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A escolha iminente: comida ou biocombustíveis

Mercado em Lagos, Nigéria: os alimentos básicos na África se tornarão mais escassos?

Para o presidente da multinacional Nestlé a crescente importância da indústria de biocombustíveis pode aguçar a fome no mundo. A mesma reflexão é feita pela ONU.

O governo suíço apóia as energias renováveis como uma forma de frear a extinção das espécies e, sobretudo, reduzir as emissões de CO2, o gás que acelera as mudanças climáticas.

Não se sabe se os biocombustíveis irão se converter no “aliado verde” buscado pela humanidade para reduzir a emissão de gases que provocam o “efeito estufa” e reduzir sua dependência de fontes energéticas não renováveis (petróleo e derivados). Talvez seja mais caro o remédio do que a enfermidade, caso ficar provado que a indústria dos biocombustíveis pode agravar ainda mais o problema da fome que atinge 15% da população mundial.

Neste debate, levantado recentemente pelos dirigentes da multinacional helvética da alimentação, Nestlé, as posições na Suíça se encontram divididas.

Velhos conhecidos

Apesar do termo “biocombustível” nos parecer familiar nos últimos quinze anos, sua história é muito mais antiga.

O engenheiro alemão Rudolf Diesel desenhou, neste sentido, um motor que funcionava à base de óleos vegetais. Já o construtor americano de automóveis Henry Ford fez o mesmo com um veículo que rodava com etanol.

Sem dúvida, no início do século XX os derivados de petróleo eram muito mais abundantes e baratos. Por isso os dois projetos acabaram sendo arquivados. Hoje, as regras do jogo mudaram.

As reservas de petróleo provaram ser finitas e a Europa se comprometeu a reduzir em 5,2% as emissões de gases que provocam o efeito estufa antes de 2012 – levando-se em conta os níveis de 1990 – para reduzir o impacto das mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas.

A Suíça foi mais adiante e se propôs a eliminar 10% das mesmas emissões antes de 2012. Neste sentido, os biocombustíveis foram vistos desde o princípio como uma solução viável e pragmática.

Primeiro, por serem renováveis e, por conseqüência, inesgotáveis. Segundo, pois as plantas são capazes de absorver com relativa facilidade o dióxido de carbono. Atualmente, de acordo com os dados da Alcosuisse – a principal empresa produtora de etanol na Suíça – os três biocombustíveis mais consumidos em solo helvético são biogás, etanol e biodiesel.

Vozes a favor

O governo suíço está a favor dos biocombustíveis. Sua produção recebe subvenções públicas para que seja acessível ao orçamento da maioria dos consumidores. A meta é reduzir a emissão de gases em 250 mil toneladas anuais.

A cruzada do governo helvético teve como ponto culminante o ano de 2004, quando o Ministério das Finanças apoiou a União dos Agricultores Suíços no deslanche do projeto “Alcosuisse” e ao promover a criação da cooperativa “Eco Energie Etoy”, sediada no cantão de Vaud (região oeste da Suíça), que produz biodiesel a partir da colza. Os representantes oficiais também bateram em portas no exterior para garantir um folgado aprovisionamento de biocombustíveis durante os próximos 10 anos.

O mais importante: em fevereiro de 2007, a ministra suíça da Economia fez sua primeira visita oficial ao Brasil. No encontro com o presidente Luís Inácio Lula da Silva, Doris Leuthard, assinou um acordo de importação de bioetanol fabricado a partir da cana-de-açúcar.

De acordo com Leuthard, este biocombustível permitirá aos suíços substituir até 30% do consumo de gasolina tradicional antes de 2012, uma forma de comprometer-se com o meio-ambiente.

Comida ou biocombustíveis

Na procura acirrada por fontes alternativas de energia não existe um verdadeiro consenso na Suíça. A prova: no domingo passado (23.3), o presidente da Nestlé, Peter Brabeck, afirmou durante uma entrevista dada ao jornal dominical “NZZ am Sonntag” que “biocombustíveis colocam em risco o abastecimento de alimentos para a população mundial”.

Na opinião do presidente da multinacional, se 20% do consumo mundial do petróleo for coberto por biocombustíveis não sobrará mais o que comer dentro de poucos anos.

“A decisão de alguns governos de subvencionar a produção dos biocombustíveis é inaceitável e moralmente irresponsável”, acrescentou. Ele citou um exemplo: “A produção de um litro de bioetanol exige o consumo de quatro mil litros de água”, e acrescenta, “De forma geral, os biocombustíveis fizeram disparar os preços de produtos agrícolas como o milho, soja ou trigo”.

A posição da Nestlé responde a seus interesses, porém ela não é a única que defende essa posição crítica.

Cifras da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) de dezembro de 2007, mostram que, no ano passado, os preços dos alimentos básicos nos mercados internacionais tiveram um aumento médio de 40%. As reservas mundiais de cereais também estão no seu nível mais baixo das últimas três décadas.

O suíço Jean Ziegler, relator da ONU para a Alimentação, também declarou publicamente suas reflexões. Segundo sua visão, o frenesi com a qual o Brasil fabrica etanol coloca em risco o meio-ambiente e também a segurança alimentar da sua própria população.

“Quem deve morrer de fome para que a Europa consiga que os biocombustíveis substituam 10% da massa de carburantes consumidos em 2020? Produzir um tanque de 50 litros de combustível para um automóvel exige 352 quilos de milho, um produto básico na alimentação das populações na Zâmbia ou no México”, declara Ziegler.

A pergunta ainda aguarda sua resposta

swissinfo, Andrea Ornelas

Os três principais biocombustíveis empregados na Suíça são:

Biogás: produzido a partir da fermentação de vegetais e sobras de madeira. Utiliza-se como combustível para automóveis.

Bioetanol: extraído da cana-de-açúcar. Pode ser utilizado como carburante ou aditivo na gasolina e no diesel.

Biodiesel: elaborado a partir de azeites vegetais (colza); substitui o diesel tradicional.

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) solicitará em abril o aporte de 500 milhões de dólares aos países industrializados para evitar o racionamento da ajuda alimentícia que recebem 73 milhões de pobres no mundo.

Esse subsídio extraordinário se explica pelo encarecimento geral de cereais e outros alimentos básicos nos mercados mundiais.

Os principais produtores de bioetanol no mundo são Brasil (45%), EUA (44%), China (6%), União Européia (3%), Índia (1%), outros países (1%).
Os de biodiesel são: Alemanha (63%), França (17%), EUA (10%), Itália (7%) e Áustria (3%).

O termo Mudança do Clima, Alterações climáticas ou Mudanças Climáticas refere-se à variação do clima global ou dos climas regionais da Terra ao longo do tempo. Estas variações dizem respeito a mudanças de temperatura, precipitação, nebulosidade e outros fenômenos climáticos em relação às médias históricas. Tais variações podem alterar as características climáticas de uma maneira a alterar sua classificação didática. Os tipos de classificação para as regiões climáticas são: Classificação do clima de Köppen, Classificação do clima de Thornthwaite e Classificação do clima de Martonne.

Podem estar em causa mudanças no estado médio da atmosfera em escalas de tempo que vão de décadas até milhões de anos. Estas alterações podem ser causadas por processos internos ao sistema Terra-atmosfera, por forças externas (como, por exemplo, variações na atividade solar) ou, mais recentemente, pelo resultado da atividade humana.

Portanto, entende-se que a mudança climática pode ser tanto um efeito de processos naturais ou decorrentes da ação humana e por isso deve-se ter em mente que tipo de mudança climática se está referindo.

Texto: Wikipédia em português

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