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“Somos suíços do mundo”

Micheline Calmy-Rey durante seu discurso aos suíços do estrangeiro. Philipp Zinniker (ASO)

Com participação de mais trezentas pessoas, o 88° Congresso de Suíços do Estrangeiro foi concluído depois de três dias com uma mensagem da ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, reiterando o apoio do governo federal ao reforço do peso político da comunidade de expatriados.

Um dos presentes também sugeriu acabar com as diferenças entre os emigrantes e habitantes do país através de uma definição global…da identidade helvética.

Em 2010, os aproximadamente 300 participantes e delegados presentes no 88° Congresso de Suíços do Estrangeiro reuniram-se em um lugar simbólico. Olma é o centro de exposições de St. Gallen, o cantão localizado ao extremo leste da Suíça, que abriga a mais importante feira agropecuária do país (programada para ocorrer entre 7 e 17 de outubro).

Como todos os anos, o congresso convidou representantes do governo federal, do mundo político e da indústria para se dirigir aos suíços do estrangeiro e explicar a realidade da pátria distante. Para muitos presentes, é uma oportunidade única para levantar questões de interesse e obter respostas diretas. Um dos primeiros palestrantes foi Filippo Lombardi, senador federal e presidente do Grupo parlamentar de suíços do estrangeiro.

“Os suíços do estrangeiro precisam ter mais peso na política realizada em Berna”, afirmou. Ele lembrou suas próprias origens para explicar porque se engaja no tema: “Venho de uma família que imigrou para a França. Muitos deles ainda estão por lá. Foi em 1999, quando fui eleito ao Senado federal, que percebi como a presença dos suíços do estrangeiro é muito fraca no Parlamento.”

O parlamentar citou questões importantes ligadas à comunidade de expatriados e defendidas por ele através da atuação parlamentar. “Por quatro vezes debatemos o destino da swissinfo.ch e as propostas que pedem o fim dessa importante plataforma de informação, assim como o corte de subsídios da Revista Suíça”, lembrou.

Ele comparou com a situação em outros países. “Só na Itália, os quatro milhões de italianos do estrangeiro estão representados através de vários senadores e deputados. Graças às relações de poder no país, esses expatriados têm uma forte influência na política interna”. O senador tentou analisar entender a pouca influência da comunidade helvética no exteior. “Apenas 130 mil suíços do estrangeiro estão registrados como eleitores e não há parlamentares eleitos por eles em Berna.”

Novos meios de comunicação

Um dos temas dos workshops do congresso, um dos programas obrigatórios no programa, foi a informação. A questão levantada – quais canais de comunicação devem informar a comunidade de expatriados? – foi debatida por Sabine Silberstein, suíça do estrangeiro residente em Cingapura; Richard Bauer, ex-correspondente do diário zuriquense NZZ e residente no Peru, e Peter Schibli, diretor da swissinfo.ch.

“Vivo há quatorze anos em Cingapura, país onde o Estado detém o monopólio da informação. Quando precisamos nos informar com objetividade, acessamos sites da mídia suíça como o NZZ ou a swissinfo.ch. Porém meus filhos preferem ler a Revista Suíça”, revela Silberstein ressaltando a importância de mídias helvéticas e seu livre acesso.

Já o diretor do portal swissinfo.ch informou sobre um estudo recém-publicado pelo Observatório de Comunicação Pública da Universidade de Zurique, de autoria do professor Kurt Imhof. “Existem determinadas tendências no mercado como o interesse cada vez maior dos leitores pela imprensa gratuita em detrimento da imprensa tradicional; da mídia online em detrimento da mídia imprensa e do interesse por temas populares em detrimento de temas ‘pesados’ como política, economia e cultura”, discutiu Schibli.

Ao apresentar aos presentes um leitor digital iPad, o diretor da swissinfo falou de tecnologias que devem revolucionar os hábitos de leitura de notícias. “As novas gerações utilizam cada vez mais sistemas móveis para ter acesso às informações.”

Entre o público, alguns presentes manifestaram ceticismo em relação à tendência de muitos órgãos de imprensa de trocar suas versões impressas pelas versões eletrônicas, como é o caso da Revista Suíça, órgão da Organização dos Suíços do Estrangeiro, que recentemente teve os subsídios cortados pelo governo federal. “Eu chego a assinar um jornal diário suíço, mesmo sem ler totalmente seu conteúdo. Mas prefiro ter o papel na minha frente”, exclamou um dos expatriados.

Jovens parlamentares

Após o almoço, os participantes do congresso assistiram a uma palestra de parlamentares helvéticos e sua experiência com a situação de ser um expatriado. Um deles, Antonio Hodgers, deputado-federal do Partido Verde, é um caso clássico na Suíça, pois é migrante de primeira geração de uma família argentina de origem helvética. Ele comparou sua situação. “Entre os argentinos não existe essa boa organização como a dos suíços do estrangeiro”, observou.

O parlamentar genebrino lembrou-se da relação intensa mantida entre os migrantes helvéticos com a terra de origem. “Os suíços dos estrangeiros são embaixadores do nosso país. Vivi isso durante uma comemoração de 1° de agosto (dia nacional da Suíça) em Buenos Aires. O prato oferecido era uma fondue preparado com queijo suíço fabricado na Argentina por descendentes de imigrantes suíços. Em grande parte, eles não falavam mais o idioma dos avós ou bisavós. Porem a identificação desses imigrantes com a Suíça é enorme”, disse.

