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Chilenos surpreendem e se inclinam para candidatos da nova geração

Uma urna de votação durante as primárias de 18 de julho de 2021, em Santiago do Chile afp_tickers

Os chilenos surpreenderam e se inclinaram para jovens candidatos que encarnam uma nova geração de políticos nas primárias presidenciais da esquerda e da direita, mostrando que buscam mudanças, mas de forma gradual e moderada, segundo analistas.

Ao contrário do que previam as pesquisas, foram derrotados os candidatos mais tradicionais das coalizões que organizaram primárias neste domingo.

Aos 35 anos – idade mínima para se candidatar à presidência do Chile – Gabriel Boric, deputado do jovem partido político Convergência Social, da esquerdista Frente Ampla, prevaleceu sobre o comunista Daniel Jadue.

Nas primárias da direita, em que disputaram quatro candidatos, também venceu o mais jovem: o independente Sebastián Sichel, 43 anos, que deixou para trás o histórico líder ultraconservador Joaquín Lavín, que buscava sua terceira candidatura e liderava as pesquisas do setor. Os ex-ministros do governo de Sebastián Piñera Mario Desbordes e Ignacio Briones também competiram.

“Ambas são candidaturas que enfatizam uma visão otimista do futuro. Há uma crítica ao passado e uma visão positiva do futuro. Os que perderam tinham uma visão mais do passado, defensiva”, comentou à AFP Juan Pablo Luna, doutor em ciência política e acadêmico da Universidade Católica do Chile.

Prefeito do popular bairro da Recoleta, na zona norte de Santiago, o comunista Jadue liderou por mais de um ano as pesquisas para a corrida presidencial da esquerda para as eleições de 21 de novembro. Mas Boric, formado em direito, conquistou a vitória com 60,43% dos votos, ante 39,57%.

Sichel, por sua vez, obteve 49,08% dos votos, contra 31% de Lavín, que, nas eleições de 1999, disputou o segundo turno contra o socialista Ricardo Lagos (2000-2006).

– Mudança de ciclo –

“É uma mudança de ciclo, marcando a queda lenta dos partidos políticos históricos e tradicionais que ocuparam o espectro político do Chile da transição para a democracia”, disse à AFP Rodrigo Espinoza, coordenador acadêmico da Escola de Ciência Política da Universidade Diego Portales, para explicar o triunfo desses dois jovens políticos.

“Os cidadãos querem mudanças profundas, mas querem que essas mudanças sejam por caminhos democráticos, por meio do diálogo e da construção de maiorias, e isso será mais bem representado por Boric”, apontou Pamela Figueroa, acadêmica da Universidade de Santiago.

Num dia eleitoral bastante calmo, a elevada participação também surpreendeu: 3.143.006 eleitores, a maior convocatória desde que o sistema de primárias foi instituído, em 2013, e que ocorre duas semanas após a eleição da Convenção Constituinte que redigirá a nova Constituição.

A campanha nas primárias da esquerda – em que ficaram de fora tradicionais como o Partido Socialista, Partido Radical ou Partido pela Democracia (PPD) – foi branda, embora na última semana Jadue tenha endurecido o tom contra Boric, que sempre se mostrou mais aberto ao diálogo.

Ex-líder dos protestos estudantis de 2011, Boric tem o desafio de convocar mais eleitores de centro, sem descuidar da esquerda mais radical, que busca aprofundar as mudanças no modelo neoliberal que fizeram o Chile crescer, mas com altos níveis de desigualdade social. “O que temos hoje não é suficiente para vencer em novembro”, reconheceu Boric na noite deste domingo.

Pela esquerda, o Partido Socialista nomeia Paula Narváez, ex-ministra do governo de Michelle Bachelet, enquanto o Partido Democrata Cristão analisa a candidatura da atual presidente do Senado, Yasna Provoste.

Do outro lado, a eleição de Sichel – advogado e ex-ministro de Desenvolvimento Social do governo Piñera – representa “sair da cerca ideológica tradicional da direita. Sair de uma direita conservadora, pensando em uma direita bastante liberal”, segundo Espinoza.

“Sichel não é membro de um partido político, mas tem uma história. Ele teve laços estreitos com o centro e agora, de uma plataforma de centro-direita, foi muito inteligente em dirigir o cerco ideológico e dizer que não é uma divisão da esquerda e da direita, mas sim do novo contra o antigo”, acrescentou.

A extrema direita postularia diretamente o ex-deputado José Antonio Kast no primeiro turno.

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