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Brasil se despede com tristeza de homem negro espancado até a morte

Familiares e amigos de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro que morreu após ser espancado por seguranças em um supermercado Carrefour, durante o enterro em Porto Alegre, 21 de novembro de 2020 afp_tickers

A emoção era palpável neste sábado em Porto Alegre durante o funeral de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro que morreu após ser brutalmente espancado por seguranças brancos de um supermercado Carrefour.

“Estou me controlando para não chorar. É muito triste, uma sensação que não desejo para nenhum pai, nenhuma pessoa”, disse à AFP João Batista Rodrigues Freitas, pai de João Alberto, o homem de 40 anos assassinado na quinta-feira à noite, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra.

Na presença de cerca de quarenta pessoas, Beto, como é conhecido, foi enterrado em cerimônia sóbria.

Sobre o caixão foi colocada uma bandeira azul de seu time favorito, o São José, da terceira divisão, do qual era um torcedor fanático.

“Eu espero agora que se aproveite toda a manifestação para que a sociedade possa melhorar, e que os princípios da igualdade partissem dos bancos escolares”, completou o pai.

O caso foi registrado em um vídeo que comoveu o país. Nas imagens é possível ver João Alberto sendo espancado por um segurança no estacionamento do supermercado enquanto outro funcionário o segura.

De acordo com os primeiros elementos da investigação, o homem foi brutalmente espancado durante mais de cinco minutos antes de ser imobilizado por seus agressores e morrer asfixiado.

– Nova manifestação –

Neste sábado, no início de seu discurso na cúpula virtual do G20, o presidente Jair Bolsonaro voltou a ignorar os graves problemas de racismo estrutural na sociedade brasileira. Mais da metade dos 212 milhões de habitantes do país se declaram negros ou pardos.

Bolsonaro enfatizou que “a miscigenação foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo” e criticou “os que querem destruí-la e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças”.

“Como homem e como presidente, enxergo todos com as mesmas cores: verde e amarelo!”, completou, reafirmando os comentários publicados no Twitter na véspera, quando afirmou ser “daltônico”.

O vice-presidente Hamilton Mourão também causou polêmica na sexta-feira ao afirmar que “não há racismo no Brasil”.

“Sabemos que o caminho para conscientizar é muito difícil, porque infelizmente os inimigos do combate ao racismo estão no poder hoje”, disse à AFP Matheus Gomes, vereador eleito pelo PSOL em Porto Alegre e presente durante o enterro de João Alberto.

Na sexta-feira à noite, centenas de pessoas protestaram diante de supermercados Carrefour em Porto Alegre e em outras cidades do Brasil.

Dezenas de pessoas protestaram neste sábado em frente a uma loja de rede francesa em Recife. Os manifestantes se reuniram na filial do bairro nobre de Boa Viagem, onde pintaram mensagens pedindo justiça pela morte de João Alberto.

A polícia interviu com bombas de gás lacrimogêneo quando os manifestantes tentaram invadir o local.

Uma manifestante negra foi presa e libertada logo em seguida, de acordo com Vinícius Castello, vereador da cidade de Olinda pelo PT e membro da Comissão de Valores Raciais da Ordem dos Advogados do Brasil no estado de Pernambuco.

O piloto britânico de Fórmula 1 Lewis Hamilton, sete vezes campeão mundial e fortemente envolvido no movimento ‘Black Lives Matter’, que surgiu após a morte de George Floyd nos Estados Unidos, afirmou estar “devastado” pela notícia de “uma nova vida negra perdida”.

“Isso continua acontecendo e temos que lutar para impedir que isso aconteça”, escreveu o piloto neste sábado em mensagem no Instagram ilustrada com uma foto da manifestação de sexta-feira em Porto Alegre.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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