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Visita aproxima Brasil e Suíça em aviação, energia e transportes

A ministra Doris Leuthard conversa com o vice-presidente Michel Temer, em Brasília Keystone

Uma visita oficial com resultados satisfatórios que, além da assinatura de acordos nos setores de aviação civil e educação, propiciou o início de entendimentos que visam futuros investimentos e parcerias em áreas como energia, transportes e tratamento de resíduos sólidos.

Esse é o balanço feito pela conselheira federal suíça Doris Leuthard sobre os primeiros dias de sua passagem pelo Brasil. Ela teve uma conversa exclusiva com a swissinfo.ch logo após uma maratona que incluiu conversas em Brasília e no Rio de Janeiro com o vice-presidente brasileiro, Michel Temer, com os ministros dos Transportes (César Borges), das Minas e Energia (Édison Lobão) e do Meio Ambiente (Izabella Teixeira), com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e com dirigentes das gigantes do setor energético Petrobras e Eletrobrás.

Ministra do Meio Ambiente, Transporte e Energia (Detec), Doris Leuthard disse ter traçado um panorama dos “desafios energéticos para o Brasil” durante as conversas com Lobão e com as empresas estatais: “Ficou claro que o Brasil quer avançar e que estão sendo feitas discussões sobre hidroeletricidade, assim como na Suíça. Pensamos que aqui pode se desenvolver também a energia fotovoltaica, pois há muito sol. Mas, dissemos ao governo brasileiro que é preciso não importar os painéis para captação de energia solar, e sim produzi-los aqui no Brasil. Na Suíça, nós temos investidores interessados”.

O interesse dos investidores suíços no setor energético brasileiro, segundo a conselheira federal, se estende ao desenvolvimento e aplicação de tecnologias inovadoras no tratamento dos resíduos sólidos: “O Brasil tem alguns aterros sanitários para depositar o lixo que produz, e também depósitos ilegais. Aí também nós temos um interesse muito grande em desenvolver tecnologias a serem aplicadas em centrais de tratamento e captação que transformem o lixo em energia”, disse.

Alvo de críticas na Suíça por supostamente assumir junto aos países emergentes uma posição diferente da que defende em seu próprio país acerca da questão nuclear, Leuthard disse que o assunto não foi o tema principal de suas conversas com os líderes do setor energético brasileiro: “Nós constatamos que o Brasil está em vias de concluir sua terceira central nuclear. Dissemos que, na Suíça, temos cinco, mas não queremos construir novas centrais. Nós queremos mais energias renováveis”.

A possibilidade de parcerias e investimentos conjuntos em infra-estrutura de transportes e mobilidade urbana foi outro tema discutido pelas autoridades suíças e brasileiras. Leuthard está ciente de que a insatisfação da população do Brasil com os preços e serviços praticados no setor esteve na gênese das grandes manifestações de rua que sacudiram o país nas últimas semanas.

“Discutimos essa situação com o vice-presidente Temer, que conhece muito bem o sistema. Se forem feitos investimentos em infra-estrutura, se forem oferecidos mais serviços, mais conexões, mais linhas, o sistema vai melhorar. Não quero interferir na situação brasileira, mas, naturalmente, é preciso diálogo e também investir aquilo que for possível. O ministro confirmou que não houve muito investimento em infra-estrutura no passado, agora é preciso acelerar. Eu penso que isso será muito bom para os cidadãos brasileiros”.

Durante a passagem da ministra Doris Leuthard pelo Brasil, foi assinada pelo embaixador da Suíça no país, Wilhelm Meier, uma declaração de intenção na qual o governo suíço reitera seu apoio ao programa do governo brasileiro “Ciência Sem Fronteiras”, que concede bolsas de estudo para brasileiros no exterior.

Desde que um primeiro acordo foi firmado pelos dois países em 2009, segundo o governo suíço, 22 projetos conjuntos de pesquisa receberam financiamentos que somam 4 milhões de francos suíços. Agora, uma nova chamada pública para projetos deverá ser feita pelo Fundo Nacional Suíço e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil.

Ambiente

Chefe da delegação suíça que esteve no Brasil no ano passado para a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, Doris Leuthard voltou a tratar com a ministra do Meio Ambiente brasileira de temas ambientais, como mudanças climáticas e proteção das florestas e da biodiversidade, em um momento onde o Brasil busca consolidar uma posição de protagonista nas discussões globais: “Eu penso que a sustentabilidade em geral interessa muito ao Brasil. O país tem recursos naturais formidáveis e uma riqueza de biodiversidade enorme. É preciso encontrar o equilíbrio entre crescimento econômico, utilização dos recursos e proteção dos recursos. Discutimos com a ministra Izabella quais são os instrumentos para encontrar esse equilíbrio”.

Segundo a conselheira federal, o Brasil, assim como a Suíça, tem interesse em estimular os mecanismos e modos de produção de uma economia verde: “Na Suíça, nós estamos desenvolvendo uma economia verde. Aqui no Brasil, queremos fazer um diálogo sobre como podemos manter as florestas, mas também aproveitar as florestas. Queremos sempre encontrar esse equilíbrio entre a utilização e o crescimento econômico. O Brasil é um país de dimensões continentais, a Suíça é pequena, mas os instrumentos são os mesmos”, disse.

Acordo aéreo

Doris Leuthard festejou o acordo firmado entre a Suíça e o Brasil no setor de aviação civil. O acordo, assinado pela conselheira federal suíça e pelo secretário brasileiro do setor, Moreira Franco, prevê o fim da cláusula de nacionalidade e, com ela, de todas as restrições relativas ao número de voos semanais, preços e itinerários que eram impostas às companhias aéreas dos dois países. De agora em diante, todas as companhias brasileiras e suíças com licença de operação poderão ligar diretamente os aeroportos dos dois países, de acordo com seus interesses comerciais.

“Eu estou muito contente. Nós assinamos em Brasília um acordo entre o Brasil e a Suíça que dá liberdade ao setor de aviação civil suíço. Isso quer dizer que nossas empresas, assim como as empresas brasileiras na Suíça, não têm mais limitações de voo. Naturalmente, agora cabe às empresas do setor aproveitar, mas o quadro é muito liberal a partir de agora e isso será bom também para o turismo nos dois países”, disse Leuthard.

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