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“Ser cigano é ser nômade e ladrão”

Evacuação de acampamento de ciganos em 2007, em Genebra Keystone

A França expulsou centenas de ciganos principalmente para a Romênia e a Bulgária, mas a medida suscita muitas críticas. Quinta-feira (09/9), o Parlamento Europeu adotou medida pedindo à França e aos outros países da UE que suspendam imediatamente as expulsão de ciganos.

Essa minoria étnica também é parte integrante da Suíça. O governo não tem dados oficiais, mas a Rroma Foundation fala de 50 a 60 mil pessoas.

Como explica Cristina Kruck, representante da Rroma Foundation, sediada em Zurique, os rom sofrem, como na França, de uma má imagem na Suíça. Rom é a designação dos ciganos originários dos Balcãs.

“Para os suíços, ser rom é ser nômade e ladrão”, diz Kruck, especialista em relações públicas que já trabalhou na Cruz Vermelha Internacional (CICR), originária da Estônia e que cresceu na Suíça. Rom é a designação dos ciganos originários dos Balcãs.

No entanto, contrariamente ao clichê, a maioria dos ciganos da Suíça são bem integrados e não viaja, explica Kruck.

Na Europa, os ciganos rom formam uma comunidade de quase 12 milhões de pessoas e faz parte das populações nômades Sintis e Ianiche.

Cabe lembrar que cerca de mil pessoas de etnia rom foram enviadas recentemente pela França para a Bulgária e Romênia. Segundo dados oficiais, 11 mil foram enviados da França no ano passado.

A Onu e o Parlamento Europeu criticaram essa medida, uma vez que a Bulgária e a Romênia fazem parte da União Europeia (UE). Houve inclusive divergências no governo francês frente à decisão do presidente
Nicolas Sarkozy. O Parlamento Europeu votou quinta-feira (09/9) uma moção pedindo que o governo francês e de outros países “cessem imediatamente” a expulsão de pessoas de etnia rom, ou seja, ciganos dos Balcãs.

Um grupo perseguido

Historiador suíço especialista em comunidades nômades, Thomas Huonker explica que os roma são os mais pobres entre as minorias que chegaram recentemente à França.

Os roma vêm de países como Eslováquia, Hungria, Bulgária e Romênia e se instalam nas periferias de Paris, Milão ou Roma e nos guetos de países do Leste Europeu.

“Nesses países, as pessoas vivem em miséria extrema e ainda são alvo de violências influenciadas por organizações racistas, antissemitas e anticiganos”, explica Thomas Huonker.

Nesse contexto e depois das recentes expulsões da França, a comunidade pode buscar refúgio na Suíça? É improvável, afirma Hounker. “A política suíça para dos membros pobres desse grupo europeu é muito próxima da política da França, embora um pouco mais discreta”, explica.

“A Suíça expulsa os mendigos, os vendedores de rosas e os músicos de rua. O exemplo mais conhecido é o de Genebra, em 2009, devido a resistência dos roma”, afirma.

“Até agora, nenhum aumento do número de roma foi assinalado na Suíça e não vi qualquer problema particular”, afirma por sua vez Maria Avet, da Secretaria Federal de Migrações (ODM).

Ele também julga improvável o aumento do número de ciganos devido a “existência de cotas que se aplicam na Suíça aos cidadãos da Romênia e da Bulgária e que limita o número de pessoas que podem trabalhar”, na Suíça. (ndr: a Suíça tem acordos bilaterais com a UE, inclusive para a livre circulação das pessoas, mas com um período de cotas para os novos membros da UE).

“Esses contingentes se aplicar a todos os cidadãos, qualquer que seja seu grupo étnico. Se eles entram na Suíça como turistas, não são autorizados a trabalhar e devem sair do país no prazo de três meses”, explica Avet.

Bem integrados

Na Suíça, os roma começaram a chegar em grande número depois da Segunda Guerra Mundial. A maioria é bem integrada, falam as línguas nacionais e trabalham.

Depois da guerra e limpeza étnica no Kosovo, nos anos 1990, começou uma nova onda de imigração. Dos 300 mil roma que moravam na então província sérvia, apenas 20 mil ficaram, segundo a Rroma Foundation.

De acordo com Christina Kruck, comunidade rom é muito heterogênea. Alguns são médicos ou donos d restaurantes. São tão integrados que os suíços desconhecem sua origem.

“Os roma visíveis são mais pobres, os invisíveis são melhor integrados e preferem não dizer quem são. É melhor ser iugoslavo do que rom porque estes têm má reputação.

A maioria dos roma na Suíça têm o passaporte suíço e uma pequena minoria ainda é nômade, lembra
Cristina Kruck.

Portanto, é preciso distinguir os refugiados rom do kosovo daqueles que vêm da Romênia e atravessam a fronteira francesa “para mendigar dois ou três dias em Genebra ou Lausanne.”

Na Suíça como em outros países europeus, os nômades foram considerados durante muito tempo como incapazes de respeitar as leis e os valores do país.

Em 1906, o governo suíço decidiu fechar as fronteiras do país aos grupos nômades.

Em 1926, a organização Pro Juventute lançou o projeto “Obra das crianças da estrada”, apoiado pelas autoridades federais.

As crianças foram retiradas de seus pais e colocadas em instituições ou em famílias de acolho. O objetivo era mudar o modo de vida nômade.
Aproximadamente, 600 crianças sofreram desse projeto entre 1926 e 1972.
Os ciganos, nômades ou sedentários, obtiveram a proteção legal das minorias somente nos anos 1970.

No entanto, isso não os protege totalmente das discriminações.

(Fonte: Nadia Bizzini, mediadora cultural, cantão do Ticino, sul)

O governo suíço assinou um acordo este mês com os governos da da Bulgária e da Romênia com a liberação de 257 milhões de francos com o objetivo de reduzir as disparidades econômicas e sociais dentro da União Europeia.

Aproximadamente181 milhões de francos serão destinados à Romênia. Esses recursos, no prazo de dez anos, serão utilizados no combate à corrupção, reforçar a segurança, as infraestruturas e em projetos de integração.
Mesmo não sendo membro da União Europeia, a Suíça liberou um bilhão de francos para os dez primeiros membros do leste Europeu que entraram na União Europeia.

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