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Ackermann teme limites para bancos

O abade Notker Wolf e Josef Ackermann (dir.) durante um debate em 5 de março de 2009, em Lucerna. Keystone

O chefe do Deutsche Bank e suíço mais importante da Alemanha considera necessárias as propostas do G-20 de reforma do mercado financeiro e introdução de regras mais estritas, mas alerta para as consequências negativas: queda de lucros e enfraquecimento das instituições financeiras europeias.

O artigo foi publicado quinta-feira (24/09) na seção de opinião e debate do NZZ, o jornal mais conceituado da Suíça e que acaba de ganhar um design mais moderno para as suas páginas. “O futuro dos bancos depois da crise” é o seu título. Seu autor assina também com o título acadêmico: Dr. Josef Ackermann, chefe do Deutsche Bank, o maior banco alemão, e seguramente o suíço mais conhecido nas terras de Goethe.

Em suma, o banqueiro escreve que regulamentos mais severos impostos pelo Estado aos bancos significam também menos lucros para o mercado financeiro internacional. Frente ao encontro do G20, o grupo dos 20 maiores países desenvolvidos e emergentes, que, segundo a pretensão do governo dos Estados Unidos, deve se tornar o principal fórum econômico mundial, o chefe do Deutsche Bank se mostra resignado. “No setor financeiro devemos abandonar as ilusões. Profundas mudanças irão tornar as regras mais restritas. A vontade política é clara: o setor bancário terá limites mais estreitos.”

Ackermann fala também na condição de chefe da IIF (Instituto Internacional das Finanças), a associação global das instituições financeiras. Ele prenuncia dias menos dourados. “A taxa de lucros globais do setor financeiro será menor. Essas limitações ficam bem claras na exigência de capital próprio: os bancos terão, no futuro, de guardar mais capital e de elevado valor qualitativo.”

Banqueiros vão ganhar menos

Além das exigências de capital próprio, o banqueiro suíço lembra que outras medidas serão implantadas, como a introdução de capital de reserva para manter a estabilidade das instituições em períodos de crise, estratégias mais apuradas de avaliação de risco, sobretudo para os grandes bancos. O corte também será feito no bolso dos funcionários e acionistas. “Para garantir o aumento da base de capital, será limitada a distribuição de dividendos, recompra de ações e pagamentos aos funcionários.”

Na questão do aumento da base de capital, os bancos apóiam de forma geral os esforços realizados pelos membros do G20. Porém o chefe do IFF lembra que as exigências mais rigorosas levarão os bancos a ter menos recursos financeiros para promover o crescimento e a inovação. “Regras cobrando uma base maior de capital próprio significam limites mais estreitos dos ativos do banco (n.r.: conjunto de valores representado pelas aplicações de patrimônio e de capital de uma empresa ou pessoa)”, esclarece Ackermann.

Ele justifica a sua posição. “Como empresa, esperamos que a esperança por maior estabilidade do sistema financeiro corresponda ao preço pago por essas restrições, mas devemos estar cientes do trade-off.” No mercado financeiro, a expressão “trade-off” define uma situação em que há conflito de escolha, ou seja, uma ação econômica que visa à resolução de problema, mas que acarreta outro, obrigando uma escolha.

Essa avaliação é compartilhada por Ackermann com outros especialistas. Eles temem que regras mais estritas para a formação de capital de base nos bancos poderão sobrecarregar as instituições financeiras, se forem introduzidas muito cedo. Estas se recuperam lentamente da crise financeira, sendo que muitos riscos ainda estão abertos. Como tudo indica, existe um consenso no G20 de que as regras irão valer após a crise.

Um alerta à Europa

No seu artigo publicado no NZZ, o chefe do Deutsche Bank também teme que Europa acabe não acompanhando a consolidação do setor bancário. “Nos Estados Unidos surgiram bancos competitivos depois de grandes fusões. Após a recuperação da economia americana, eles também terão um forte papel internacional. Ao mesmo tempo, os bancos chineses fazem parte agora do grupo de bancos líderes no mundo: sua parte na capitalização de mercado dos 25 maiores bancos do mundo passou agora a mais de um quarto – não muito distante do um terço correspondente aos bancos europeus.”

Seu alerta encontra-se nas últimas linhas do texto: “Enquanto os Estados Unidos e a China aproveitam-se da crise para formar instituições financeiras maiores e mais capazes, a Europa corre o risco de chegar tarde demais.” Para Ackermann, será cada vez mais difícil para os bancos europeus atuar internacionalmente.

Alexander Thoele, swissinfo.ch com agências

Josef Meinrad Ackermann nasceu em 7 de fevereiro de 1948 em Mels, no cantão de St. Gallen (leste da Suíça).

Em 1973, ele termina seus estudos em economia bancária na Universidade de St. Gallen.

Em 1977, entra no Credit Suisse, onde sobe os escalões do banco até se tornar diretor, posto que ocupa de 1993 a 1996.

Em 22 de maio de 2002, ele foi nomeado para a presidência do Deutsche Bank, o maior banco alemão. Ele é o primeiro estrangeiro a ocupar essa posição desde a fundação do estabelecimento em 1870.

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