Christa Markwalder, deputada-federal do Partido Liberal, lembrou-se de uma estadia como estudante na Holanda, experiência que tenta até hoje compartilhar com seus concidadãos. “Sempre recomendo aos mais jovens para eles saírem pelo menos uma vez do país, seja durante os estudos ou através do trabalho.”

A moderadora do debate levantou a questão do custo-benefício dos suíços de estrangeiro, sobretudo em relação à sua presença política na Suíça. “É difícil avaliar a imagem trazida por uma pessoa. Mas com relação ao reforço da presença dos suíços do estrangeiro no Parlamento, considero que essa comunidade já é muito forte. Não é todo grupo parlamentar que tem mais de cem membros, como é o caso do que trata dos suíços do estrangeiro. A representação através da OSE funciona muito bem”, respondeu Lukas Reinamm, da União Democrática do Centro, partido da direita conservadora.

Pouco antes de terminar o debate, um dos presentes na platéia pediu o microfone para propor um outro olhar do emigrante. “Devemos parar de diferenciar os suíços do estrangeiro dos suíços internos. Devemos, sim, é falar em suíços do mundo”. A proposta foi coroada por aplausos do publico e até por alguns parlamentares.

Ações do governo

O ponto alto do 88° Congresso de Suíços do Estrangeiro foi a participação da ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey. No seu discurso, ela lembrou o apoio dado pelo governo e pela OSE à revisão, em outono, da lei relativa à educação dos suíços do estrangeiro. “Essa revisão prevê a promoção da imagem da Suíça, além da simples instrução dos suíços que estão fora do país. Para isso teremos uma melhor utilização do potencial dessas escolas.”

A ministra indicou outro instrumento aplicado pelo governo helvético para melhorar a situação da participação política dos expatriados. “Uma das melhoras concretas é o voto eletrônico. Ele permite remediar os inconvenientes ligados ao voto por correspondência”, afirmou Calmy-Rey. Porém ela reconheceu deficiências. “Por isso é que o governo federal solicitou, em junho, aos cantões que ainda não reconhecem o direito de suíços do estrangeiro de participar das votação para o Senado federal, a reconhecer esse direito.”

Calmy-Rey também anunciou que seu ministério estará criando, em 1° de janeiro de 2010, uma direção especializada em questões consulares. “Ela iré escutar melhor as questões levantadas pelos suíços, seja os que estão apenas fora por um tempo determinado ou há muito tempo no exterior.”

Essa direção tem como plano a criação de um serviço para o cidadão. “Este estaria aberto 365 dias por ano e 24 horas por dia”. Ele seria enriquecido por um centro de crises: “Frente ao numero crescente de crises vividas atualmente, poderemos então auxiliar nossos cidadãos no exterior.”

Quanto à proposta apresentada pelo conselho dos suíços do estrangeiro – ler artigo “Suíços do estrangeiro reivindicam lei específica” – a ministra prometeu que o governo federal iria analisar com atenção a proposta apresentada, reconhecendo que existe potencial para melhorar a participação política e também o acesso às informações.

Fechamento de consulados

Após o discurso, Calmy-Rey respondeu algumas questões levantadas pelos presentes. Uma das grandes preocupações manifestadas no microfone era o fechamento de consulados helvéticos em várias partes do mundo.

A ministra respondeu lembrando necessidades orçamentárias, mas apresentou uma solução ao problema. “Reconheço a importância dos vários consulados onde vivem muitos suíços do estrangeiro. Porém, quando fechamos consulados-gerais ou profissionais, tentamos substituí-los por consulados honorários.”

Porém Calmy-Rey não escondeu as dificuldades. “Não é fácil encontrar cônsules honorários. Essa procura terá ajuda da Organização dos Suíços do Estrangeiros e através de vocês, que são embaixadores do nosso pais”, se dirigiu ao público.

Ela deu como exemplo concreto o consulado de Bordeaux, na França. “Foi uma decisão difícil, mas ele foi fechado pela reduzida carga de trabalho. Mas as funções de representação da Suíça podem ser assumidas pelo cônsul honorário.”

Outro argumento apresentado pela ministra: outras regiões no mundo estariam crescendo economicamente e necessitam com urgência de representações diplomáticas, sobretudo na Ásia.

Alexander Thoele, St. Gallen, swissinfo.ch

O próximo congresso de suíços do estrangeiro será realizado de 26 a 28 de agosto de 2011 no cantão de expressão italiana Tichino.

Suíços do estrangeiro registrados nos cantões de St. Gallen, Solothurn e Friburgo podem participar ao plebiscito de 26 de setembro pela primeira vez através da internet.

Oito cantões suíços uniram-se em um grupo intitulado “Consórcio do Voto Eletrônico”: St. Gallen, Argóvia, Friburgo, Grisões, Solothurn, Turgóvia e Zurique. O cantão de Zurique se responsabilizou por oferecer o software necessário para o voto eletrônico.

Aproximadamente 700 mil cidadãos suíços vivem no exterior. Desses, 120 mil estão registrados nas listas eleitorais de consulados e embaixadas. Um terço dessas pessoas tem sua residência “política” em um dos oitos cantões do consórcio do voto eletrônico.

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