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A fibra pró-européia do ministro que deixa o governo

Último dia para Joseph Deiss no Palácio Federal. Keystone

O ministro da Economia, Joseph Deiss, que deixa hoje (31) o governo, acha que a integração da Suíça à União Européia se faz muito lentamente.

Aos 60 anos de idade, o democrata cristão explica, em entrevista a swissinfo, que os interesses da Suíça seriam melhor defendidos dentro da UE.

swissinfo: No relatório sobre a política européia publicado em junho, o governo defende a via bilateral. O sr. concorda?

Joseph Deiss: Se você analisar o relatório, verá que todas as opções estão abertas. Isso é muito importante porque é difícil saber qual será a situação dentro de 20, 30 ou 50 anos.

Nós conseguimos melhorar nossa integração econômica. Basta pensar nos vinte acordos concluídos: alguns são fundamentais, não somente a liberalização dos mercados mais também a livre circulação das pessoas, por exemplo.

Paralelamente, outros 200 acordos menores foram concluídos com a UE, portanto acho que estamos na boa direção. A questão é de saber se estamos na boa velocidade ou não …

swissinfo: E qual é a resposta a essa questão?

J.D.: A resposta do governo é que só a via bilateral é possível para defender melhor nossos interesses.

Se tenho de responder pessoalmente, acho que a velocidade é muito lenta. A meu ver, nossos interesses seriam melhor defendidos dentro da União Européia.

Todo mundo sabia que eu era favorável à adesão, antes de entrar no governo. Para mim, é importante manter a mesma posição ao deixá-lo, mesmo se devo apoiar a política do governo federal (Conselho Federal).

swissinfo: As sondagens indicam uma forte oposição ao pagamento de 1 bilhão de francos ao fundo de coesão da UE para ajudar os dez novos membros. Foi lançado um referendo e o povo vai votar. O que o sr. tem a dizer aos opositores?

Não temos acordo com a UE sobre esse ponto. O que temos é um protocolo de acordo que define as condições gerais do engajamento suíço junto aos dez novos países membros da UE.

De fato, continuamos a fazer o que fazemos há anos, ou seja, ajudar os países da ex-União Soviética e da ex-Yugoslávia a desenvolver relações econômicas similares às que temos com a Europa Ocidental e com a América do Norte.

A mensagem principal é lembrar que nós também nos beneficiamos do desenvolvimento econômico desses países. Trata-se de um ato de solidariedade como outros países membros da UE para ajudar a realizar esse grande projeto.

swissinfo: Um dia a Suíça será membro da União Européia?

J.D.: Sim.

swissinfo: O projeto de acordo entre a Suíça e os Estados Unidos não deu certo. No lugar, foi criado um fórum para reforçar o comércio e os investimentos. O sr.ficou decepcionado?

J.D.: Eu lamento que não pudemos negociar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Contudo, o resultado final é muito positivo. Estou satisfeito que agora temos uma estrutura que permitirá debater questões essenciais de nossas relações ecnômicas bilaterais com os Estados Unidos.

swissinfo: Quais os momentos mais marcantes que o sr. viveu no governo?

J.D.: No âmbito nacional, mencionaria o programa de crescimento econômico, que deu resultados como a boa situação econômica atual. Houve uma clara melhora desde que assumí.

No âmbito internacional, destaco nossa adesão à ONU. Os acordos bilaterais com a União Européia também foram um sucesso. Enfim, citaria o desenvolvimento recente de relações econômicas com a Coréia do Sul e o acordo de união aduaneira com a África Austral.

swissinfo: E o que o sr. lamenta?

J.D.: Eu gostaria que a Suíça – se posso usar uma metáfora do futebol – não participe apenas das Copas do Mundo, mas também ganhe nos pênaltis.

swissinfo: Para marcar pênalits precisa ter vontade de ganhar. Em que setores o sr. acha que a Suíça pode vencer ou, pelo menos, ganhar pontos?

J.D.: A meu ver, nos deveríamos nos concentrar em setores onde jogamos bem. É o caso da Economia e, em particular, nos investimentos diretos no estrangeiro, por exemplo.

De maneira geral, a Suíça precisa ser mais consciente de sua força.

Além disso, acho que poderíamos ser mais ativos no plano político, como fomos, por exemplo, dentro da ONU, para a criação do novo Conselho dos Direitos Humanos.

Eu não compreendo os que pensam que a Suíça deveria se fechar, se isolar e cuidar apenas de seus próprios interesses. Eles se esquecem que hoje, em um mundo globalizado, as coisas se decidem fora do país. Nisso poderíamos progredir.

swissinfo: E agora? Como ex-ministro e professor de economia, várias empresas tentarão aproveitar de seus conhecimentos e de sua rede de contatos…

J.D.: Vamos ver, eu estou aberto.

Entrevista swissinfo: Robert Brookes

Joseph Deiss nasceu em Friburgo, em 1946.
Professor de Economia, ele foi deputado estadual de 1981 a 1991.
Foi prefeito da comuna de Barberêche de 1982 a 1996.
Foi eleito deputado federal em 1991.
Ocupou o cargo de delegado à vigilância dos preços de 1993 a 1996.
Foi eleito para o governo federal (Conselho Federal) em 1999. Antes de assumir o Ministério da Economia, em 2003, ele foi ministro das Relações Exteriores.
Ele deixa o governo dia 31 de julho.

Joseph Deiss surpreendeu o mundo político dia 27 de fevereiro último, ao anunciar sua demissão. Ele explicou que queria ceder seu lugar para alguém de “sangue mais novo”.
Ele será substituído pela presidente do Partido Democrata Cristão (PDC, centro-direita) Doris Leuthard, eleita pelo Parlamento.

Na Suíça, o poder executivo federal é exercido por um colegiado de sete ministros (chamados de conselheiros federais). Eles são eleitos pelo Parlamento, reeleitos de quatro em quatro anos ou, muito raramente, demitidos pelo Parlamento. Em geral, quando querem sair, eles se demitem.

O Parlamento, Câmera e Senado, é eleito de quatro em anos, pelo voto direto.

Em 2003, as eleições parlamentares colocaram em questão a composição da chamada “fórmula mágica”, que vigorava há mais de 40 anos.

Com a vitória nas urnas da União Democrática do Centro (UDC, o mais à direita dos quatro maiores partidos do país), esse partido pode reinvindicar um segundo Ministério, em detrimento do PDC, que passou de dois para uma cadeira.

O Partido Radical e o Partido Socialista continuam com dois Ministérios cada um.

Em outubro próximo haverá novas eleições parlamentares federais.

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