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“Uma Copa diferente de todas as anteriores”

O embaixador George Johannes sonha com uma final África do Sul x Suíça. swissinfo.ch

Em entrevista à swissinfo.ch, o embaixador da África do Sul na Suíça, George Johannes, explica o significado político e econômico do Mundial 2010, que acontece de 11 de junho a 11 de julho em seu país.

Ele promete a “Copa mais especial” de todos os tempos e garante que os novos estádios, projetados em parte por arquitetos e engenheiros suíços, não se transformarão em “elefantes brancos”.

Embaixador na Suíça há um ano, George Johannes acredita que a Copa do Mundo é uma grande oportunidade para o seu país – não apenas em termos de futebol. E ele sonha com uma final entre África do Sul e Suíça, mas vê o Brasil e a Espanha como favoritos.

swissinfo.ch: A África do Sul prometeu “a melhor Copa do Mundo de todos os tempos”. A venda de ingressos, pelo menos no exterior, não vai bem. A Copa será um fracasso?
George Johannes: Nós não prometemos “a melhor Copa do Mundo”, mas “a mais especial”. Vai haver uma atmosfera africana, um ambiente especial com a nossa paisagem especial. A Copa do Mundo será diferente de todas as anteriores.

Já foram vendidos meio milhão de ingressos no exterior. Temos o problema que, devido à pobreza, nem todas as pessoas na África do Sul têm cartões de crédito. Mas elas podem economizar dinheiro e pagar os bilhetes em dinheiro. Isso vai causar uma corrida aos ingressos.

swissinfo.ch: A construção ou reforma de dez estádios, bem como os grandes projetos de infraestrutura (estradas, aeroportos, ferrovias) custaram em bilhões de francos. A África do Sul pode arcar com isso?
G.J.: O dinheiro vem dos cofres públicos, não tivemos de tomar empréstimos junto aos bancos. Portanto, construímos os estádios e a infraestrutura com o nosso próprio dinheiro.

Alguns estádios foram financiados pelo setor privado, por empresas de construção alemãs, com a ajuda de engenheiros e arquitetos suíços.

swissinfo.ch: O que a África espera da Copa do Mundo – política e economicamente?
G.J.: Politicamente, é importante que todo o continente africano esteja envolvido no processo de Copa do Mundo. Olhando os grandes clubes da Europa, se vê que em quase todos atuam jogadores que contribuem significativamente para o sucesso desses times – às custas da África. Este é um problema político: muitos jogadores de futebol talentosos deixam a África e vão para a Europa, onde há recursos financeiros.

Com a Copa do Mundo em nosso país, agora reunimos toda a África. O “pessimismo político em relação à África” passa a segundo plano e, pela primeira vez, as pessoas podem ver a África com olhos diferentes. Não é uma África dependente, onde as pessoas pedem esmola, passam fome. Quem vier à Copa do Mundo na África do Sul vai conhecer uma das nações mais poderosas e estáveis do continente africano, um gigante econômico.

Antes das primeiras eleições democráticas em 1994, na África do Sul pós-apartheid, muitos temiam que país desmoronaria – o que não aconteceu.

Economicamente, a África do Sul está à frente dos outros países do continente. Os investimentos em educação, saúde e infraestrutura são grandes e correspondem às Metas do Milênio da ONU. Surgem novos postos de trabalho, antes e durante a Copa do Mundo. Haverá também um aumento do turismo: as pessoas que visitam a África do Sul pela primeira vez virão novamente.

swissinfo.ch: Os empregos criados antes e durante a Copa do Mundo são sustentáveis e serão mantidos após o torneio?
G.J.: Todos sabemos que a economia da África do Sul está em transição, uma economia que tem grandes objetivos: o pleno emprego, a erradicação da pobreza e a superação de todos os problemas sociais que herdamos do regime do apartheid.

Após a Copa do Mundo, os estádios precisam de manutenção e administração, a infraestrutura tem de ser preservada. Assim, postos de trabalho criados para a Copa do Mundo serão mantidos. Com a nova infraestrutura, a economia vai crescer e criar novos empregos.

swissinfo.ch: O que vai acontecer com os dez estádios após a Copa do Mundo – eles não são grandes demais?
G.J.: Vamos lotar os estádios também após a Copa do Mundo. A África do Sul é uma nação entusiasta pelo esporte. Nós jogamos rugby, críquete, futebol. E, após a Copa do Mundo, teremos outros grandes eventos esportivos na África do Sul, como o Copa Africana das Nações e campeonatos mundiais de rugby e críquete.

Além disso, os estádios da Copa do Mundo foram concebidos para que possam ser reduzidos e utilizados por grupos locais, associações, escolas. E muitos times de futebol vão querer usá-los. Algumas das arenas pertencem às associações de rugby. Portanto, não construímos “elefante brancos”, que depois ficarão vazios ou se transformarão em ruínas.

swissinfo.ch: A criminalidade impede estrangeiros de ir à Copa do Mundo?
G.J.: Eu sempre me pergunto por que 11 milhões de turistas vêm anualmente à África do Sul, se esse é um país tão perigoso? Por que elas voam 11 horas sobre 53 países africanos e pousam no extremo sul do continente: para serem assaltadas ou até assassinadas?

