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25 anos de intercâmbio musical Friburgo-Brasil

Maestro Théo Kapsopulos diante de suas partituras. swissinfo.ch

Em 1979, o maestro suíço, Théophanis Kapsopoulos, visitava Piracicaba, realizando no ano seguinte uma turnê brasileira com a Orquestra de Jovens de Friburgo.

“Foi um choque cultural”, diz o maestro que em 25 anos trouxe mais de 20 solistas brasileiros à Suíça.

À origem desse intercâmbio musical está Ernst Mahle. Em 1976, este compositor que fundou e dirige a Escola de Música de Piracicaba, assistiu, um pouco por acaso, a um concerto da Orquestra de Jovens de Friburgo. Orquestra foi fundada há 34 anos pelo maestro Théophanis (Théo) Kapsopoulos, suíço de origem grega.

É do contato de Mahle com Kapsopoulos que nasceria esse intercâmbio suíço-brasileiro que é quase uma história de amor.

De fato, na ocasião o piracicabano explicou seu trabalho ao maestro suíço, destacando as similitudes do que ambos empreendiam pelos jovens. “Dois meses depois, conta Théo, recebi um pacote de 2 kg de partituras, com obras do compositor”.

O convite que deslancha tudo

Desde então, os incipientes laços bilaterais só iriam fortalecer-se. Tempos depois, Kapsopoulos realizava concerto com obras de Mahle e conheceria o oboísta Luiz Carlos Justi, aluno do compositor, e que também contribuiria para a aproximação de Friburgo com o Brasil.

Quando Justi aperfeiçoava seus conhecimentos musicais na Alemanha, por sugestão de Mahle nascia uma colaboração do oboísta com a Orquestra de Jovens de Friburgo: concertos, turnê… e uma sólida amizade entre Kapsopoulos e Justi.

A partir de então tudo se encadeia nessa colaboração que completa 25 anos.

De fato, foi em 1979 que o maestro suíço participava pela primeira vez da banca julgadora do Concurso de Jovens Instrumentistas de Piracicaba. Théo Kapsopoulos ficaria 3 meses no Brasil, aprendeu português e preparou a turnê de sua orquestra ao País.

Quinze concertos

Na sua estada pôde já sentir um pouco a realidade do mundo musical, pois além da experiência em Piracicaba, regeu um concerto da Orquestra Sinfônica Nacional, no Rio de Janeiro, executando na sala Cecília Meirelles obras de Mahle, uma sinfonia de Beethoven e um concerto de Schumann.

No ano seguinte, Théo Kapsopoulos voltaria a Piracicaba, à frente da própria orquestra.

A Orquestra de Jovens de Friburgo ficaria 5 dias na cidade paulista, e, no período de um mês, faria 15 concertos “mais oficiais” na cidade de S.Paulo, no Rio de Janeiro (apresentando-se na Sala Cecília Meirelles, com o violonista Dagoberto Linhares), e ainda em Minas Gerais.

A esta altura, Théophanis Kapsopoulos já havia conhecido vários músicos brasileiros radicados na suíça: além de Dagoberto, o também violonista Joaquim Freire (filho do ilustre Paulo Freire) e o pianista Ricardo Castro, entre outros.

O choque cultural

Como participava regularmente da banca julgadora de novos talentos na Escola de Música de Piracicaba, o maestro teve ocasião de descobrir jovens solistas que com freqüência convidava à Europa, para participar de um ou outro concerto ou mesmo de uma turnê da Orquestra de Friburgo.

Mais de 20 tiveram essa chance. E alguns voltaram algumas vezes, como Luiz Carlos Justi.

Theophanis Kapsopoulos diz ter sofrido um verdadeiro choque cultural quando de sua primeira estada de três meses ao Brasil, país que acabou lhe revelando “o que a Suíça tinha de bom” e de que não se tinha dado conta.

Sendo de família oriental (grega), Théo afirma que até então sempre teve dificuldade em aceitar a Suíça, terra de adoção, onde chegou com 6 anos de idade: “Cultivava um sentimento de comparação com o calor oriental, e sempre faltava alguma coisa. No Brasil senti essa referencia com o Oriente – o calor humano, sinceridade, alegria de viver, a necessidade de dividir emoções. Bom, é aqui que vou viver”, decidiu.

Papel do Brasil

Refletindo, porém, constatou que estava muito envolvido profissionalmente em Friburgo (com a orquestra que fundara, alunos no Conservatório da cidade), tomando consciência de que “estava mais impregnado da Europa do que pensava”.

O Brasil teve, então, esse papel de revelador: “Com a distância passei a respeitar e a amar a Suíça, e a cidade de Friburgo em particular. O Brasil desvendou os bons lados da vida na Europa”, resume.

Até então, Théophanis já descobrira também que “no Brasil é mais complicado desenvolver um projeto de A a Z, embora o País tenha um lado pioneiro que acorda”.

Não tendo uma tradição musical que pode se tornar um peso, o músico brasileiro tem que experimentar, buscar um senso artístico para suas obras com outros músicos, por exemplo, o que contribui para dar ares novos à musica.

Rapidez

O maestro notou também a agilidade dos músicos brasileiros. No País, mesmo faltando referências, quando se começa a trabalhar reagem logo. Uma experiência que tivera nos Estados Unidos não dera o mesmo resultado.

Diante dessa realidade, Théphanis Kapsopoulos diz ter procurado um equilíbrio entre viver na Suíça e sair regularmente para ter nova inspiração. Em suma, uma maneira diferente de trabalhar, de ser renovar.

Quanto aos contatos com o Brasil, ele acha que tudo se desenvolveu da maneira mais natural possível, ocorrendo o mesmo quando convida solistas brasileiros à Suíça.

“Senti também – conclui – que de maneira muito pessoal que respiro melhor na montanha e no Brasil. Não sei por quê?”

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

A mesma cidade de Friburgo de onde partiram os colonos que fundaram Nova Friburgo em 1818, mantém contatos privilegiados com a cidade paulista de Piracicaba.

Na área da música erudita. Mais de 20 jovens musicistas brasileiros participam do intercâmbio que se estabeleceu entre as duas cidades. Faz 25 anos.

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