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‘A Venezuela vai sair da penumbra’, promete Guaidó em protesto contra apagão

Venezuelanos opositores protestam contra governo do presidente Nicolás Maduro, enquanto continua um dos piores apagões da história do país, em 12 de março de 2019 afp_tickers

Diante de milhares de venezuelanos, angustiados pela falta d’água e comida por causa de um apagão que dura cinco dias, o líder opositor Juan Guaidó prometeu nesta terça-feira (12) que a Venezuela vai sair “da penumbra” e tomará o poder que, assegura, o presidente Nicolás Maduro “usurpa”.

“Com coragem e com força, peço-lhes que confiem em vocês, que a Venezuela vai sair da penumbra, que o cessar da usurpação está muito próximo”, expressou Guaidó, diante de 2.000 seguidores que se reuniram em uma avenida no leste de Caracas.

Reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, liderados pelos Estados Unidos, o líder parlamentar responsabilizou Maduro pelo apagão monumental que começou na quinta-feira.

“Precisamos de um gabinete para trabalhar, assim muito em breve (…) vamos buscar meu gabinete, que é lá no Miraflores”, declarou, referindo-se ao Palácio presidencial, em meio aos aplausos de seus seguidores.

Ao cair da tarde, sobre uma caminhonete, o opositor de 35 anos fez rápidos discursos em vários pontos de Caracas, onde se concentraram centenas de seguidores.

A crise no fornecimento de energia afeta praticamente todo o país, de 30 milhões de habitantes, começou na quinta-feira passada. O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, garantiu que o serviço foi restabelecido “praticamente em todo o território”, mas ainda há regiões no oeste e no centro da Venezuela sem eletricidade.

– “Estamos fartos dessa tragédia” –

O apagão também afetou a distribuição de comida e água, além do atendimento nos hospitais onde, segundo o líder da oposição, teriam morrido 20 doentes renais por falta de hemodiálise, enquanto a ONG Codevida aponta que foram 15. Já o governo declara que nenhum falecimento foi registrado por conta desse problema.

O governo começou a distribuir comida, água e ajuda aos hospitais.

Devido ao apagão, o fornecimento de água na capital foi interrompido, já que as bombas dos reservatórios estão paradas. Em busca de alternativas de abastecimento, os moradores correram aos supermercados atrás de garrafas ou foram em atrás de outras alternativas improvisadas.

“A situação está muito difícil, esperamos que este governo mude. Já chega deste caos”, garantiu Miguel González, numa praça na zona leste de Caracas, onde os manifestantes faziam um panelaço e um buzinaço.

“Estamos fartos dessa tragédia, Dias sem luz e agora a água”, declarou à AFP Esmeralda Sánchez, batendo numa panela no leste de Caracas.

Na capital, um dos locais improvisados de abastecimento é um duto no poluído rio Guaire, onde centenas de pessoas fizeram filas para encher baldes, bacias e garrafões.

Num país onde há também escassez de moeda em circulação, a falta de eletricidade também afeta aqueles com mais recursos, já que não há como fazer transferências eletrônicas através de smartphones ou máquinas de crédito e débito pois não há energia para carregar esses aparelhos. A saída é recorrer ao pagamento em dólares por comida e água.

Em meio ao caos, saques foram registrados em Maracaibo e isoladamente em Caracas.

“Ouvi uma sinfonia de de disparos. Saquearam uma padaria e depois roubaram pneus em outro local. Mais cedo, vi muita gente numa fila por um quilo de arroz. Há muita tensão”, disse à AFP Alberto Barboza, de 26 anos, morador de Maracaibo.

– Guaidó é acusado de “sabotagem” –

O governo, que afirma que o apagão é fruto de uma sabotagem, encontrou na imprensa mais um culpado pela situação atual: o jornalista Luis Carlos Díaz, que foi detido em Caracas por agentes de inteligência acusado de participação no caso, segundo informações divulgadas pelo família do profissional e o sindicato da categoria.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que enviou uma missão para Caracas para ter “acesso urgente” a Luis Carlos Díaz.

Após uma reunião na segunda-feira com o chanceler Jorge Arreaza, a delegação da ONU se encontrou nesta terça-feira com Guaidó, que presidiu uma sessão no Congresso, controlado pela oposição, sobre a situação dos direitos humanos, que consideraram grave.

Para Maduro, o apagão é resultado de um “ataque cibernético” à hidroelétrica El Guri (na região sul do país) orquestrado pelos Estados Unidos e a oposição, que por sua vez atribui a situação à “negligência e corrupção” do governo. A hidroelétrica encontra-se agora ocupada por militares, constatou a AFP.

A Procuradoria-Geral, controlada pelo Maduro, abriu uma investigação contra Guaidó sobre sua participação na sabotagem.

Por conta da crise, o governo anunciou a prorrogação até esta quarta da suspensão das aulas e da jornada de trabalho, medida adotada há cinco dias.

– Mais sanções –

Classificando a situação no país como “calamidade”, Guaidó decretou na segunda “estado de emergência” nacional por 30 dias, para obter ajuda internacional para a crise, além de solicitar aos militares para que não impeçam as manifestações populares e exigir a “suspensão do envio” de petróleo para Cuba para evitar a escassez de combustível no país.

Mas a aplicação dessa medida é pouco provável, pois Maduro tem o apoio das Forças Armadas e, excluindo o Congresso, controla todas as instituições administrativas.

O governo da Espanha, que apoia a oposição, ofereceu ajuda para solucionar o apagão, estimando que é fruto de um sistema elétrico “muito deteriorado”.

Maduro, que garante que há dois detidos pela “sabotagem”, afirma que por trás da interrupção no fornecimento elétrico se esconde uma estratégia de Guaidó para reativar a entrada da “ajuda humanitária” dos Estados Unidos que fracassou no dia 23 de fevereiro, que seria uma fachada para uma invasão militar norte-americana.

E os Estados Unidos não cessam a pressão. O delegado americano para a Venezuela, Elliot Abrams, advertiu nesta terça-feira que “muito em breve” serão apresentadas “importantes” sanções adicionais contra instituições financeiras vinculadas ao governo de Caracas.

Washington anunciou que, diante da deterioração da situação, está disposto a retirar todos os funcionários que estão na embaixada em Caracas.

Mas o governo venezuelano afirma que pediu a saída dos diplomatas até esta quarta-feira, após o fracasso das negociações para instaurar um diálogo entre as duas nações após a ruptura de relações diplomáticas ordenada por Maduro em janeiro.

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