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China punirá quem realizar manipulações genéticas

O geneticista chinês He Jiankui, em 28 de novembro de 2018 em Hong Kong afp_tickers

A China está preparando sanções contra cientistas que realizarem manipulações genéticas, após o nascimento, no final de 2018, de dois bebês geneticamente modificados, cujas habilidades mentais poderiam, em teoria, ser superiores à média, segundo um estudo.

O geneticista chinês He Jiankui gerou polêmica em novembro de 2018 ao anunciar que havia conseguido alterar o DNA de duas recém-nascidas para torná-las resistentes ao vírus da aids.

Como resposta, uma nova lei publicada na terça-feira prevê classificar como de “alto risco” as manipulações genéticas, com multas de até 100.000 iuanes (13.000 euros).

Um cientista que tiver “rendimentos ilícitos” como resultado de pesquisas não autorizadas receberá uma penalização de entre 10 e 20 vezes o rendimento em questão. Também enfrentará uma suspensão definitiva “se as circunstâncias forem graves”.

As modificações realizadas em embriões com fins reprodutivos são ilegais em muitos países, mas a China não contava com uma lei neste campo. Uma breve regulamentação do Ministério da Saúde, que data de 2003, proíbe a manipulação genética de embriões mas não prevê nenhuma pena para os infratores.

Após o anúncio do nascimento das gêmeas geneticamente modificadas, Pequim sancionou o professor He, que é alvo de uma investigação policial. Suas pesquisas foram suspensas.

Os investigadores afirmaram no mês passado que o cientista, baseado em Shenzhen (sul), “buscava a fama” e havia utilizado seus “próprios fundos” para realizar seu projeto.

“Falsificou documentos de verificação ética” e “evitou deliberadamente qualquer supervisão”, segundo a mesma fonte.

– Supercérebro? –

Um dossiê apresentado em novembro por sua equipe no Registro Nacional de Ensaios Clínicos cita um organismo científico de Shenzhen, financiado por fundos públicos, como financiador do experimento. O organismo em questão desmentiu esta informação.

Os projetos do geneticista chinês consistiram em eliminar no embrião um gene chamado CCR5.

Segundo um estudo realizado nos Estados Unidos, o desaparecimento deste gene poderia ter dado às duas gêmeas um supercérebro.

“Alguns aspectos das funções cognitivas, incluindo a memória de longo prazo, podem ter sido reforçados pela mutação do CCR5 nas gêmeas”, declarou à AFP o neurobiólogo Alcino Silva, que dirigiu o estudo na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

A equipe do professor Silva descobriu em 2016 que o gene estava relacionado com a memória e o aprendizado em ratos.

Seu novo estudo, publicado na semana passada na revista Cell, mostra também que as pessoas nas quais o gene CCR5 está naturalmente ausente se recuperam mais rapidamente de um derrame cerebral.

Miou Zhou, professor da Universidade Ocidental de Ciências da Saúde na Califórnia, confessou à AFP que ficou “surpreso” com o anúncio das manipulações genéticas do professor He, que pode avivar os temores pelo surgimento de um novo tipo de humano superinteligente.

– ‘Muito perigoso’ –

Durante uma cúpula sobre genética no ano passado em Hong Kong, o professor He afirmou que estava ciente do potencial vínculo entre o gene CCR5 e a inteligência, apontado por seus colegas Silva e Zhou dois anos antes.

“Conheço suas pesquisas, isto necessita mais verificações”, declarou em resposta a uma pergunta. “Sou contra as manipulações genéticas para melhorar” as capacidades humanas, afirmou.

O geneticista disse estar “orgulhoso” de suas pesquisas e revelou que havia uma segunda mulher grávida após modificações similares.

Pequim anunciou que esta mulher, assim como os dois bebês, chamados Lulu e Nana, seguiriam sob controle médico.

“Não havia nenhum motivo para fazer estes bebês passarem por um processo médico inédito e potencialmente muito perigoso que pode modificar sua existência”, denunciou o professor Silva.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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