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“O consumismo é o contrário do civismo”

Membro fundador do Clube Helvético, Roger de Weck acha necessária uma nova concepção do patriotismo. Keystone

Com a proximidade das eleições legislativas de outubro, a tradicional concordância na Suíça parece titubear. Em todo caso é o constata um cículo de políticos e intelectuais suíços que formam o Clube Helvético.

Entre os fundadores, o jornalista Roger de Weck estima que é preciso recolocar os valores liberais e sociais no centro do debate político.

Ex-redator chefe do diário Tages-Anzeiger, de Zurique, e do semanário alemão Die Zeit, Roger de Weck se exprime em um francês perfeito. Quando ele qualifica a Suíça, no entanto, ele recorre a uma expressão alemã, mesmo sendo um europeu convicto: ‘Willensnation’ (nação reunida por vontade).

Para fomentar as discussões sobre o fundamento da coerência do país, o Clube Helvético foi criado meses atrás, a partir de uma constatação: as ameaças de discordância hipotecam o futuro da Suíça.

swissinfo: O nome desse clube evoca a Revolução Francesa. A situação é tão grave na Suíça que uma revolução é necessária?

Roger de Weck: Nossa referência não é a Revolução Francesa mas a fundação da Suíça moderna, em 1848. Ela decorre do Século das Luzes e é essa tradição que inspira nosso clube.

Pensamos que é necessário, em nossa época pós-moderna, em que muitas conquistas – divisão dos poderes, independência da justiça e outras – são colocadas em questão, lembrar a que ponto somos tributários das Luzes.

swissinfo: O Clube Helvético reinvindica a Razão numa época de paixão e satisfação de egos. Como os políticos poderiam escapar das tendências da sociedade?

R.de W.: É verdade que o conjunto da sociedade e afetado, como e ela fosse composta atualmente unicamente de consumidores. Ora, foram os cidadão que erigiram a Suíça moderna e é da atitude e do compromisso deles que depende a vitalidade da democracia direta.

Diz-se que a democracia depende da existência de uma economia de mercado e vice-versa, mesmo se o exemplo da China o contradiz. Quanto mais há economia de mercado, mais há consumismo e este é exatamente o contrário do civismo, ou seja, da vontade de se envolver pelo bem comum.

swissinfo:O Clube Helvético insisiste em particular na responsabilidade dos políticos…

R. de W.: Por vezes, eles abusam da mídia e do consumismo. A esse respeito, o populismo é tipicamente uma atitude que incita o cidadão a consumir política.

O Estado torna-se então um simples prestador de serviços que não pode custar caro e cuja única função válida é lutar contra a criminalidade. Consome-se de certa forma o Estado ao invés de contribuir com sua pedra para construí-lo e melhorá-lo.

swissinfo: O Clube Helvético denuncia a hostilidade ao Estado e o discurso dominante que só fala de corte orçamentário. Isso não é claramante contra a União Democrática do Centro(direita nacionalista))?

R. de W.: Nós criticamos a UDC mas não não unicamente. E também não somos estatizantes, bem ao contário. Existem muitas reformar a fazer no Estado mas não se pode apenas desregular e se preocupar unicamente da praça econômica suíça.

A vitalidade da economia também nos preocupa mas, para inserir-se na modernidade da Suíça não basta somente modernizar a economia. Também é preciso modernizar as instituições e manter os equilibrios políticos, econômico e social.

swissinfo: ‘Concordância’ é a palavra-chave que aparece nas dez propostas do Clube Helvético. Essa competência adquirida durante séculos está em perigo?

R. de W.: Dentro do governo, ela não existe mais. Atualmente, o Conselho Federal não está fundado na concordância mas na proporcionalidade, quer dizer, nas relações de força. Isso não tem nada a ver com a vontade de concordância, que implica em colegialidade e na vontade de se entender acerca de algumas linhas gerais de um programa de governo.

Trata-se de uma perda para a Suíça. São numeroas as democracias de pura concorrência que obtém resultados piores do que a Suíça, graças à concordância.

swissinfo: No plano econômico, esta “nação de vontade” que é Suíça está ameaçada pela globalização?

R. de W.: A mundialização representa, ao contrário, uma chance para a Suíça, que pode tirar muito proveito. Sua multiculturalidade é um grande trunfo para elaborar uma estratégia de mundialização inteligente.

Dito isto, se nós nos desinteressamos de tudo o que faz a força da Suíça para orientar-nos em modelos anglo-saxões que nada tem a ver com a realidade helvética, não reforçamos e sim enfraquecemos a Suíça.

swissinfo: Nos anos 90, os livros de neoliberais como David de Pury foram muito debatidos e elogiados. O Clube Helvético defende os ?fundamentos ‘fondementos sociais ‘ da Suíça…

R. de W.: Somos, na maioria, sociais-liberais. Uma certa liberalização da economia como observados nas últimas décadas foi útil. A Suíça era cartelizada e uma certa abertura era necessária.

Mas não se pode conceber essa abertura como um simples fato econômico. É preciso pensar a Suíça como um todo, com seus valores culturais, políticos, sociais, ecológicos e econômicos.

Talevez haja na criação desse clube uma nova concepção do patriotismo. Um patriotismo que recusaria o nacionalismo político, que é uma má resposta à internacionalização da economia.

Entrevista swissinfo, Carole Wälti

Em sua origem, o Clube Helvético é um clube revolucionário fundado no cantão de Fribourg por pessoas que chegaram de Paris em 1781, depois do fracaso de um levante contra o governo do cantão.

Seus membros criticavam o regime aristocrático e conservador dos cantões e queriam difundir as idéias revolucionárias na Suíça.

Ao retomar esse nome, o Clube Helvético fundado notadamente por Roger de Weck não se refere à Revolução mas às Luzes e à criação da Suíça moderna, em 1848.

Tem 25 membros, entre políticos e intelectuais das quatro regiões lingüísticas do país.

Entre os membros estão o senador Dick Marty, o ex-senador Gilles Petipierre, a deputa federal Barbara Häring, o ex-juiz federal Giusep Nay, a jornalista Joëlle Kunz, o professor de sociologia Kurt Imhof e o historiador Georg Kreis.

Nasceu em 1953, no cantão de Fribourg.

Depois de estudar economia e sociologia na Universidade de St-Gallen, começou a carreira de jornalista.

Trabalhou como corresponde em Paris para diversos jornais suíços e depois tornou-se editor. Voltou posteriormente à imprensa como redator-chefe do diário Tages Anzeiger, de Zurique, e desde 1997, do jornal alemão Die Zeit.

Roger de Weck escreve atualmente como para vários jornais suíços, franceses e alemães. Sempre é solicitado em programas de rádio e televisão. Preside também o Conselho de Fundação do Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais (HEI), em Genebra.

Em 2004, Roger de Weck recebeu o Prêmio Mídia da Secretaria de Turismo de Davos, pela qualidade de seu trabalho jornalístico.

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