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Barco de junco vai tentar cruzar Mediterrâneo como no Egito antigo

Membro da tripulação monta o barco de papiro "Arbora IV" em 25 de julho de 2019 em Beloslav, Bulgária afp_tickers

Os egípcios conseguiram cruzar o Mar Mediterrâneo em embarcações de junco até o Mar Negro há 4 mil anos? Para comprovar isto, um grupo de pesquisadores quer se lançar em uma odisseia em um barco similar, construído na Bulgária.

O “Arbora IV”, no formato de “drakkar” (barco viking), montado com esmero por uma equipe internacional em Beloslav, perto de Varna, na costa búlgara, será lançado em breve e começará sua travessia em meados de agosto.

Segundo o pesquisador alemão Dominique Goerlitz, que concebeu o projeto, os egípcios atravessaram o Mediterrâneo até o mar Negro para conseguir o metal necessário para a construção de suas pirâmides.

A hipótese está longe de gerar consenso entre os cientistas, mas está, segundo Goerliz, apoiada em escritos do historiador Heródoto. Sendo assim, “com o Arbora IV, queremos provar que este tipo de comércio era possível desde o fim do Neolítico”, explicou à AFP.

Mas, para isso, precisam de uma embarcação. Construí-la não representa um grande problema para este pesquisador alemão, que já liderou antes projetos similares, inclusive uma tentativa de cruzar o Atlântico em 2007. O “Arbora III” zarpou de Nova York e quase chegou aos Açores, mas adernou em uma tempestade após 56 dias no mar.

Como neste projeto anterior, o pesquisador recorreu à perícia dos aimaras do lago Titicaca, nos Andes bolivianos: Fermin Limachi e seu filho, Yuri, cuja comunidade cultiva até os nossos dias a arte de produzir embarcações e até ilhas artificiais de junco.

O resultado é bastante impressionante: com 14 metros comprimento, o “Arbora IV” parece uma embarcação bastante robusta e relativamente confortável, com duas grandes cabines. Dotada de mastro de madeira, conta com suas velas de linho de 62 e 40 m2.

Foram necessários 2 km de corda para formar feixes com as 12 toneladas de junco utilizadas, informou Fermín Limachi, cujo pai, José, participou em 1970 da aventura do “Ra II”, do norueguês Thor Heyderahl, uma das primeiras tentativas da arqueologia experimental marítima.

Os papiros usados pelos antigos egípcios não crescem mais em quantidade suficiente, razão pela qual o “Arbora IV” foi construído com juncos totora, importadas do lago Titicaca.

– Minicâmaras de ar –

Agora, resta saber se a embarcação conseguirá se esquivar de todos os perigos do mar durante as cerca de 700 milhas náuticas (1.300 km) até Creta, meta da travessia.

“A questão principal é saber se este barco de ‘papiro’ é capaz de resistir ao vento que sopra nas Cíclades e no mar Egeu”, admitiu Goerlitz.

Durante seus primeiros dias na água, os juncos que formam a embarcação vão absorver mais de 5 toneladas de água, o que vai assegurar seu lastro e sua futura estabilidade no mar, destacou o cientista.

Segundo ele, embora a tecnologia possa parecer rudimentar, o barco apresenta uma flutuabilidade incomparável, pois os juncos aportam “bilhões de câmeras de ar e não podem ser romper, nem naufragar de uma vez”.

A tripulação composta por voluntários de oito países contará com meios de comunicação por rádio e satélite, imprescindíveis para evitar qualquer colisão com outras embarcações.

“Seria totalmente arrogante e estúpido prescindir disso”, considerou Goerlitz, para quem “um cargueiro é mais perigoso do que uma tempestade em pleno mar”.

Mark Pales, um eletricista holandês de 42 anos que colabora no projeto como voluntário, assegura que não tem qualquer dúvida sobre a segurança do “Arbora IV”.

“Estou seguro 100% de que nunca vai naufragar”, afirmou. Na pior das hipóteses, “enquanto se mantiver na superfície, servirá de bote salva-vidas”.

Heike Vogel, uma voluntária alemã de 35 anos, mostrou-se impaciente para embarcar. “Será uma experiência muito excitante e inédita para mim”, destacou.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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