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Brasil teve recorde de homicídios em 2017 com jovens negros entre as principais vítimas

O Brasil registrou em 2017 um recorde de assassinatos, que teve como principais vítimas jovens negros e que pode se agravar com a flexibilização do controle de armas decretada pelo governo de Jair Bolsonaro afp_tickers
Este conteúdo foi publicado em 05. junho 2019 - 23:00 minutos
(AFP)

O Brasil registrou em 2017 um recorde de assassinatos, que teve como principais vítimas jovens negros e que pode se agravar com a flexibilização do controle de armas decretada pelo governo de Jair Bolsonaro, revela um relatório publicado nesta quarta-feira.

No total, 65.602 pessoas foram assassinadas em 2017, média de 31,6 homicídios por cada 100 mil habitantes, segundo o "Atlas da violência" realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), baseado em dados do Ministério da Saúde.

O aumento do número anual de assassinatos foi de 36,1% a partir de 2007 e de 4,9% entre 2016 e 2017.

- O risco de ser jovem e negro -

"Homem jovem, solteiro, negro, com até sete anos de estudo e que esteja na rua nos meses mais quentes do ano entre 18h e 22h". Este é o perfil dos indivíduos com mais probabilidade de morte violenta intencional no Brasil, segundo o IPEA.

O Instituto destaca que 59,1% das mortes de jovens com entre 15 e 19 anos é provocada por assassinatos.

"Estamos matando a nossa juventude", alertou o coordenador do relatório, Daniel Cerqueira.

De 2007 a 2017, a taxa de negros vítimas de homicídios cresceu 33,1%, contra 3,3% entre os brancos. Dos 65.620 assassinatos registrados em 2017, 75% correspondiam a negros ou pardos.

"Um dos grandes elementos que acho que caracteriza a sociedade brasileira é o racismo. A gente não pode negar isso. Somos um país que convive há mais de 350 anos com a escravidão negra e a gente vai olhar os reflexos disso na desigualdade educacional, de oportunidades...", declarou Cerqueira.

O relatório revela que também cresceu o número de mulheres assassinadas: em 2017 foram 4.936, ou treze por dia, sendo 66% negras, o que representa um aumento de 30,7% desde 2007.

O Atlas de 2017 aponta igualmente para um forte crescimento das denúncias de homicídios contra a população LGBTI, que passaram de 5 em 2011 para 193 em 2017.

O custo desta violência galopante é sideral: a soma dos gastos com segurança, indenizações, atendimento médico e outros equivale a 6% do Produto Interno Bruto do Brasil, segundo o IPEA.

- Novas rotas das drogas -

No Norte e no Nordeste a taxa de homicídios atingiu os piores níveis, superando 60/100.000 no Acre e no Alagoas, e 50/100.000 no Pará, Pernambuco e Sergipe.

Isto pode ser atribuído "à guerra entre facções" que disputam novas rotas do tráfico de cocaína, tendo Bolívia e Peru como principais fornecedores, no lugar da Colômbia.

Isto fez com que o Brasil assumisse gradualmente uma posição estratégica para o tráfico de drogas em direção à África e à Europa", destaca o relatório do IPEA.

- Um tiro pela culatra? -

Em 2018 e início de 2019, os números apontam uma queda no número de assassinatos, mas isto pode "estar intrinsicamente ligado a um processo de acomodação dessas escaramuças" entre facções do narcotráfico, "uma vez que economicamente é inviável manter uma guerra de maior intensidade durante anos a fio".

Bolsonaro flexibilizou por decreto a posse e o porte de armas para combater a criminalidade, mas o tiro pode sair pela culatra, adverte o pesquisador do IPEA.

Cerqueira alerta para o risco de que o desmantelamento do Estatuto do Desarmamento de 2003 resulte em uma criminalidade ainda pior e espera que o Supremo Tribunal Federal anule os decretos de Bolsonaro.

O presidente do IPEA, Carlos von Doellinger, declarou que discorda destas conclusões, mas não interferiu na elaboração do relatório, segundo Cerqueira.

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