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Febre amarela precisa ser levada em conta por quem visita o Brasil

Criança chorando durante vacinação
Um menino chora ao receber a vacina contra a febre amarela em Kisenso, distrito de Kinshasa, no Congo, em 21 de julho de 2016. Keystone

Como a doença não é um problema de saúde pública no Norte Europeu, pode ter a real necessidade de imunização mascarada.

Os assustadores números de vítimas feitos pela febre amarela nos últimos meses no Brasil têm efeito nulo sobre a Suíça. Como a doença não passa de um indivíduo para o outro, como a gripe, e as condições climáticas não são as melhores para a proliferação da doença, o assunto passa discretamente entre os órgãos oficiais. Embora a imprensa local não veicule notícias a respeito-as últimas datam do começo de 2017, quando a situação ainda não era nem de perto parecida com a atual – não pense que você está impune.

Se vai ao Brasil de férias, há risco. O último balançoLink externo do Ministério da Saúde sobre a situação da febre amarelaLink externo no país, datado de 17 de fevereiro, informa: as mortes chegaram a 154 e os casos confirmados somaram 464. Além desses, há ainda 487 notificações em investigação.

Embora a epidemia não seja também comentada abertamente pelos órgãos oficiais, o Departamento Federal de Saúde (BAG, na sigla em alemão) informou que está ciente do problemaLink externo, cumprindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Comitê de Peritos em Medicina de Viagem e da Embaixada Suíça no Brasil. A recomendação é a de que os viajantes ao Brasil sejam vacinados até dez dias antes do embarque. De acordo com o Departamento, ainda não foi notificado nenhum caso da doença no país.

Enquete feita por swissinfo.ch em janeiro indica que boa parte da comunidade na Suíça já tomou a vacina, coincidentemente devido a viagens a outros países endêmicos, onde é obrigatória. A enquete, realizada com 30 brasileiros que vivem na Suíça, descobriu que 19 já foram imunizados, nove ainda não tomaram vacina e dois nem sabem se já receberam um dia. Dos nove que não tinham se imunizado por ocasião da pesquisa, três tiveram que correr com a medida por terem deixado para a última hora. Com viagem marcada para o Brasil, levaram susto com os números ou foram expressamente aconselhados por médicos suíços ou familiares. “Meus pais me disseram: nem pense em vir para cá sem antes tomar a vacina!”, conta uma das entrevistadas.

Um dos cariocas que não quis se identificar disse que o médico recomendou incisivamente que a família inteira (o casal e o filho de três anos) fosse vacinada pelo menos dez dias antes do embarque. Com viagem marcada para o dia 16 de março, o brasileiro procurou uma clínica especializada e espera o dia da consulta.

A enquete revelou também que ainda existem muitas dúvidas e até preconceito contra a vacinação.  Assim como quem mora no Brasil, os brasileiros que vivem na Suíça que ainda não tomaram têm dúvidas quanto a real necessidade. Alguns já tomaram, mas não sabem se precisam repetir a dose, outros nunca nem pensaram no assunto e um alega não gostar de vacinas; descobriu que são elaboradas a partir do vírus da doença.

Brasileiros que trabalham em empresas multinacionais relataram terem lido em boletins corporativos avisos sobre a necessidade de vacinação caso necessitem viajar ao país.

Questionado pela swissinfo.ch, o BAG informa que recomenda basicamente apenas uma dose da vacina, seguindo orientações da OMS. “Em casos especiais, no entanto, uma dose adicional pode ser indicada. Isso deve ser esclarecido individualmente com um especialista em viagens e medicina tropical. As condições de entrada específicas do país devem ser levadas em consideração. Portanto, é importante investigar em tempo útil antes de uma viagem planejada de acordo com um médico de viagem”, informa o órgão, por meio de sua assessoria de comunicação.

