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“Sem eles, nada funciona”

Os estrangeiros parrticipam da construção da Suíça, como aqui na travessia dos Alpes. Keystone

Cerca de cem de organizações convocaram uma manifestação, terça-feira, em quinze cidades suíças, para protestar contra o novo projeto de lei sobre os estrangeiros.

A Câmara debate o controvertido projeto esta semana, ocasião para lembrar que, sem eles, a Suíça não seria o que é.

Existem 1,5 milhão de estrangeiros na Suíça. Um em cada cinco habitantes do país não possui o passaporte vermelho com uma cruz branca. No entanto, a contribuição dos imigrantes à prosperidade do país é indiscutível.

Uma organização intitulada “Sem nós, nada funciona”, convocou os estrangeiros a sairem às ruas para manifestar sua presença. Essa organização nacional reúne numerosas comunidades de imigrantes e os defensores do direito de asilo e de uma política solidária. No total, são 120 associações.

A manifestação ocorre em 15 cidades em 14 cantões (estados). Os participantes manifestam sua indignação acerca das revisões da lei sobre os estrangeiros e da lei sobre o asilo, ambas em discussão atualmente na Câmara dos Deputados, reunida em sessão extraordinária.

Pela igualdade de direitos

«Os estrangeiros não têm direito à palavra”, afirma Balthasar Glätti, secretário da ong Solidariedade sem Fronteiras. “Portanto, a contribuição deles ao país é inestimável. Eles trazem algo mais à economia e à diversidade cultural do país mas não têm os mesmos direitos dos suíços.”

A principal reivindicação dos manifestantes é a igualdade de direitos. Querem o direito ao reagrupamento familiar, melhoras no estatuto de trabalhadores e eliminar as limitações à mobilidade no país.

Certas críticas são diretas contra a lei atualmente em revisão. Um exemplo: com a nova lei, um oficial de cartório civil poderia recusar de celebrar um casamento, se considerar que ele seria destinado à obtenção de uma permissão de trabalho.

“Cerca de 30% dos casamentos na Suíça são binacionais e é muito difícil provar se são arranjados ou não”, explica a swissinfo Carmen Pereira Fleischlin, membro da Comissão Federal de Estrangeiros, entidade representativa das comunidades estrangeiras no país.

Os estrangeiros criticam também o fato de ter direito a voz. “Protestamos porque 1,5 milhão de imigrantes não podem participar do debate sobre a política de imigração”, afirma Balthasar Glätti.

Mais rigor é inútil

Os manifestantes reclamam maior igualmente de direitos e temem mais restrições aos direitos atuais.

“Existem de fato duas leis dos estrangeiros na Suíça. Uma para os cidadãos da União Européia, regida pelos acordos bilaterais que a Suíça assinou em 1998 – com direitos mais amplos – e uma outra para os cidadãos de países que não são membros da UE – muito mais restritiva”, explica Carmem Pereira Fleischlin. É esta lei que é objeto de discussão atualmente na Câmara.

“Além de legalizar uma discriminação, a nova lei vai piorar a situação dos estrangeiros. Por exemplo: atualmente, os estrangeiros podem trazer os filhos até a idade de 18 anos. De acordo com a nova lei, essa idade será reduzida para 14 anos, enquanto ela é de 21 anos para os cidadãos da União Européia”, acrecenta Carmen Pereira.

Para os manifestantes, essas restrições não terão efeito algum. “Mesmo que legislação seja mais dura, não vai impedir os imigrantes de vir, prevê Balthasar Glätti. Eles ficarão na clandestinidade e isso vai aumentar a pobreza.”

Naturalização é a única via

A manifestação nacional parece não ter chegado aos ouvidos dos deputados. “Nem ouvi falar disso”, afirma Philipp Müller, deputado do Partido Radical (de direita) e defensor da nova lei.

“Para mim, é claro que a única maneira de participar da vida política do país é esperar o prazo para tornar-se suíço. Não há outra solução”, acrescenta.

“Quanto aos que afirmam a Suíça pratica a discriminação, que observem a política da União Européia, que adota o mesmo modelo que o nosso”, conclui o deputado.

“A lei atual precisa ser revista mas não dessa maneria”, afirma Carmen Pereira. Na verdade, a Câmara está dividida. Por razões diferentes, os dois maiores partidos, à direita e à esquerda, tendem o projeto. Os socialistas e os verdes o consideram retrógrado e a UDC, União Democrática do Centro, acha que o projeto é tímido demais.

swissinfo

– Existem cerca de 1,5 milhão de estrangeiros residentes na Suíça, um pouco mais de 20% da população total.

– Mais de 800 mil trabalham.

– Segundo estimativas do Banco Mundial, esses imigrantes enviam cerca de 3 bilhões de francos por ano aos seus países de origem.

– Várias iniciativas populares já foram votadas para limitar o número de estrangeiros na Suíça. A última foi no ano 2000, rejeitada por 64% dos eleitores que votaram.

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