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Políticos cobram esclarecimentos sobre o papel da Suíça

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Os serviços secretos da Alemanha e Estados Unidos (BND e CIA) escutavam desde os anos 1970 os sistmas de comunicação encriptada de governos, embaixadas e comandos militares graças aos sistemas da empresa suíça Crypto. Keystone / Matthias Schrader

Quem sabia o que e quando? Políticos suíços reagem à confirmação de que os serviços de inteligência dos EUA e da Alemanha espionavam outros países através de sistemas de encriptação manipulados do fabricante suíço Crypto. Da direita à esquerda: todos concordam que a Suíça precisa esclarecer o caso.

Os rumores de que uma empresa suíça trabalhava para o serviço secreto americano, a CIA, já circulava há anos. Porém os detalhes revelados no relatório de 280 páginas, publicados ontem pelos canais de televisão SRF (Suíça), ZDF (Alemanha) e o jornal The Washington Post superaram até as piores expectativas dos parlamentares no Palácio Federal.

O deputado-federal Balthasar Glättli (Partido Verde) declarou à SRFLink externo que se tratava de “um assunto politicamente explosivo, pois segundo as informações disponíveis, a operação durou até 2018. Eu acredito que o serviço secreto suíço sabia delas.”

Outros parlamentares manifestaram menos surpresa ao descobrir que a Crypto era uma empresa de fachada da CIA, mas não imaginavam a escala da operação. “Eu já sabia do caso”, declarou Christa MarkwalderLink externo (Partido Liberal), mas completa. “No entanto não fazia ideia do nível da amplitude e do número de países onde esses aparelhos manipulados eram utilizados.

Políticos do Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão – direita nacionalista) também ficaram alarmados com os relatórios. “É um caso gigantesco de espionagem”, afirmou o deputado-federal Franz GrüterLink externo.

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Governo suíço investiga empresa de criptografia do país ligada à CIA

Este conteúdo foi publicado em O Conselho Federal (governo) confirmou na terça-feira (11) que está investigando os relatos de que a Crypto, uma empresa de criptografia de comunicações baseada em Zug, pertenceu secretamente à CIA e ao serviço secreto da Alemanha Ocidental durante décadas. Os serviços de inteligência estrangeiros adquiriram a empresa suíça em conjunto em 1971 através de uma fundação…

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Cúmplices ou ingênuos?

Políticos da esquerda, direita e centro exigem que a verdade seja esclarecida: quem no governo, incluindo o serviço secreto suíço, sabia e o que? O deputado ecologista Balthasar Glättli vai ao ponto: “O governo federal autorizou essa operação conjunta entre os serviços suíços e americanos?”

O compromisso assumido por representantes do governo federal de fornecer todas as informações sobre o caso foi bem recebido, mas não acalmaram os ânimos da classe política.

Glättli exige a instauração de uma comissão parlamentar de inquérito se houver provas do envolvimento de agentes oficiais. Parlamentares do Partido Socialistas já declararam que apoiarão o pedido. Petra Gössi, presidente do Partido Libera, também ressaltouLink externo que a instauração de uma comissão é “uma opção séria” para o seu partido e que examinam a probabilidade de apoiá-la na próxima sessão parlamentar da primavera.

Christian Levrat, presidente do Partido Socialista, considera urgente a necessidade de esclarecer o caso. “O governo federal poderia ter incriminado essas pessoas (funcionários da Crypto) há muito tempo.”

Imagem arranhada

O caso coloca em questão a própria imagem da Suíça e seu compromisso com a neutralidade. Ela deverá explicar-se aos seus parceiros.

Mesmo se o envolvimento da Crypto com serviços de inteligência estrangeiros foi tolerado pelas autoridades helvéticas, possivelmente essas atividades não violavam leis contra atividades “indesejadas” de agentes estrangeiros no solo. No entanto, para Glättli, com seguranças elas estariam “minando os fundamentos de nossa identidade política”.

“Mesmo se apenas uma parte das revelações se confirmar, nossa neutralidade e a soberania já sofrerão. Trata-se da confiança em nossas instituições políticas.”

Apesar dos danos causados, a deputada-federal Christa Markwalder considera que grande parte da espionagem ocorreu durante a Guerra Fria e que a Suíça ainda tem uma forte reputação. “Devemos continuar deixando claro aos nossos parceiros que a neutralidade e acordos se aplicam.”

Adaptação: Alexander Thoele

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