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A guerra em Gaza e a neutralidade suíça

Protesto pacífico em Berna contra a guerra em Gaza. Keystone

O governo suíço é duplamente criticado por sua posição no conflito do Oriente Médio. Israel o acusa de apoiar os palestinos. Berna rebate a acusação.

No próprio país, a esquerda, os verdes e ONGs pedem o fim da cooperação militar suíço-israelense, que estaria ameaçando a neutralidade helvética.

Em entrevista ao jornal SonntagsZeitung, o embaixador israelense em Berna, Ilan Elgar, acusou a Suíça de ter tomado partido contra Israel por seu comportamento no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Junto com mais de 30 países, a Suíça apoiou na semana passada o pedido de uma reunião extraordinária do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a guerra em Gaza.

Elgar disse que a Suíça foi o único país ocidental a apoiar o pedido dos países árabes. “Isso eu considero muito problemático, porque com isso a Suíça toma partido contra Israel. Nós intervimos junto ao Ministério das Relações Exteriores”, disse o embaixador.

Berna rebateu as acusações. “A sessão extraordinária em Genebra foi convocada por 32 dos 47 membros do Conselho de Direitos Humanos, entre eles também Estados como o Chile, o Brasil e a Argentina”, disse o porta-voz do Ministério suíço das Relações Exteriores, Georg Farago.

Ele disse que a reação suíça ao conflito recente no Oriente Médio foi equilibrada. “A Suíça condenou também os disparos de mísseis do Hamas contra o sul de Israel. Do mesmo modo, foi condenada a reação desproporcional do exército israelense”, disse Farago.

Protestos indesejados



Ilan Elgar também lamentou a ocorrência de protestos na Suíça contra a ofensiva militar israelense e os atribuiu, em parte, ao noticiário “não equilibrado” sobre o conflito. No último sábado, cerca de 7 mil pessoas participaram em Berna de um protesto contra a guerra em Gaza.

Segundo o embaixador, as imagens da Faixa de Gaza são “emocionalmente comoventes”, mas se estaria esquecendo que centenas de milhares de israelenses há muito tempo vivem sob o medo por causa dos ataques de mísseis do Hamas. “Contra isso, lamentavelmente até agora não houve manifestações”, disse ao jornal.

Também o representante da Autoridade Palestina em Berna, Anis Al-Kak, foi ouvido pela imprensa suíça no final de semana. Ele disse ao jornal Sonntag, que a Suíça é “um dos poucos países na Europa que se posicionam mais ao lado dos direitos humanos e da Convenção de Genebra”. Segundo ele, a Suíça entende muito bem a situação dos palestinos. “Isso não me supreende. Afinal, a Suíça tem uma longa tradição humanitária”, disse Al-Kak.

Crítica à cooperação militar



Durante o protesto do último sábado, os partidos Verde e Socialista (este último até participa do governo) e várias organizações não governamentais pediram o fim da cooperação militar entre Suíça e Israel. No ano passado, representantes das forças armadas helvéticas estiveram 16 vezes em Israel, em missão secreta.

A Suíça desenvolve material militar junto com Israel. A estatal Ruag desenvolve com know how israelense o “drone Ranger” (avião sem piloto). Em 2005, o exército suíço comprou um sistema de comunicação israelense por 147 milhões de francos. Também o helicóptero Super-Puma e os “drones” ADS 95 Ranger, usados desde 2001 pela aeronáutica helvética, vêm de Israel.

A cooperação na área de desenvolvimento dos drones remonta aos anos de 1990. Além disso, segundo estimativas da ONG Handicap, a Suíça ainda dispõe de um arsenal de 200 mil bombas de fragmentação do tipo M85, produzida numa versão modificada pela Ruag sob licença israelense.

“Um escândalo”



Para o deputado federal Jo Lang, do Partido Verde, a cooperação militar entre Berna e Tel-Aviv é um “enorme escândalo”. Com isso, a Suíça correria o risco de se tornar cúmplice de Israel e de seus ataques à população civil de Gaza e ameaçaria a sua posição de país neutro.

O Ministério suíço da Defesa não vê qualquer problema nessa cooperação, que praticamente tinha sido suspensa em 2002, após uma ofensiva israelense na Cisjordânia, mas foi retomada em 2005.

O governo argumentou na época que a Suíça não vende material militar para Israel. A compra de material bélico não teria influência sobre a opinião do Conselho Federal (Executivo suíço) de que Israel tem de respeitar o direito humanitário internacional. E essa posição não mudou diante do conflito em Gaza.

swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)

Segundo uma pesquisa de opinião publicada pelo jornal SonntagsBlick, 90% dos suíços defendem a criação de um Estado da Palestina.

Ao mesmo tempo, 53% reconhecem o direito de Israel de se defender contra o grupo radical islâmico Hamas; 58% opinaram que a Suíça deveria intermediar o conflito, 36% são contra.

Para a ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, esses números “mostram que a população aprova a política externa da Suíça e sua posição clara em relação a esse conflito”.

Calmy-Rey disse também ao jornal que a situação humanitária em Gaza é “absolutamente catastrófica” e anunciou que um grupo de especialistas suíços viajará à região nos próximos dias para ajudar no abastecimento de água potável.

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