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Brasil de Bolsonaro dividido no 55º aniversário do golpe militar

Jair Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão em 28 de março de 2019 em Brasília afp_tickers

Sob o lema “ditadura nunca mais”, manifestações estão previstas, neste domingo (31), em várias cidades brasileiras, no 55º aniversário do golpe militar de 1964, uma data que o presidente Jair Bolsonaro pediu para ser comemorada nos quartéis.

Uma primeira manifestação reuniu cerca de 200 pessoas no final da manhã em Brasília, no Eixão Norte, uma das principais vias da capital, com os manifestantes exibindo cartazes com as fotos de opositores mortos pelo regime que durou 1964 a 1985.

Em outra faixa podia-se ler: “Poderia ter sido uma piada de 1º de abril, mas a ditadura foi real”, em referência à insistência do presidente Bolsonaro em defender este regime.

No Rio de Janeiro, uma passeata sairá na parte da tarde da Cinelândia, no centro da cidade, enquanto, em São Paulo, os manifestantes vão se encontrar no parque do Ibirapuera.

As convocações de manifestações pelos sindicatos e movimentos sociais de direitos humanos se multiplicaram esta semana nas redes sociais, após o anúncio do porta-voz da Presidência pedindo que este aniversário fosse “comemorado como se deve” nos quartéis.

Uma juíza de Brasília decidiu na sexta-feira à noite proibir qualquer comemoração, considerando ser “incompatível com o processo de reconstrução democrática” promovido pela Constituição de 1988, mas outro magistrado, de um tribunal de segudna instância, anulou esta decisão no sábado.

Antes dessas decisões judiciais, vários regimentos já haviam assumido a postura defendida por Bolsonaro, comemorando este aniversário na quinta e sexta-feira com a leitura de uma mensagem do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, para quem os militares impediram “uma escalada em direção ao totalitarismo”.

O Ministério Público Federal havia condenado uma “iniciativa que soa como uma desculpa para a prática de atrocidades”, acrescentando que essas cerimônias são “incompatíveis com o estado democrático de direito”.

Diante da polêmica, o próprio presidente amenizou suas declarações na quinta-feira, dizendo que não se tratava de “comemorar, mas de rememorar” esse episódio da história brasileira.

De acordo com um relatório de 2014 da Comissão Nacional da Verdade, 434 assassinatos foram cometidos durante os 21 anos de regime militar, sem contar as centenas de detenções arbitrárias e casos de tortura de opositores.

Mas, no Brasil, muitas pessoas ainda consideram que a ditadura foi um período de prosperidade onde a ordem prevaleceu, apesar da repressão, mesmo que o “milagre econômico” que contribuiu para o desenvolvimento do país tenha rapidamente perdido força com o choque do petróleo de 1973.

Além disso, ao contrário de seus vizinhos, o Brasil não levou à Justiça os agentes do Estado acusados de cometer crimes durante a ditadura, devido à Lei de Anistia de 1979.

Jair Bolsonaro, de 64 anos, capitão da reserva do Exército, cujo governo inclui oito militares entre os 22 ministros, nunca escondeu sua admiração pelos anos de chumbo.

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