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A humanidade está mais ameçada do que as geleiras

A geleira de Aletsch, nos Alpes berneses, derrete como os outros (MHN).

Enquanto o inverno brando se prolongava na Suíça, o Museu de História Natural de Neuchâtel (MHN) dedica sua nova exposição às geleiras.

Na mesma ocasião, o MNN homenageia seu fundador, o naturalista suíço Louis Agassiz. Ele foi importante nas ciências na Europa e nos Estados Unidos e principal contraditor de Darwin.

Na entrada da exposição, um imponente bloco de gelo derrete ao ar livre. Parente distante das geleiras, ele está lá para lembrar o que ocorre com elas. Mesmo se a fusão é gota a gota, o Museu de História Natural de Neuchâtel não adotou o tom da catástrofe.

“É verdade que fazia 15 graus em Neuchâtel no dia do vernissage, 20 de de janeiro! Mas nosso objetivo é justamente levar os visitantes a tomar uma certa distância do fenômeno do aquecimento”, afirma Christophe Dufour, conservador do MHN.

Intitulada «Aglagla… a idade do gelo», a exposição propõe ver as modificações do clima em escala geológica. É uma maneira de relativizar a alta da temperatura constatada há um século e meio, sem ocultar o papel da atividade humana.

Os gases que provocam o efeito estufa – 7 bilhões de toneladas por ano expelidas na atmosfera – e suas conseqüências sobre o meio ambiente também são mencionadas. Mas a preocupação maior é com a humanidade e não com as geleiras.

“A Terra será novamente sob uma crosta de gelo dentro de algunas dezenas de milhares de anos, isso é certo”, sublinha Christophe Dufour, “mas, entretanto, a humanidade vai passar por maus bocados”.

Agassiz, pioneiro e homem de terreno

É um destino ao qual Louis Agassiz (1807-1873) nunca poderia ter imaginado. Ao propor uma viagem ao mundo das geleiras, o MHN quis homenagear seu fundador.

Zoólogo e paleontologista suíço, Louis Agassiz foi professor em Harvard, nos Estados Unidos, depois de ter feito de Neuchâtel um centro científico mundial. Hoje considerado como o pai das ciências naturais americanas, ele foi um dos últimos zoólogos a não aceitar as teorias evolutivas de Darwin.

Para Agassiz, Deus continuava sendo importante para explicar os seres vivos. Quando ele defende a idéia que os blocos erráticos – rochas graníticas cuja presença na cadeia montanhosa calcária do Jura continua sendo um enigma – ele não afirma que foram transportados pelo delúvio contado na Bíblia, mas pelas geleiras, mas diz que elas agiram como “carroça de Deus”.

Sua teoria da idade glacial, fundada em observações recolhidas a partir de um acampamento instalado na geleira de Unteraar, suscita críticas de seus pares, persuadidos de que as épocas geológicas antigas foram marcadas por um clima mais quente.

Geleiras aumentavam 200 anos atrás

“Nas mudanças climáticas que vivemos atualmente, é interessante lembrar as idéias de Agassiz”, observa Christophe Dufour. “As glaciações e o frio são fenômenos que marcaram a Terra há 3 bilhões de anos, não se pode esquecer.”

Ao percorrer a exposição, que apresenta algumas pranchas tiradas dos “Estudos sobre as Geleiras” de Agassiz e um filme curta-metragem feito em sua memória por um admirador heróico mas fictício, são explicadas as bases da glaciologia moderna.

Forma, cor, situação, extensão, as geleiras são detalhadas em todos os aspectos nos painéis cuja transparência evoca a matéria que as constitui. As instalações lúdicas ao longo do percurso lembram que, 200 anos atrás, as geleiras estavam em extensão.

Completada pelos mamutes

“Quando da Pequena Idade Glacial, entre 1300 e 1850, a angústia coletiva era o frio. Na região de Chamonix, na França vizinha, o avanço das geleiras colocava em perigo certos vilarejos”, precisa Christophe Dufour.

Quanto a Luis XIV, apelidade de Rei Sol, seu reino coincide com um período em que a atividade do sol era inferior de meio grau à que temos atualmente. Daí os invernos muito frios e a fome tristemente célebres.

Ligadas a causas tão diversas como a deriva dos continentes, as irregularidades da órbita terrestre, as corrente oceânicas e as erupções vulcânicas, as variações climáticas sempre influenciaram de maneira decisiva as atividades humanas.

Para aprofundar essa reflexão, o MHN proporá uma exposição complementar a partir de 18 de fevereiro. Concebida pelo Museu de História Natural de Paris – que recebe em troca uma exposição que o MHN fez sobre as moscas, em 2004 – ela é dedicada aos mamutes, últimas vítimas das glaciações que ocorreram há quase 10 mil anos.

swissinfo, Carole Wälti

«aglagla… a idade do geloe»: até 21 de outubro de 2007 no Museu de História Natural de Neuchâtel (MHN)
«No tempo dos mamutes»: de 18 de fevereiro a 16 de setembro de 2007 no MHN.

Na Suíça existem 1.800 geleiras.

Em 2006, a geleira de Aletsch, perto de Berna, perdeu 50 metros de comprimento. Quanto ao lago que se formou perto da geleira do Ródano, ele vai aumentar nos próximos anos.

Segundo o glaciarista Martin Funk, da Politécnica Federal de Zurique, cerca de 20% das geleiras suíças desaparecerão nos próximos dez anos. Ele prevê que todos praticamente desapareção dentro de um século.

Em 2005, das 91 geleiras observadas pelos cientistas, 84 haviam diminuído. No verão de 2005, elas tinham perdido entre 3 a 4% da massa.

O forte verão de 2003 provocou a fusão de 5 a 10% das reservas de gelo dos Alpes.

De 1850 a 1975, as geleiras eternas perderam quase metade do volume.

Dentro de 50 anos, as temperaturas poderão aumentar na Suíça de 2 graus no inverno e de 3 graus no verão.

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