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“Garotas bonitas nem olham para brasileiro”

Outra frustração é a dificuldade de sair com jovens suíças, que consideram muito “ariscas”. (foto: swissinfo) J.Gabriel Barbosa

Esta confidência em forma de brincadeira, feita pelo gaúcho Luciano Horbach, revela problemas na vida social dos estagiários brasileiros na agricultura suíça.

Os 60 brasileiros que todos os anos chegam à Suíça para trabalhar 18 meses no setor agropecuário têm respaldo da família onde ficam hospedados.

Fornecem trabalho, recebendo em troca um salário razoável, quarto, comida e roupa lavada.

Como o trabalho é puxado, sobra pouco tempo e pouca disposição para sair durante a semana para um cinema, bares restaurantes ou boates… Mas têm um senão, constatado por Inácio Gaedicke, 22 anos, natural de Ibirubá, Rio Grande do Sul: “Aqui tudo é caro. Se a gente não se cuidar, de repente não tem nada”.

Pequenas frustrações

Sendo dissuasivos os preços suíços, eles se reúnem com freqüência entre colegas brasileiros das vizinhanças para um bate-papo na própria língua, ouvir música, sorver um chimarrão e uma ou outra bebida, com raros excessos. “Ir a uma festa fica muito caro”, deplora Inácio, realçando a necessidade de poupar para “melhorar de vida no Brasil”.

Outra frustração é a dificuldade de sair com jovens suíças, que consideram muito “ariscas”. O pesar é ainda maior diante da atratividade da jovem helvética: “Disseram no Brasil que a Suíça não tinha mulher bonita. É mentira”, protesta Luciano Horbach, gaúcho de Quinze de Novembro.

Ele mesmo toma consciência que geralmente as jovens suíças são arredias porque ele não fala a língua delas (boa parte da região onde se encontra fala francês), ou “por certo preconceito” em relação aos brasileiros (ouça o áudio).

A situação é, porém, certamente mais complexa. A maneira de abordar, de se vestir, de se comportar, o traquejo social, enfim, a aparência, são elementos que ele não parece levar muito em consideração.

A simples inexperiência pode também explicar muita coisa. Não dá, por exemplo, para ir com muita sede ao pote…

Aprendizado

Resta que, mesmo com os “sofrimentos” que enfrentam, os jovens brasileiros que vêm à Suíça trabalhar no setor agropecuário voltam enriquecidos ao Brasil.

Eles conhecem uma outra realidade, aproveitam para fazer um pouco de turismo nas 3 semanas de férias obrigatórias, visitam outros países (as vizinhas Alemanha e Áustria, por exemplo), e muitos aprendem até a esquiar, o que não deixa de ser um certo luxo.

Na própria profissão porém, o aprendizado é maior. Luciano Horbach confessa: “Minha estadia na Suíça mudou minha concepção da vida de agricultor. Aprendi, por exemplo, como adubar, e como controlar a adubação. No Brasil, procurarei fazer esse tipo de controle rigoroso e extensivo, e, ao mesmo tempo, diminuir ao máximo a aplicação de veneno”.

“Na Suíça, constata, quanto menos veneno se aplica, mais se ganha com o produto”.

Quanto à questão controvertida dos transgênicos, o gaúcho tomou consciência de que a soja geneticamente modificada não pode ser exportada para a União Européia, nem para a Suíça. “Os brasileiros vão perder muito dinheiro”, avalia. “Acho, então, acrescenta, que vale a pena plantar soja tradicional”.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

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