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“O relacionamento com a Suíça é ótimo”

Um dos temas na pauta de Barroso: a disputa entre a UE e a Suíça na questão da fiscalidade. Keystone

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, minimiza os problemas bilaterais que a UE tem com o país dos Alpes.

O bloco não vai impor um ultimato ao país na briga da fiscalidade, disse antes de iniciar sua primeira visita oficial à Suíça, nesta sexta-feira (06/06).

swissinfo: Senhor presidente, o que lhe agrada mais: a visita feita ao presidente da Confederação Helvética, Pascal Couchepin, em Berna, ou a oportunidade de poder assistir às partidas de futebol da Eurocopa na Basiléia e em Genebra?

José Manuel Barroso: (ri) O objetivo original da minha vinda é a primeira visita oficial à Suíça na posição de presidente da Comissão Européia.

Mas naturalmente eu fiquei muito satisfeito com o convite do governo suíço para assistir à abertura do Campeonato Europeu de Futebol.

swissinfo: Seria a Eurocopa 2008 uma oportunidade para a Suíça ressaltar que pertence à Europa, apesar de não ser um membro da União Européia?

J.M.B.: A Suíça está no coração da Europa. Eu espero que o coração europeu da Suíça bata cada vez mais forte com a intensificação das nossas relações.

Mas naturalmente nós respeitamos a soberania da Suíça. Cabe a ela determinar que tipo de relacionamento deseja ter com a União Européia.

Para mim é importante ressaltar que o nosso relacionamento não é apenas de natureza econômica. Também em questões políticas, científicas ou culturais existe um forte intercâmbio.

Como estudante de Portugal, eu vivi isso de forma bem direta, quando recebi uma bolsa de estudos da Suíça para estudar em Genebra e lá fui acolhido com uma grande hospitalidade.

swissinfo: O senhor então viveu as grandes vantagens trazidas pela livre circulação de pessoas antes mesmo de ter sido introduzida?

J.M.B.: Não foi exatamente a livre circulação de pessoas como a conhecemos no contexto atual. Eu me lembro que passava um bom tempo nos guichês dos serviços de controle de imigração em Genebra. Os procedimentos eram bem burocráticos naquela época.

Eu acredito que essa situação melhorou consideravelmente graças à livre circulação. Quando fui para a Suíça em 1972, o sistema era muito mais restritivo para pessoas originárias de Portugal do que é hoje.

swissinfo: O senhor cita a liberdade de escolha da Suíça. Nela estaria incluído também o direito de dizer, através de plebiscito, “não” para a livre circulação de pessoas?

J.M.B.: Vimos, com muita satisfação, que o eleitor suíço já votou várias vezes por mais abertura na questão da livre circulação.

Esperamos que o mesmo ocorra na continuação e expansão desse acordo para a Romênia e a Bulgária. Da nossa perspectiva européia, a União Européia é formada pelos 27 países-membros.

Esperamos que a Suíça compreenda que não é possível haver nenhuma forma de discriminação entre cidadãos da UE. Os cidadãos suíços também não são tratados de forma diferente, somente pelo fato de serem originários de cantões diferentes.

swissinfo: O que pode acontecer, caso o eleitor diga “não”? Seria possível ocorrer uma segunda rodada?

J.M.B.: Como vocês sabem das minhas últimas entrevistas, eu não especulo sobre hipóteses negativas. Eu me concentro apenas nas positivas: naturalmente espero que o plebiscito decorra com um resultado positivo.

swissinfo: Em 2006, o senhor exigiu claramente durante entrevistas que a Suíça fizesse modificações em alguns regimes fiscais cantonais para empresas. Quanto tempo o senhor dará à Suíça para resolver essa questão?

J.M.B.: Já falamos bastante sobre o assunto e eu acredito que a nossa mensagem chegou ao receptor. Agora queremos manter um diálogo bem construtivo.

Eu espero que a solução para o problema possa ser encontrada e que ela seja aceitável não só para a Suíça, mas também para os interesses da União Européia.

swissinfo: Existe um “deadline”?

J.M.B.: Não. Só a palavra “deadline” eu já acho terrível. Nós estamos engajados em um diálogo construtivo e positivo.

Naturalmente é preciso que a solução seja encontrada dentro de um período razoável, mas não estamos dando um prazo para ser cumprido.

swissinfo: Com relação ao segredo bancário, a Suíça sente freqüentemente a pressão que vem de Bruxelas.

J.M.B.: A discussão em andamento sobre a revisão da diretriz de fiscalização da poupança é, antes de tudo, uma questão absolutamente interna da União Européia.

No outono queremos avaliar como é possível melhorar a efetividade dessa diretriz dentro da União Européia. O segredo bancário da Suíça não está na agenda dessa revisão.

swissinfo: Não existe uma espécie de cansaço dentro da administração da UE para atender toda hora os desejos especiais desse pequeno país?

J.M.B.: Não menospreze o seu país! Naturalmente a Suíça é pequena, mas tudo é relativo: comparada com a China, a União Européia também é pequena.

Como parceiro comercial, a Suíça é tão importante para nós como a China. Para mim, muito mais importante do que essa realidade econômica é o respeito pela diversidade na Europa.

O lema da UE é unidade na diversidade e, nesse sentido, os fundadores da Europa se inspiraram fortemente na construção federativa da Suíça.

swissinfo, Simon Thönen, Bruxelas

José Manuel Barroso foi recebido em Berna pelo presidente da Confederação Helvética e ministro do Interior, Pascal Couchepin, e outros quatro colegas de gabinete: a ministra do Exterior, Micheline Calmy-Rey; a ministra da Economia, Doris Leuthard; o ministro dos Transportes, Moritz Leuenberger; e o ministro das Finanças, Hans-Rudolf Merz.

Durante o almoço, os representantes do governo helvético trataram de assuntos bilaterais entre a Suíça e a União Européia, assim como de outros temas internacionais.

Alguns dos temas em pauta foram: acordo do mercado de energia, acordo de livre comércio para produtos agrícolas e acordo na área de saúde.

O governo suíço convidou Barroso, conhecido por ser um fã apaixonado de futebol, para assistir à abertura da Eurocopa. No sábado, ele deve presenciar o jogo de abertura entre a Suíça e a República Checa e depois a partida entre Portugal e Turquia, que será disputada em Genebra.

Sua visita encerra uma verdadeira “semana UE” na Suíça, que começou no último sábado, com o encontro entre a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey e a comissária européia para Assuntos Exteriores, Benita Ferrero-Waldner.

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