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Água e o abraço de parentes que emigraram: os desejos de uma Venezuela confinada

Uma mulher de máscara e luvas caminha pelo centro de Caracas em 14 de julho de 2020 afp_tickers

Maria Alida quer água corrente; Jesus deseja reencontrar seus alunos; e Natalia, atuar nos palcos enquanto anseia abraçar seus familiares que partiram do país. Três venezuelanos, três desejos em tempos de quarentena e um projeto nas redes sociais.

Na série do fotógrafo venezuelano Diego Vallenilla, publicada no Instagram, mais de 130 pessoas foram retratadas em suas janelas e varandas segurando cartazes escritos à mão nos quais expressavam seus desejos durante o confinamento.

“Uma das coisas que pedem é para você lavar as mãos o tempo todo, mas sem água, não tem como”, disse à AFP o professor de 52 anos em El Cafetal, região de classe média da capital, Caracas.

A pandemia chegou quando a Venezuela já sofria uma grave crise socioeconômica, acompanhada do colapso de serviços básicos, como água e eletricidade. Nesse contexto, segundo Vallenilla, “a vida cotidiana virou um desejo”.

Jesús Piñero, de 26 anos, também sofre com a falta d’água em Petare, a maior comunidade do país.

“O que queremos? DirecTV (empresa de televisão por satélite que deixou a Venezuela com grande comoção devido às sanções financeiras dos Estados Unidos), internet, que não falte eletricidade, que tenhamos água”, listou à AFP. Ele também conta que a região onde vive foi cenário de tiroteios de até seis dias.

Apesar de tudo, o que mais deseja Jesus, um jovem professor de História, é rever os 58 alunos da escola onde trabalha. As aulas presenciais foram suspensas em março e a instabilidade da internet dificulta a realização online das lições.

Enquanto isso, a quarentena surpreendeu Natalia em seu apartamento no abastado setor de Los Palos Grandes. “Quero abraçar as pessoas, tomar um café com meus amigos”, refletiu a atriz de teatro musical ‘Nati’ Román. Em busca de se reinventar em meio aos teatros e cinemas fechados, ela adapta peças para plataformas como o Zoom. “A sala de estar da minha casa se tornou meu palco”, disse à AFP.

Com os voos paralisados, ela não vê a hora de embarcar em um avião para a Argentina e abraçar seus pais e irmãos. Eles estão entre os 5 milhões de venezuelanos que, de acordo com a ONU, deixaram o país desde o fim de 2015.

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