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Bolsonaro faz defesa feroz da soberania brasileira na Amazônia

Jair Bolsonaro inaugura a 74ª sessão da Assembleia Geral da ONU afp_tickers

O presidente Jair Bolsonaro fez uma defesa feroz da soberania do Brasil em seu primeiro discurso na ONU, nesta terça-feira (24): ele negou que os incêndios estejam devastando a Amazônia e disse que a maior floresta tropical do mundo não é “um patrimônio mundial”, e sim do país.

“A Amazônia não está sendo devastada nem consumida pelo fogo como diz a imprensa mentirosamente”, assegurou Bolsonaro ao inaugurar a Assembleia Geral das Nações Unidas.

Com reza a tradição, a Assembleia Geral é sempre inaugurada por presidentes brasileiros. O discurso de Bolsonaro durou mais de 30 minutos, o dobro do que costuma ser esperado.

O presidente brasileiro, que assegura haver “uma psicose ambiental” e defende a exploração comercial em áreas de preservação tanto ambiental quanto indígena, denunciou que há governos estrangeiros que se aproveitam de líderes indígenas, como o cacique Raoni, da tribo kayapó, usando-os como “peça de manobra (…) na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.

Sem mencionar diretamente a França, ou seu presidente, Emmanuel Macron, Bolsonaro também acusou os governos estrangeiros de se portarem “de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”.

Macron sugeriu durante a recente cúpula do G7 em Biarritz, na França, que fosse concedido à Amazônia um “status internacional”, uma ideia que levou Bolsonaro a acusar o colega francês de querer restringir a soberania do Brasil.

A ideia de aplicar sanções ao Brasil por não proteger a Amazônia também foi levantada durante a reunião do G7, recordou Bolsonaro.

“Foi uma proposta absurda”, afirmou.

“Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania!”, proclamou, agradecendo ao presidente americano Donald Trump por ter rejeitado a ideia.

– Ataque contra Raoni –

Em sua crítica a Raoni, Bolsonaro leu uma carta assinada pelo Grupo de Agricultores Indígenas do Brasil, que afirma representar várias etnias indígenas brasileiras, e decretou: “Acabou o monopólio da era Raoni”.

O cacique kayapó, indicado ao Nobel da Paz para 2020 e que participou da cúpula da ONU sobre o clima que antecedeu a Assembleia Geral, disse na segunda-feira que o presidente brasileiro “está abrindo a Amazônia para uma série de atores que estão permitindo sua destruição”.

“A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros”, contestou Bolsonaro.

“Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas”, completou.

“O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas. Especialmente das terras mais ricas do mundo”, acrescentou.

Disse ainda que, nas reservas Ianomâmi e Raposa Serra do Sol, existe uma grande abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras, que desperta o interesse estrangeiro.

“Isso demonstra que os que nos atacam não estão preocupados com o ser humano índio, mas sim com as riquezas minerais e a biodiversidade existentes nessas áreas”.

Desde que assumiu o cargo, Bolsonaro é acusado de ameaçar a Amazônia e os povos indígenas em benefício das indústrias de mineração, agricultura e silvicultura, que o apoiaram durante sua campanha.

Enquanto fazia seu discurso, Bolsonaro foi alvo de protestos do lado de fora do prédio da ONU.

Os manifestantes usavam camisetas verdes e exibiam um boneco gigante do presidente, assim como um cartaz com os dizeres “Bolsonaro, uma ameaça à Terra”.

“A Terra está queimando, a Amazônia está queimando, Bolsonaro é um mentiroso!”, gritavam durante os protestos.

O presidente brasileiro, um cético em relação às mudanças climáticas, assegura ao mundo que a situação na Amazônia está sob controle.

Mas o desmatamento dobrou na primeira metade do ano, e os incêndios – causados principalmente por agricultores e por madeireiros – quase triplicaram em agosto em relação ao ano anterior.

– Socialismo combatido –

Bolsonaro dedicou a parte inicial de seu discurso a criticar o socialismo de Cuba e Venezuela, afirmando que essa ideologia está viva e “deve ser combatida”.

“Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo”, que levou o Brasil a “uma situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos”, destacou.

Nesse cenário, afirmou que o Brasil trabalha com os Estados Unidos e com outros países “para que a democracia seja restaurada na Venezuela” e para que o socialismo “nefasto” não domine outros países da América do Sul.

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