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Genebra continua o centro do mundo?

A diplomacia multilateral na era do Covid-19

videoconference à l ONU
Uma conferência internacional para discutir a situação no Afeganistão em novembro de 2020, no Palácio das Nações, sede europeia da ONU em Genebra. UN / Jess Hoffman

Genebra continua a receber delegações que participam de conversações de paz para a solução de conflitos em países como Síria, Líbia e Iêmen. Desde março de 2020, muitas atividades diplomáticas foram transferidas para canais na internet. Como funciona a diplomacia online?

Que impacto a crise sanitária tem sobra a diplomacia global. Que futuro terão centros da diplomacia internacional como Genebra, Viena ou Nova Iorque? São algumas das perguntas frente ao uso intensivo das plataformas digitais também na política internacional.

Uma das principais consequências da crise sanitária é o uso de ferramentas digitais pela maioria das organizações e instituições diplomáticas para contornar as restrições de viagem e distanciamento obrigatório.

Davide Rodogno, especialista em relações internacionais e professor de história no Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais (IHEIDLink externo, na sigla em inglês) em Genebra, ressalta as mudanças. “Os diplomatas são forçados a experimentar novos métodos de trabalho. A digitalização lhes oferece muitas oportunidades que podem ajudar a fortalecer e desenvolver a cooperação internacional, se houver à vontade para isso.”

Vantagens da tecnologia

Essa transição foi possível graças à mobilização de instituições internacionais desde o início da pandemia. “A Organização das Nações Unidas (ONU) em GenebraLink externo foi rápida em reagir à crise desenvolvendo plataformas digitais para serem utilizadas em conferências e discussões à distância”, explica o embaixador Jürg Lauber, chefe da Missão PermanenteLink externo da Suíça junto à ONU em Genebra.

Hoje, delegações estrangeiras participam de discussões e conferências internacionais sem precisar sair dos seus países de origem. Segundo representantes da ONU em Genebra, ela organizou 1.200 conferências internacionais através da internet entre março de 2020 e o final do ano, uma prática que alterou consideravelmente os padrões da diplomacia internacional.

E no entanto, apesar das medidas tomadas, “as organizações internacionais enfrentam grandes dificuldades e problemas técnicos, dentre eles escolher as plataformas digitais apropriadas e encontrar intérpretes como determinam as regras do nosso funcionamento”, diz Jürg Lauber.

E o que se aplica às organizações internacionais sediadas em Genebra, também se aplica às missões diplomáticas, também obrigadas a respeitar as medidas sanitárias tomadas pela Suíça. “Nosso trabalho presencial não foi interrompido, apenas empregamos um número mínimo de funcionários na sede da missão. A maioria de nosso pessoal continua a trabalhar de casa”, acrescenta o diplomata. A missão suíça na ONU representa os interesses e valores do país no órgão e frente às organizações internacionais. Ao mesmo tempo, garante que as necessidades das organizações sejam atendidas.

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Importante para o embaixador suíço é que “as atividades da ONU e outras organizações internacionais não sejam prejudicadas”. Pelo contrário, os órgãos executivos da ONU têm demonstrado flexibilidade, resistência e resistência diante dos impactos diretos e indiretos da pandemia.

Importância dos contatos

Em geral, há um consenso sobre o impacto positivo das ferramentas digitais para o trabalho da diplomacia, mas também da transparência do seu exercício. Além disso, esses instrumentos conferem a ela um caráter mais democrático, em uma área que hoje o controle da opinião pública diminui.

Entretanto, alguns diplomatas, com base em sua experiência, não deixam de apontar os limites dessas ferramentas. Estes são rapidamente alcançados quando se trata de tomar uma decisão de longo prazo ou iniciar conversações entre várias delegações, especialmente em negociações de paz ou no tratamento de crises humanitárias.

“As conversações presenciais eram a melhor forma de reunir as partes em conflito. Um exemplos, para a assinatura dos Acordos de Oslo no início dos anos 1990 foram necessárias pelo menos 15 rodadas de conversações secretas na Noruega com a participação de Israel e da Organização da Liberação da Palestina (OLP)”, lembra Jan Egeland, secretário-geral do Conselho norueguês para Refugiados e ex-assessor especial do Secretário-Geral da ONU para Assuntos Humanitários na Síria.

“Quando era conselheiro para a Síria, encontrei as partes do conflito muitas vezes durante as negociações em Genebra para tentar facilitar a entrega de ajuda humanitária à população civil”, acrescenta o diplomata. “Graças à presença de atores-chave nessas conversações, fizemos progressos no acesso humanitário, em evacuações e na assinatura de acordos locais. O encontro direto das partes beligerantes – ou de seus representantes – é um gesto de grande valor, simbólico, mas que demonstra a boa vontade.

Mudanças continuam

A diplomacia voltará a ser como era antes após a pandemia? Jan Egeland responde à questão. “Provavelmente algumas plataformas como Zoom, Teams (Microsoft) e os webinários (videoconferências com intuito educacional) continuarão a ser utilizados, mas a diplomacia que visa solucionar conflitos não mudará, mas sim continuará a reunir pessoas, com o objetivo de colocá-las juntas à mesa para discutir sobre problemas.”

Em um artigo intitulado “A diplomacia pode funcionar online? Paola Deda, diretora da Divisão de Silvicultura, Terras e Habitação da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (CEE-ONULink externo), faz uma observação semelhante: “A tecnologia digital é muito benéfica para sessões onde a informação é compartilhada e se discute temas de interesse e relevância. Mas ressalta os limites: “Na tomada de decisões a situação muda. Especialmente quando os processos intergovernamentais exigem negociações e intercâmbios entre delegados, as reuniões virtuais não facilitam o trabalho dos diplomatas.”

Jürg Lauber ressalta que as tecnologias de videoconferências não surgiram com a pandemia. “Elas já eram utilizadas no passado para facilitar a participação daqueles que não podiam vir à Genebra. Seu uso se intensificou com pandemia. É claro que isto representa uma grande mudança, mas temos que ter em mente que o trabalho da diplomacia em sua forma mais tradicional continua sendo muito importante e não pode ser substituído pela tecnologia.”

“As tecnologias digitais, como o telefone no passado, não substituirão o trabalho dos diplomatas”, diz o embaixador suíço, completando. “Tampouco substituirão um importante centro da diplomacia multilateral como a Genebra. A cidade continuará sendo o lugar ideal para o trabalho multilateral. A situação não muda, mas a Suíça se empenha em tornar suas experiências acessíveis a outros países.”

É claro que, apesar da experiência dos últimos meses, que mostrou a utilidade das ferramentas digitais na diplomacia e em outros lugares, nada jamais substituirá o contato direto entre as pessoas.

Adaptação: Alexander Thoele

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