Tenho amigos em Genebra que foram atacados e assaltados no meio da cidade. Mas não é por isso que vou dizer que na Suíça reina a criminalidade.

Naturalmente nós recomendamos aos turistas que visitem certas áreas na África do Sul. Assim como eu também não visitaria certos bairros de Londres ou Nova York.

A criminalidade também é um legado do apartheid – pobreza entre a maioria da população negra, riqueza da minoria da população branca. Violência e criminalidade ocorrem hoje principalmente entre as camadas pobres da população.

Para a Copa do Mundo, criamos um forte esquema de segurança, com mais de 40 mil policiais. Também ativamos a Interpol para evitar que venham hooligans do exterior. Na África do Sul não temos hooligans, esta é uma espécie que se desenvolveu na Europa.

swissinfo.ch: A África do Sul foi campeã da África em 1996. Depois a equipe não se destacou mais. Quais são as chances na Copa do Mundo em casa?
G.J.: Nosso serviço secreto diz que África do Sul vai à final, onde jogará contra a Suíça … (risos). Bem, na África do Sul, naquela época havia uma euforia e também nos sagramos campeões mundiais de rugby. Durante o apartheid, até mesmo o esporte foi separado por raças: futebol para os negros, rugby e críquete para os brancos.

Muitos jogadores de futebol sul-africanos atuam no exterior, especialmente na Europa. É difícil reuni-los para os jogos da seleção.


Assim tivemos que apostar em jogadores que atuam em equipes sul-africanas. E esses jogadores não têm a mesma experiência que aqueles que jogam no exterior. Mas para esta Copa do Mundo eu estou otimista. A equipe nacional será melhor do que muitos esperam.

swissinfo.ch: Qual é o seu favorito?
G.J.: São duas equipes: Brasil e Espanha (o primeiro adversário da Suíça no Grupo H).

swissinfo.ch: Como o senhor avalia a equipe suíça?
G.J.: Eu já assisti a alguns jogos da seleção suíça. Como a África do Sul, a Suíça é um país pequeno no futebol. Saímos do nada e agora ambos jogamos na Copa do Mundo, enquanto outras grandes nações futebolísticas não participam.

Nós amamos os intrusos. Desejo muita sorte à Suíça. E se a Suíça jogar na final contra a África do Sul, tudo será ainda melhor …

swissinfo.ch: A Suíça tinha relações estreitas com o regime do apartheid e não participou das sanções mundiais. Os bancos suíços comercializaram grande parte do ouro sul-africano e, assim, foram um esteio do apartheid. Como estão as relações econômicas e políticas entre os dois países hoje?
G.J.: Hoje a África do Sul e a Suíça têm relações muito boas. A Suíça é o nosso quinto maior parceiro comercial.

Para nós, o comportamento da Suíça durante o apartheid pertence ao passado. Queremos olhar para o futuro, cooperar e realizar negócios como parceiros iguais com a Suíça.

swissinfo.ch: O senhor é embaixador na Suíça há um ano. O que acha do país, o que mais lhe agrada?
G.J.:: (risos) Eu amo acima de tudo o chocolate suíço. E a paisagem. Estive no Ticino, em Lucerna, nas montanhas – maravilha.

Nunca vi em outros países realidades como em um cartão postal. Nos cartões postais de inverno aqui na Suíça se vê neve e gelo. E a realidade é assim mesmo.

Jean-Michel Berthoud, swissinfo.ch

A Fifa prevê que a Copa do Mundo na África do Sul gerará uma receita líquida de 1 bilhão de dólares, mas prefere não chamar isso de lucro, segundo disse o secretário-geral da entidade, Jorome Walcke, ao jornal britânico Financial Times.

Segundo Walcke, o Mundial 2010 vai gerar 3 bilhões de dólares graças à comercialização do torneio, enquanto a Fifa investiu 1,2 bilhão de dólares no evento, incluindo US$ 700 milhões concedidos à África do Sul.

Cerca de um bilhão de dólares estariam sendo investidos em programas de desenvolvimento, assistência financeira a associações nacionais e outros projetos.

Até o final de 2009, o governo sul-africano havia investido 30 bilhões de randes (US$ 4 bilhões) nas obras do Mundial, 11,5 bilhões (US$ 1,5 bilhão) dos quais nos estádios. É quase o dobro dos custos previstos em 2006.

Analistas econômicos calculam que, entre 2008 e 2015, a Copa gerará receitas de 55,7 bilhões de randes (US$ 7,4 bilhões) e criará 415,4 mil postos de trabalho para a economia local.

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