Embora os noticiários tenham relatado confusão e fila para obter a vacina em várias cidades brasileiras, aqui na Suíça a oferta é ampla e tranquila. Basta marcar uma consulta no médico autorizado, pagar o valor de 47,40 CH mais 50 até 80 CH por cinco minutos de consulta, de acordo com o site Tropenarzt.ch, que pode ser reembolsado de acordo com o seguro saúde individual. (Veja lista de médicos autorizados)

O brasileiro e a febre amarela na Suíça

O fato de a doença não ser comentada no país não significa que o brasileiro deva ignorar a necessidade de se precaver. A dica para você é que não deixe o risco ser mascarado por uma aparente calmaria: se você tem viagem marcada para o Brasil, procure seu médico. 

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Aedes japonicus

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Poderia a Zika se espalhar pela Suíça?

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As autoridades suíças e mundiais repetem a informação em sites especializados. A precaução contra a doença só pode ser feita por meio de vacinação. A revista Beobachter, em julho do ano passado, publicou artigo lembrando aos cidadãos suíços sobre alguns “perigos”Link externo que podem enfrentar ao viajarem para áreas mais quentes do sul. A matéria diz que eles empacotam malas mais de 20 milhões de vezes ao ano para descobrir o mundo e alerta para que não deixem que essas aventuras tenham lembranças ruins, como no caso de trazer uma doença tropical na mala.

De acordo com a pediatra e imunologista Erika Tinoco, no caso dos brasileiros que vivem fora do país, a situação apresenta uma nuance mais complexa: “quem mora no exterior e visita a família nas férias, mas ignora os avisos de vacina, em tese, terá que arcar com a responsabilidade de uma possível doença quando retornar à Suíça. Eu quero dizer com isso é que, como o país não é área de risco e não se fala sobre o problema, há o perigo de um diagnóstico mais tardio, podendo complicar a situação do paciente. Se existe uma vacina segura, com oferta abundante, por que não fazê-la?”, questiona a médica.

A saúde das crianças – Para os pais que temem pela saúde do filho, a médica explica que se bem indicada, faz toda a diferença porque leva a uma proteção muito eficiente. O consenso entre os especialistas é de que o risco médio de complicações causadas pela vacina seja de três a cada 1 milhão de doses aplicadas, ou então 0,3 a cada 100 mil. Para as pessoas às quais a vacina é indicada, não existem chances relevantes de gerar problemas e ela pode ser considerada completamente segura. A febre amarela, entretanto, mata em até 50% dos casos.

Como é feita com base no vírus vivo, tem algumas restrições. Bebês, idosos, pessoas em uso de medicações como corticosteroides, em tratamento com quimioterapia ou imunodeficientes têm restrição em se vacinar. Além disso, como o vírus da vacina é cultivado em ovo, quem tem alergia a ele também precisa ficar atento.

Os bebês alérgicos ao ovo na sua maioria serão vacinados, mas antes precisam passar por avaliação de um alergista pediátrico. Se a reação for considerada leve, a vacina deve ser feita sob supervisão. Se a reação for grave, é preciso rever a necessidade da vacinação e realizar teste de contato antes da aplicação.

Para todas as crianças e, principalmente, para as quais a vacinação está contraindicada, continua valendo a proteção contra a picada do mosquito que transmite o vírus. Nessa idade, e na dose habitual, não será necessária nenhuma outra dose na vida, segundo a recomendação atual das autoridades sanitárias.

Antes dos nove meses, se a mãe for vacinada e amamentar, está tudo certo: o bebê está protegido pelos anticorpos maternos. Se não há essa situação de proteção indireta por meio da mãe, admite-se a vacinação mais precoce – aos seis meses. De acordo com a médica, essa antecipação é recomendada apenas em áreas de risco. “É que nessa idade, aos seis meses, a vacina perde eficiência, sendo menos capaz de conferir proteção. Pode também ser mais perigosa, gerando reações vacinais mais frequentes e graves”, explica. Mesmo que viva na Suíça, para a febre amarela, vale a máxima da precaução.

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