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A problemática integração dos estrangeiros na Suíça

Por Paul Ammann, Natal, Brasil

A integração dos estrangeiros na Suíça é problemática sob dois aspectos: sob o ponto de vista quantitativo, ou seja, pelo elevado número de estrangeiros residentes a serem integrados (20% da população legalmente residente na Suíça é estrangeira) e sob o aspecto qualitativo, isto é, pela complexidade da cultura suíça que os estrangeiros tentam compreender e à qual procuram integrar-se

Em setembro de 2006 uma ampla maioria (68%) do povo suíço aprovou a nova “Lei dos Estrangeiros” que, de um lado, restringe a imigração de estrangeiros e, de outro, prevê uma substancial melhoria da integração dos mesmos.

Por que a integração é necessária?

Em países com um número insignificante de residentes estrangeiros a questão da integração raramente se coloca. É o caso do Brasil onde, conforme o site do Ministério da Justiça, residem apenas 836 mil estrangeiros regulares, ou seja, 0,4% da população total, uma proporção que é 50 vezes inferior à dos estrangeiros regulares na Suíça. Em alguns cantões a participação dos estrangeiros na população residente chega a 28% (Basiléia) ou 38% (Genebra).

Outro fator que recomenda uma integração harmoniosa entre todos os habitantes é a forte densidade demográfica que chega a 180 residentes por km2. Descontando as áreas não habitáveis como as montanhas, geleiras, neves eternas, lagos, rios e as florestas protetoras contra as avalanches, chega-se a uma densidade efetiva elevadíssima.

Mesmo sem descontar as áreas não habitáveis, o cantão de Zurique acumula 711 habitantes por km2 e o cantão de Genebra (não a cidade!) 1.470. A título de comparação, no Brasil, a densidade demográfica média é de 20 habitantes por km2. No Estado mais populoso (São Paulo) ela é de 149 habitantes por km2, muito inferior à densidade média da Suíça. Não há nenhum cantão suíço, nem o mais montanhoso, com tão baixa densidade por km2 quanto a densidade média brasileira.

Como na Suíça o ensino é obrigatório também para crianças estrangeiras, regulares ou não, existem bairros em algumas cidades onde há mais alunos estrangeiros nas escolas do que suíços. Nem todas as famílias suíças gostam dessa desproporção. Elas questionam, como os jovens estrangeiros conseguem integrar-se à civilização suíça quando a maioria dos alunos é de cultura estrangeira. As experiências internacionais mostram que a integração à cultura de uma minoria é penosa.

A exigüidade do espaço físico aliada à forte densidade demográfica pode gerar xenofobia. Essa deve ser evitada através de uma política de integração adequada.

A Suíça é um país complexo, integrar-se é tarefa árdua

Há países nos quais a integração se processa com relativa facilidade. É menos penoso integrar-se a um país de clima quente, habitado por populações alegres e de cultura extrovertida.

Estas nações, geralmente, não precisam aplicar políticas e ações de integração. A Realpolitik destes países é simples: o estrangeiro ou se integra espontaneamente ou deixa o país. Os governos de tais nações não precisam gastar recursos com a integração de estrangeiros.

Mas é trabalhoso integrar-se a um país de clima geográfica e socialmente frio, de cultura introvertida e fechada. No caso da Suíça, além de vencer esta barreira, o estrangeiro tem que aprender uma das quatro línguas oficiais.

Se escolher a língua alemã, precisa dominar também um dos vários dialetos alemães suíços. Quem fala alemão sem o sotaque suíço, é logo identificado como estrangeiro, o que dificulta psicologicamente sua integração. Mesmo a integração através da participação nos esportes nacionais de inverno é problemática. O esqui, por exemplo, é um esporte muito caro, não somente quanto aos equipamentos e à roupa, mas também referente aos teleféricos, com preços inacessíveis à maioria dos imigrantes.

A cultura e a civilização suíças são enraizadas em tradições seculares, de difícil compreensão e aprendizagem para pessoas de culturas não-alpinas, formando, assim, algo como uma barreira em torno da integração dos imigrantes.

SWISSINFO explicou essas barreiras em vários artigos, um com o título “Sociedade” dizendo que “o único fator comum à sociedade suíça é sua extrema diversidade” (10.05.2006) e outro com o subtítulo: “A Suíça não existe”, argumentando, com vários outros autores, que devido a sua enorme variedade de configurações culturais, existem muitas Suíças, e não uma única Suíça (02.04.2003).

Faz-se necessário, portanto, informar e apoiar os estrangeiros na busca do entendimento dessa diversidade e da integração, através de programas específicos.

A política de integração

Tanto o governo suíço, em todos os níveis, quanto as associações privadas e a comunidade em geral empenham enormes esforços para integrar os estrangeiros.

A nova lei dos estrangeiros define a integração como “coexistência das populações suíça e estrangeira baseada na constituição bem como no respeito e na tolerância mútua”. A lei deve “permitir aos estrangeiros legalmente residentes na Suíça participar na vida econômica, social e cultural”. Para tanto, “os estrangeiros devem estar dispostos a integrar-se e os suíços a abrir-se perante os estrangeiros”. Para integrar-se é “necessário familiarizar-se com a sociedade e o modo de vida suíço bem como aprender uma das línguas suíças”.

Os governos federal, cantonal e municipal devem criar condições propícias à igualdade das oportunidades para os estrangeiros e a sua participação na vida pública.

Cabe às administrações públicas promover a aprendizagem da língua e de uma profissão bem como a saúde dos estrangeiros, em particular das crianças e dos adolescentes. O governo federal dispõe de recursos para financiar tais medidas, em cooperação com os governos cantonal e municipal que participam do financiamento.

Para agilizar a integração foi criada, em 1970, a Comissão Federal dos Estrangeiros, composta de 40 membros, sendo a metade de nacionalidade estrangeira. Principal tarefa da Comissão é o acompanhamento da integração em geral e a aprovação de projetos integrantes em particular. A Comissão realiza intensivo trabalho de pesquisa, documentação e divulgação sobre o assunto.

Paul Ammann nasceu em Davos, naturalizado brasileiro, é economista e sociólogo, trabalhou nos Ministérios do Trabalho do Brasil e da Suíça, nas Secretarias de Saúde Pública de Berna e do Rio Grande do Norte, no CNPq e SENAI em Brasília, publicou livros no Brasil e artigos na Suíça e no Brasil.

Sobre os limites da integração, veja: Ammann Safira e Paul. Cidadania, exclusão, integração: Brasileiros na Suíça. Brasília, Liber Livro, 2006, Conclusões.

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