânico, hoje em dia na casa dos oitenta anos, explica da seguinte maneira:

Imaginemos uma cantora qualquer, que entre em uma sala repleta de fãs. O primeiro é o bóson e, os outros, o campo de Higgs. Quando ela atravessa o salão, as pessoas se aglutinam ao seu redor e freiam sua caminhada. Os fãs dão-lhe uma inércia e, dessa forma, uma massa.

Na prática, a detecção deste bóson se torna extremamente difícil pelo fato de ninguém conhecer sua própria massa. E assim é necessário explorar sistematicamente a gama de massas na qual se imagina que ele possa ser encontrado. Isso explica a principal razão da construção do LHC.

Pode ser que nada seja encontrado simplesmente pelo fato do bóson de Higgs não existir de verdade. Neste caso, a teoria desaba e os físicos deverão elaborar outra para explicar por que as partículas têm uma massa. Depois ela terá de ser demonstrada através de experimentos.

Língua universal

É possível compreender porque o CERN mobilizou a elite mundial dos físicos para resolver problemas de tal complexidade. Nessa escolha, a nacionalidade não tem nenhuma importância.

“O talento humano não tem fronteiras”, diz Robert Aymar, fazendo uma homenagem aos “visionários que criaram o CERN no final da II. Guerra Mundial e que souberam, desde o início, este seria um instrumento de unificação da Europa, onde os inimigos do passado trabalham agora em conjunto”.

Rapidamente esta colaboração européia, “utilizando a linguagem universal que é a linguagem científica”, se tornou planetária. Durante toda a Guerra Fria, americanos e soviéticos pesquisavam lado a lado e trocavam entre si os resultados. Hoje em dia, essa cooperação é vista nos corredores dos laboratórios entre indianos e paquistaneses ou mesmo árabes e israelenses.

Obter um Prêmio Nobel? “Impossível. O Nobel é atribuído a no máximo três físicos. Desde o início da concepção do nosso projeto, a vinte anos atrás, o LHC já empregava mais de nove mil”, rebate Robert Aymar.

Um gracejo? Certamente, mas que sublinha a que ponto as grandes descobertas de hoje já não podem ocorrer fora do trabalho de equipe.

swissinfo, Marc-André Miserez

“Não existe um botão que podemos pressionar para colocar em funcionamento o LHC”, explica Robert Aymar, para ilustrar o lento processo de arranque da máquina.

Atualmente, sete oitavos do anel gigante de 27 quilômetros foram levados a 271 graus centígrados abaixo do zero, temperatura necessária para o funcionamento dos ímãs que aceleram as partículas. Ainda sobra um último trecho a esfriar, o que deve levar algumas semanas.

Os primeiros feixes de prótons devem então começar a circular nos tubos já a partir do início de julho. A elevação da potência será progressiva, em razão dos testes indispensáveis de segurança. A primeira colisão “útil” para os pesquisadores ocorrerá durante o verão.

É muito pouco provável que esta revele de uma só vez o Bóson de Higgs (clique AQUILink externo para ler o artigo da Wikipédia). “Nós acumularemos medições por dois anos e sua interpretação levará muito tempo”, ressalta o diretor-geral do CERN.

Os chefes de Estados e os governos dos países que participaram da aventura não irão esperar até lá: eles já foram convidados à inauguração oficial do LHC em 21 de outubro de 2008.

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