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Acordos com a UE dividem a Suíça

A UDC (direita nacionalista) teme que romenos e búlgaros invadam a Suíça como corvos. Keystone

Enquanto a direita nacionalista faz campanha pelo "não", partidos liberais e entidades empresariais suíças defendem a continuidade e a ampliação dos acordos bilaterais com a União Européia.

A decisão sobre a livre circulação de trabalhadores europeus, que será tomada nas urnas daqui a um mês, envolve um terço dos empregos na Suíça, dizem lobistas.

Um “não” dos eleitores suíços em 8 de fevereiro próximo seria bom para a economia suíça, garante o ex-ministro da Justiça, Christoph Blocher, co-presidente do comitê contra a renovação dos acordos bilaterais da Suíça com a UE e sua ampliação para a Romênia e a Bulgária.

“Na atual situação, é preciso cuidar muito para não fazer uma aventura. Seria uma grande aventura ampliar a livre circulação de pessoas para todos os Estados da UE, nos quais há níveis salariais e de desemprego extremamente diferentes”, argumenta Blocher, ex-presidente da União Democrática de Centro (UDC, direita nacionalista).

O principal partido suíço, que desde o começo deste ano novamente participa do governo, através de Ueli Maurer, ministro da Defesa, Proteção Civil e Esportes, acredita que a renovação do acordo de 1999 – inicialmente limitado a dez anos –representaria um aumento do desemprego e um peso ainda maior para o sistema de previdência social do país.

Na apresentação da campanha do “não”, cujo cartaz mostra três corvos devorando a Suíça, o atual presidente da UDC, Toni Brunner, usou ainda outro argumento. “Devido à livre circulação, quem quiser pode ingressar na Suíça e desenvolver sua energia criminosa”, disse, referindo-se ao suposto aumento da criminalidade entre estrangeiros no país.

Risco de gol contra



A UDC, que defende uma política de imigração restritiva, atualmente está dividida. Enquanto a ala mais direitista prefere fechar as portas do país para estrangeiros, a ala liberal teme que um “não” aos acordos bilaterais isole a Suíça e, a partir dessa situação, o país seja forçado a ingressar de vez na União Européia.

De fato, os acordos da Suíça com a UE contém a chamada “cláusula da gilhotina”. Se um deles for rejeitado, os demais também podem ser anulados pela UE, o que realmente isolaria a Suíça.

Por isso, cerca de um terço da bancada federal da UDC faz campanha pelo “sim”. Essa posição é defendida também pelas grandes entidades empresariais e pela União dos Agricultores Suíços.

“Uma revogação dos acordos teria efeitos devastadores para muitas empresas”, adverte o presidente da Federação das Empresas Suíças (Economiesuisse), Gerold Bührer.

Segundo ele, um terço dos empregos na Suíça depende do comércio com a UE. “Os acordos bilaterais garantem apara além do momento conjuntural difícil um acesso igualitário ao mercado europeu, o que é decisivo diante do aumento da concorrência”, argumenta Bührer.

Para o chamado Comitê Liberal, formado por vários partidos, um “não” seria um gol contra. Graças aos acordos com a UE, teriam sido gerados 200 mil novos empregos na Suíça. Sessenta e dois por cento das exportações suíça destinam-se à UE e 82% das importações helvéticas vêm do bloco europeu.

Cenário de catástrofe



Também a União Suíça de Artes e Ofícios (Usam) conclama ao “sim” em 8 de fevereiro. As pequenas e médias empresas são as principais beneficiadas dos acordos bilaterais, diz o vice-presidente da entidade, Dino Venezia.

Ele qualifica a eventual revogação dos acordos de “cenário catastrófico”. Os membros da entidade constatam que a livre circulação não gerou imigração em massa, dumping salarial ou turismo social, como acusam os adversários.

O presidente da União Patronal Suíça, Rudolf Stämpfli, faz duras críticas ao tom xenófobo da campanha do não. “A livre circulação não tem nada a ver a questão da minoria roma, do turismo criminoso ou do abuso de pedidos de asilo político.”

Um sonoro “sim” aos acordos vem também da União dos Agricultores Suíços. “Um não provocaria graves problemas no mercado de trabalho do campo, porque a produção de verduras, frutas, legumes e vinho seria cada vez mais transferida para o exterior”, adverte.

Balanço positivo



Segundo o Instituto de Pesquisa Conjuntural (KOF) da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETHZ), até o final de 2007, a livre circulação contribuiu para um aumento de 5,5 bilhões de francos do Produto Interno Bruto suíço.

Tanto o consumo privado quanto a renda per capita real teriam aumentado. A livre circulação de mão-de-obra não teve efeitos negativos para o desemprego dos suíços, conclui o instituto, num estudo encomendado pela Economiesuisse. “O desemprego de estrangeiros na Suíça até diminuiu, porque os imigrantes são bem qualificados.”

swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)

O acordo de livre comércio de 1972, aprovado pelos eleitores, criou um espaço comercial e alfandegário comum.

Em 1999, o eleitorado suíço aprovou o Acordo Bilateral I, que regulamenta o tráfego pesado pelos Alpes, a derrubada de barreiras comerciais e a livre circulação de pessoas.

Os Acordos Bilaterais II de 2004, também aprovados nas urnas, regulamentam, entre outras coisas, a cooperação nas áreas de segurança e asilo político de Schengen/Dublin.

Em 2006, o Conselho Federal (Executivo suíço) conclui que os atuais acordos são o melhor caminho para atingir as metas européias da Suíça. O ingresso do país na UE permanece apenas “uma opção de longo prazo”.

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