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‘Argentina do ajuste é história’, diz Fernández em ato com Lula e Mujica

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (E), a vice-presidente argentina, Cristina Kirchner (2ª E) e o ex-presidente uruguaio José Mujica (3º E), ouvem o discurso do presidente argentino, Alberto Fernández (D), durante ato em Buenos Aires, 10 de dezembro de 2021 afp_tickers

O presidente argentino, Alberto Fernández, ratificou nesta sexta-feira (10) que assumirá a dívida do FMI, mas sem aplicar um ajuste fiscal “que comprometa o crescimento” do país, em um ato multitudinário com os ex-presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e uruguaio, José Mujica.

“Nós vamos cumprir as obrigações que outros assumiram, mas no dia em que assumirmos estas obrigações como próprias, não vai ser às custas da saúde pública, da educação pública, do salário ou das aposentadorias. A Argentina do ajuste é história, não há mais possibilidades de que isso ocorra”, disse Fernández diante de milhares de argentinos reunidos na Praça de Maio.

O presidente discursou horas depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitir um comunicado no qual considerou que “houve avanços” na última semana nas reuniões entre as equipes técnicas da Argentina e da entidade, mas que “serão necessárias mais discussões” para se chegar a um acordo de refinanciamento da dívida.

O presidente insistiu em que será tomado “todo o tempo que faltar para garantir que o acordo sirva aos argentinos como país e para que o crescimento não pare”, disse, em alusão ao crescimento de 12,8% do PIB interanual que a Argentina registrou até agosto.

A Argentina, maior devedor do FMI, negocia desde junho do ano passado as condições para refinanciar um empréstimo de 44 bilhões de dólares que o organismo multilateral concedeu em 2018 ao pais sul-americano durante o governo do liberal Mauricio Macri (2015-2019).

“Nós não somos os que não queremos pagar dívidas, tampouco somos os que a tomamos, somos os que temos que nos fazer cargo das dívidas que os sem-vergonha deixam para nós”, afirmou Fernández.

Antes, a vice-presidente, Cristina Kirchner, se disse “um pouco desconfiada” das negociações com o FMI. “O Fundo viveu condicionando a democracia na Argentina”, afirmou a ex-presidente (2007-2015).

“Sei que temos muitas dificuldades, mas diante de grandes adversidades, (são necessárias) grandes ações. Diz-se que faltam dólares à Argentina. Não é que faltem dólares, é que os levaram. Precisamos que o Fundo nos ajude a recuperar bilhões que foram para paraísos fiscais”, afirmou Kirchner.

No palanque montado em frente à Casa Rosada, sede do governo, Alberto Fernández estava acompanhado de Mujica, Lula e Kirchner, que discursaram antes dele pelos 38 anos da recuperação democrática em 1983, após uma sangrenta ditadura (1976-1983), que deixou 30.000 desaparecidos.

Também estavam presentes vários dirigentes de direitos humanos, que mais cedo foram reconhecidos pelo governo com o prêmio Azucena Villaflor, fundadora em 1977 da organização Mães da Praça de Maio, e assassinada durante a ditadura (1976-1983).

– “A melhor democracia” –

Recebido como “amigo” por Fernández e Kirchner, Lula evocou em seu discurso seus anos na Presidência (2003-2010), nos quais “teve a sorte”, disse, de coincidir com os governos de Néstor e Cristina Kirchner na Argentina, de Hugo Chávez na Venezuela; de Evo Morales na Bolívia; de Tabaré Vázquez e ‘Pepe’ Mujica no Uruguai; de Francisco Lugo no Paraguai; de Rafael Correa no Equador; e de Michelle Bachelet e Ricardo Lagos no Chile.

“Estes companheiros progressistas, socialistas, humanistas fizeram parte do melhor momento da democracia da nossa Grande Pátria, da nossa querida América Latina”, afirmou Lula, provável candidato às eleições presidenciais de 2022 e favorito nas pesquisas de intenção de voto.

Tanto Mujica quanto Fernández e Kirchner expressaram o desejo de que Lula volte a ser presidente do Brasil.

“Tenho tido muitas tarefas, mas hoje assumo a tarefa de apresentar o incrível companheiro e amigo Lula, que vai ser o presidente do Brasil”, disse Mujica, após recomendar aos argentinos que “cuidem da democracia” porque “até agora não encontramos um sistema melhor”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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