Perspectivas suíças em 10 idiomas

Associação promove entendimento do sistema educacional suíço

Mulher olhando para a câmera
"Existe também pais que não entendem porque o filho não pode cursar um ginásio que lhe garanta a entrada na universidade", explica Giuliana Lamberti. swissinfo.ch

Desconhecimento do sistema escolar do país, desmotivação dos jovens, dificuldade na escolha da carreira e procura por um estágio são alguns dos temas tratados pela S.E.S.J. (as iniciais de "Pais Fortes – Juventude Forte), associação que atende famílias gratuitamente em vários idiomas no cantão e na cidade de Zurique.

“Estudos mostram que a maioria dos jovens têm os pais como principal fonte de apoio e resposta às suas dúvidas”. Com essa frase, Giuliana Lamberti, a criadora e diretora da única associação suíça voltada para o aconselhamento educacional de pais, a S.E.S.JLink externo, mostra a importância de tratar a família como uma unicidade. A citação vai além: confirma a necessidade de participação dos genitores no apoio do aprendizado e no grande desafio que é o de destrinchar as possibilidades educacionais de um complexo e diferente sistema para uma população formada por 25% de migrantes.

Há apenas dois anos à frente da associação, que existe desde 2016, Giuliana sabe por experiência própria da necessidade de ter pais fortalecidos pela informação para apoiar e orientar filhos em momentos-chave de sua vida educacional e até na escolha da profissão. Lamberti trabalhou durante 25 anos no aconselhamento de jovens e sentia que os pais precisavam ser mais envolvidos no processo.

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

swissinfo.ch: Como a senhora teve a ideia de criar a associação?

Giuliana Lamberti: Trabalhei durante 25 anos na área de integração profissional para jovens. Mas me sensibilizava com a preocupação dos pais, que tinham muitas dúvidas, queriam ajudar os filhos e não sabiam como. Partindo do princípio de que mãe e pai são a principal fonte de apoio para esses jovens, tive a ideia, com mais dois colegas, de criar uma associação que os auxiliasse a ajudar os seus. Quando eles estão presentes, a dinâmica melhora.

O nome inclusive descreve o objetivo. Os pais tornam-se fortes para fortalecerem suas crianças. É importante dizer que a S.E.S.J.Link externo é um projeto piloto, desenvolvido para o cantão e cidade de Zurique. Entretanto, recebemos pedidos da Suíça inteira. São muitos pais interessados em apoiar nesse caminho escolar e na escolha da profissão.

swissinfo.ch: E como funciona exatamente o trabalho de vocês?

G.L.: Oferecemos aconselhamento gratuito para as famílias cujos jovens ainda estejam na escola e prestes a ingressar na vida profissional. Os temas passam por problemas como encontrar um trabalho integrado à aprendizagem, conhecidos como “Lehre” em alemão. Muitos querem conhecer mais sobre o sistema educacional suíço. Acontece também de o jovem começar um estudo e não querer mais, se sentir desmotivado. Qual o pai ou mãe não se preocuparia? Atuamos também nesse tipo de caso. Também atuamos quando essa formação profissional, que funciona como um estágio acoplado à escola, é interrompida. Isso acontece, às vezes, e é muito difícil para o jovem e sua família.

Tentamos mostrar as possibilidades que o sistema disponibiliza. Alguns alunos escolhem, por exemplo, determinado curso, mas os pais acham que o jovem tem mais aptidão para outra profissão e aí cria-se um impasse. Aí podemos entrar em cena também.

Existe também pais que não entendem porque o filho não pode cursar um ginásio que lhe garanta a entrada na universidade. Tem criança que tem nota suficiente para galgar esse nível e há jovens que não conseguem. Tudo isso é avaliado e explicado.

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A bicycle mechanic apprentice goes about his work 

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É possível escolher uma carreira aos 15 anos?

Este conteúdo foi publicado em Adolescentes suíços estão geralmente na faixa etária de 15 a 16 anos ao concluir o ensino básico. Porém dois anos antes já precisam iniciar o planejamento profissional. A decisão final ocorre aos 14 anos, o que não facilita para muitos deles a escolha. Vinte por cento dos escolares vão para a escola secundária (chamada ‘gymnasium’…

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Nosso objetivo é fornecer as ferramentas para que esses progenitores possam apoiar esse jovem, que às vezes está tão inseguro. É importante que a família saiba toda a diversidade de opções que existem no cantão de Zurique ou até mesmo no país.

swissinfo.ch: Eu imagino que esse projeto seja essencial para pais migrantes, que não entendem muito sobre o sistema escolar suíço.

G.L.: Claro que pais que não estejam familiarizados com o sistema suíço ou que ainda não falem o alemão terão, provavelmente, menos condições de apoiar os filhos. Mas nós não atendemos somente estrangeiros. Eles são a maioria dos nossos clientes (75%), mas os outros 25% são clientela local mesmo, ou seja, os suíços.

Temos famílias suíças das mais variadas classes sociais que, muitas vezes, não sabem como ajudar o jovem que está em casa. O grau de instrução não é o único fator que conta, mas o conhecimento sobre a carreira que o filho quer escolher também pesa. O sistema é complexo e nem todos sabem como fazer para navegar nesse modelo escolar ou até mesmo como resolver uma situação de desânimo do adolescente com a escola.

swissinfo.ch: Qual o conselho que a Senhora daria aos pais?

G.L.: Intervenha o quanto antes, busque ajuda desde o início, se necessário. Se houver dificuldade em alguma matéria, busque ajuda extra. Faça a criança ler em casa, o futuro profissional começa desde a base.

Preste atenção no seu filho, no que ele gosta de fazer, em suas aptidões. Converse com ele, pergunte sobre suas preferências. Não adianta querer que o adolescente tome uma direção se ele opta por outra coisa totalmente diferente. Já vi casos de jovens que adoravam jardinagem e os pais achavam que deveriam estudar economia. Há pessoas que se divertem com atividades mais dinâmicas, mais práticas, e outras que elegem sentar-se à frente de um computador, que querem realmente estudar.

Eu não acho que todas as crianças devam estudar em uma universidade, o sistema profissional suíço oferece muitas variedades. Mas tampouco sou da opinião de que algumas crianças, por determinada razão, não tenham seu potencial valorizado e não tomem o caminho universitário. Estudos mostram que as desigualdades sociais influenciam nas oportunidades de alguns jovens. Os filhos de pais migrantes e de famílias mais pobres, em geral, não conseguem as melhores colocações.

Dessa maneira, informe-se. A informação e a clareza trazem, além de luz, calma para todos os integrantes daquela família. E quando isso acontece, ficamos felizes por ajudar mais um jovem no caminho da sua vida adulta e trazer mais calma para aquela casa.

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