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A típica vaca suíça vive no Chile

Uma das fotografias das vacas de descendência friburguesa. Roger Pasquier

Fotografias e testemunhos recolhidos por Roger Pasquier demonostram que a vaca preta e branca típica de Fribourg ainda existe no Chile. Pasquier viajou para o país em busca de seus familiares que emigraram no início do sécujo XIX. A espécie desapareceu na Suíça há cerca de 30 anos.

A redescoberta provoca interesse na imprensa suíça e a fundação de defesa da flora e fauna suíças Pro Specie Rara quer fazer testes genéticos nas vacas chilenas.

O último exemplar desta vaca originária do cantão de Fribourg foi abatido em 1975. Desde então a espécie e tida como extinta na Suíça. Agora surge uma nova esperança com as fotografias feitas por Roger Pasquier de umas vacas que se parecem muito com as vacas friburguesas.

Além disso, Pasquier recolheu três testemunhas em Punta Arenas, sul do Chile, que afirmam que um descendente de imigrantes suíços – José Davet – importou uma dezena de vacas do vilarejo de Blessens, no cantão de Fribourg, nos anos 30. Posteriormente Davet foi inclusive vice-cônsul da Suíça no Chile.

Roger Pasquier, funcionário aposentado da Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação (DDC), conhece bem a imigração suíça no sul do Chile. Ele é autor do livro “Os friburguenses e seus descendentes na patagônia chilena”, publicado no início deste ano no Chile.

“Constato que os meios de comunicação na Suíça têm mais interesse por essa vaca do que pelos próprios emigrantes”, disse à swissinfo em tom de reclamação.

Um símbolo

Embora surpreso com as reações, Pasquier entende o interesse por sua descoberta.

“Os friburguenses são apegados à tradição e os costumes e se identificam com esse animal; elas subiam as montanhas para passar o verão e era uma festa com a vaca como principal protagonista. Inclusive os que não são agricultores nem pecuaristas têm um vínculo sentimental muito forte com essa tradição”.

Com a industrialização e a mecanização da agricultura, as espécies locais foram desaparecendo a partir da metade do século XIX.

“A raça Holstein, de origem holandesa e grande produtora de leite, substitiu a vaca que era símbolo do cantão de Fribourg”, explica Philippe Ammann, diretor-adjunto de Pro Specie Rara, uma fundação dedicada a preservar a diversidade patrimonial e genética da flora e da fauna na Suíça.

Uma raça parecida

Muita gente não imagina que a vaca friburguesa desapareceu porque a Holstein que a substituiu também é preta e branca. “Em 1975 morreu o último touro, levando consigo uma parte da diversidade animal de nosso país”, afirma Ammann.

Por que isso aconteceu? “Ninguém pensou na extinção de raças antigas, porém todos viram as vantagens das raças novas. Começaram a cruzar a Holstein com a friburguesa e viram que o resultado eram animais maiores e com maior produção de leite. Todos cruzaram essas duas espécies e ninguém pensou em conservar uma pura raça local”.

No entanto, se esta espécie sobreviveu no sul do Chile, estará certa a hipótese de Roger Pasquier. Para comprovar sua origem, a Pro Specie Rara pretende rastrear seus traços da vaca chilena.

“É importante que no início deste projeto possamos dizer que realmente houve essa exportação – que teria ocorrido entre 1926 e 1930 – foi para Punta Arenas. Gostaríamos de documentá-la.”

As pesquisas em arquivos já começaram, por enquanto sem resultado. “Nessa época entre as duas Guerras, os registros são raros em Fribourg”, lamenta Ammann.

Exames genéticos



A etapa seguinte será localizar no Chile onde essas vacas existem e, finalmente, enviar um especialista para colher amostras de sangue que permitam provar o parentesco da vacas chilenas com a extinta vaca de Fribourg.

“Não poderemos comparar os resultados com a referência genética de uma vaca típica de Fribourg, mas sim com a vaca de Simmental, que ainda existe e é muito próxima da raça extinta – porém de cor avermelhada e branca, que antigamente se via no mesmo rebanho”, explica Ammann,

Ao que parece, no sul do Chile também tentaram cruzá-la para obter maior produtividade, mas o resultado não foi bom porque não suportavam o clima rude da Patagônia, ao qual as friburguesas estavam adaptadas.

Isso permite pensar que as vacas chilenas não tiveram misturas genéticas que podem permitir recuperar a vaca perdida dos suíços.

swissinfo, Patricia Islas Züttel

Esta raça se destacava pelo corpo musculoso e sua resistência a condições climáticas rudes.

Robusta e forte, o animal tinha tripla utilidade na agricultura tradicional (produção de leite, carne e para puxar o arado).
A raça holstein, porque produziam mais leite, substituiu a autêntica vaca friburguesa. Os cruzamentos das raças locais com a holstein duplicaram a produção de leite, mas extinguiram várias raças locais.

Em 1940, havia 40 mil vacas friburguesas; em 1946, 25 mil. O último exemplar puro foi o touro Héron, abatido em 1975.

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