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“Mago” brasileiro será julgado na Suíça

Altar com imagens religiosas construído pelo suspeito. Juge d'instruction du canton de Fribourg

Um cidadão brasileiro de 30 anos está indiciado no cantão (estado) de Friburgo, acusado de extorquir dezenas de milhares de francos fazendo "trabalhos espirituais".

Nascido em Fortaleza, ele cumpriu uma pena preventiva de quase um mês em 2007 e foi libertado sob fiança. O brasileiro nega todas as acusações. O julgamento ainda não foi marcado, mas deverá ocorrer dentro de seis meses a um ano.

O cidadão brasileiro residia no cantão de Vaud e praticava sessões de umbanda no cantão vizinho de Friburgo. Fez isso durante cinco anos (de 2002 a 2007) com dezenas de clientes. As sessões ocorriam em um apartamento ou ao ar livre e eram usados corações de boi, carneiro e aves, além de velas e outros produtos, inclusive supostos remédios à base de plantas. Ele ainda prometia curar doenças graves e trazer de volta amores perdidos.

É comum encontrar nas caixas de correspondência na Suíça papéis que anunciam curandeiros que fazem “milagres”. Isso ocorre porque essas práticas não são proibidas nem regulamentadas nom país.

Não é proibido

O brasileiro de Fortaleza foi indiciado porque três pessoas deram queixa, afirmando que foram extorquidas em dezenas ou até centenas de milhares de francos. Uma delas teria sido forçada por ele a se prostituir para continuar pagando as sessões de umbanda, para resolver problemas pessoais.

Uma dezena de pessoas participavam das sessões. A maioria dos clientes tinha em torno de 40 anos de idade e residia no cantão de Friburgo. O brasileiro também lia cartas de baralho para prever o futuro.

Portanto, praticar e cobrar não é proibido na Suíça, mas sim o que juridicamente se chama de usura, abuso ou extorsão. Foi o que ocorreu, segundo o juiz de instrução Jean-Luc Mooser, encarregado do inquérito.

Fiança de quase 50 mil francos

Foi então aberto um inquérito dirigido pelo juiz de instrução Jean-Luc Mooser, que decretou a prisão preventiva do “mago” brasileiro. Ele ficou detido de 23 de novembro a 20 de dezembro de 2007 e foi libertado mediante o pagamento de uma fiança de “menos de 50 mil francos suíços”, conforme declarou à swissinfo.ch o advogado do brasileiro Philippe Leuba.

No momento da prisão priventiva, o brasileiro vivia legalmente na Suíça. O juiz solicitou informações à Justiça brasileira para saber se o suspeito tinha imóveis no Brasil para, eventualmente, pedir o bloqueio para indenizar as vítimas. A resposta foi negativa.

Julgamento ainda não foi marcado

O inquérito está encerrado e as partes podem acrescentar novos eventuais complementos de instrução até o final de agosto. Será enviado à promotoria para instrução em setembro. O julgamento deverá ocorrer no prazo de seis meses a um ano.

O comunicado divulgado pelo juiz de instrução Jean-Luc Mooser precisa que foram realizadas numerosas confrontações e audições pela polícia e por ele mesmo, mas que “o suspeito contesta os montantes recebidos, pretende não ter explorado a inexperiência nem a fraqueza das pessoas e rejeita a acusação de encorajar a prostituição.”

Acusado nega

O juiz Mooser disse à swissinfo.ch que já houve julgamento de “curandeiros” africanos na Suíça, mas que, pelo que sabe, este é o primeiro caso de um brasileiro. “Ele incorre a cinco anos, no máximo, por usura, e a dez anos por incitação à prostituição, se for condenado. Habitualmente o tribunal retém apenas a pena máxima. O tribunal também pode optar por uma pena pecuniária (multa) e as vítimas podem pedir reparação por danos morais.”

O advogado Philippe Leuba, que defende o brasileiro desde o início, disse à swissinfo.ch que “ainda não sabe se seu cliente comparecerá ou não ao julgamento”. Precisou que “ele saiu muito abalado da prisão preventiva” e que, se comparecer, não será para recuperar a fiança, mas para enfrentar os juízes. Ele não revela o paradeiro de seu cliente, mas dá a entender que ele se encontra no Brasil.

Claudinê Gonçalves, swissinfo.ch

Umbanda é uma religião formada dentro da cultura religiosa brasileira que sincretiza elementos vários, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras.

Os conceitos aqui relatados podem diferir em alguns tópicos por se tratar de uma visão generalista e enciclopédica. Por se tratar de um conjunto religioso com várias ramificações, as informações aqui expostas buscam informar aos leitores da forma mais abrangente possível e sem discriminação ou preconceitos, pois todas as “Umbandas” têm suas razões de existir e de serem cultuadas. (texto: Wikipédia em português)

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